Antes dos jogos do JEC, o prefeito Udo Döhler caminha a pé por pelo menos uma quadra entre os torcedores tricolores até entrar na Arena. Durante o Carnaval, o peemedebista desce do camarote da Prefeitura de Joinville e arrisca, um tanto sem jeito, alguns passos de samba junto às rainhas das escolas que desfilavam pela Beira-rio. Atitude semelhante foi vista durante a apresentação da bateria da Vila Isabel, no Centreventos Cau Hansen, quando Udo circulava entre o público, tirando fotos que invariavelmente viram alvo de comentários em alguma rede social.

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Ou em uma de suas primeiras ações de governo, em que foi até a zona Sul, no loteamento Juquiá, onde colocou os pés na lama e foi conversar com os moradores locais. Em cada um dos momentos citados, era comum jovens abordando o prefeito para tirar fotos, adultos o cumprimentando e trocando algumas palavras.

Cenas como as descritas acima vêm se tornando rotineiras na vida do prefeito e não lembram em nada o cotidiano reservado que o empresário tinha até decidir ser candidato.Não que tenha sido uma mudança repentina.

A transformação da imagem do empresário que esteve à frente dos negócios da família, no comando da Associação Empresarial Joinville (Acij) ou do Hospital Dona Helena ganhou forma na campanha e foi sendo substituída pela do senhor de 70 anos, agora chamado apenas de Udo – a escolha pelo nome de três letras foi da equipe de marketing -, que mesmo tendo tomado decisões impopulares em suas primeiras semanas como prefeito, parece estar aumentando a sua popularidade.

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Além do media training

Mas nem sempre foi assim. Durante a campanha, as críticas sobre a imagem sisuda que carregava eram focos de preocupação de sua equipe, a ponto de ser necessário dar explicações em seu site para desmistificar a ideia de que o então candidato não exigia que as pessoas o chamassem de doutor, tratamento comum nos corredores da Acij. Intensas aulas de media training – que ajudam pessoas públicas a lidar melhor com veículos de comunicação – ainda antes do período eleitoral trataram de dar início à metamorfose da imagem de Udo.

Se as consultorias o ajudaram a ter mais desenvoltura com as câmeras, também contribuíram para que o prefeito ficasse mais à vontade para lidar com as abordagens de desconhecidos que são comuns ao cargo.

A mudança é sentida por quem convive com Udo há anos. Sílvio Klock, que há 27 anos é funcionário da Döhler e há 20 é assessor pessoal de Udo, cita as mudanças de agenda, antes permeadas por reuniões em escritórios e agora repletas de visitas a centros comunitários, postos de saúdes e caminhadas em todos os cantos da cidade.

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No roteiro, as paradas para conversas com moradores e os pedidos para fotos se tornaram uma premissa.

– É uma mudança para nós, que precisamos nos acostumar com o novo ritmo dele, e mais ainda para ele, que agora vem se adaptando a essa nova vida. Mas ele está gostando e aproveitando -, diz.

Rotina que extrapola o marketing

O secretário de Comunicação, Marco Aurélio Braga, conta que a ideia de caminhadas à Arena em dias de jogos do JEC foi uma sugestão feita durante a campanha que Udo resolveu manter depois de eleito. “Não é marketing. Ele incorporou aquilo como uma necessidade de gestão. Nas caminhadas, paradas para fotos e conversas breves, ele está em contato com aquele que o elegeu e tenta tirar dali algo positivo”, comenta.

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A popularidade de ser prefeito surpreende Udo. Apesar de saber que o cargo lhe garante mais exposição, ele enxerga solidariedade ao modelo de gestão que está implantando na Prefeitura ao ser tietado. “É uma situação nova e gostosa. Aprendo a lidar com ela todo dia. Mas vejo como um apoio da população e uma forma de perceber outras dificuldades do povo”, fala.

Novo estilo em construção

Ainda que os primeiros meses de mandatos de líderes do Executivo sejam marcados pela lua de mel com o eleitor, os joinvilenses têm se mostrado mais receptivos ao novo prefeito e suas aparições que pouco lembram à do empresário reservado.

A página de Udo no Facebook é um bom exemplo de como medidas de repercussão pouco populares têm conquistado manifestações de apoio. Um exemplo foi o anúncio nesta semana de que Joinville não sediaria a edição 2013 dos Jogos Abertos de Santa Catarina (JASC). Na quarta-feira, uma postagem na página justificando a decisão teve mais de 500 “curtidas”. Pelo menos 145 pessoas deixaram seus comentários. A maioria elogiava sua atitude.

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Para o cientista político Eduardo Guerini, o momento de Udo não é mais o de mostrar o ar sisudo de antigamente.

– A opinião pública percebe essas mudanças do Udo empresário para o Udo político. Seu estilo está mudando para que seja consolidada a imagem do prefeito, que precisa ser alguém receptivo à população e, ao mesmo tempo, uma referência de liderança forte na cidade. Ele é um empresário bem sucedido que quer ser um prefeito bem sucedido. Uma pedra bruta que está sendo lapidada -, afirma.

*Colaborou Larissa Guerra