Meta. Esta é a palavra que resume a nova gestão da delegacia regional do Norte do Estado. Em entrevista ao jornal “A Notícia“, o delegado Laurito Akira Sato falou sobre as prioridades da segurança pública na região, principalmente em Joinville, que bateu recorde de homicídios no ano passado, com 126 assassinatos.
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As metas têm prazos e são audaciosas. Enquanto não chega o reforço de efetivo tão esperado, a solução é otimizar o trabalho dos policiais modificando escalas de plantão, funções e logística.
Akira reconhece que os 13 homicídios registrados no primeiro mês do ano (segundo levantamento do “AN”) são preocupantes, mas garante que à medida que as novas rotinas forem implementadas, os resultados serão percebidos. A meta estabelecida para a equipe é de reduzir em 30% o número de homicídios.
– Se conseguirmos estagnar o número de homicídios, já é muito bom. A meta é diminuir 30%. É audaciosa, mas vamos buscar – diz.
Para alcançar o objetivo, Akira pretende reestruturar as unidades policiais. A partir de fevereiro, a Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI), no Bucarein, concentrará os boletins de ocorrência no período noturno e nos fins de semana. Os crimes de homicídio serão divididos com os policiais que atuam nas divisões de patrimônio e drogas, na Divisão de Investigação Criminal (DIC).
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As delegacias dos bairros passarão a investigar os crimes de tentativas de homicídio e receberão pelo menos mais um estagiário cada uma para reforçar o atendimento ao público. O delegado não descarta a possibilidade de integrar algumas delegacias para reduzir o custo e unir esforços.
A partir de abril, a delegacia regional onde funciona a Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) não fará mais a confecção de carteiras de identidade. Esta competência será exclusiva do Instituto Geral de Perícias (IGP). As vistorias de veículos também foram terceirizadas por determinação do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
A Notícia – Após ouvir as demandas e necessidades das unidades policiais, o senhor fez um novo planejamento que foi aprovado pela delegacia-geral. Que planejamento é este?
Akira Sato – Vamos começar com a parte administrativa. A confecção de carteiras de identidade, por exemplo, não é uma atribuição da Polícia Civil há muitos anos, mas ela continuava aqui na Ciretran. Fazemos uma média de 120 a 150 atendimentos por dia. O Instituto geral de Perícias (IGP) se reestruturou para atender a essa demanda, inclusive já está atendendo com hora marcada. A partir de abril, não haverá mais esse trabalho na Ciretran. O policial que é supervisor da área e os dez contratados que faziam este serviço ficarão à disposição de outros setores. Se tudo der certo com o nosso convênio de trânsito (com a Prefeitura), vamos conseguir disponibilizar mais um ou dois estagiários para as delegacias. Eles podem fazer o atendimento ao público e boletim de ocorrência. Vamos conseguir esse reforço até o final de janeiro. As vistorias também não são mais feitas pela Ciretran, pois foram terceirizadas para as empresas privadas. Acabou com o problema de fila e demora.
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A Notícia – Como ficam as delegacias?
Akira Sato – Inicialmente, não temos a intenção de fechar as unidades policiais. Então, vamos aproveitar os recursos humanos que temos. Os policiais estão sendo remanejados para fins de expediente e investigação. Os boletins de ocorrência continuarão sendo registrados nas delegacias dos bairros apenas durante o dia, especialmente entre 12 e 19 horas. Durante a noite e aos finais de semana, vamos concentrar o registro de boletins de ocorrência na Delegacia de Proteção à Crianças, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI), que é a unidade mais central. Haverá um reforço de agentes de polícia para que eles façam esse atendimento 24 horas.
A Notícia – E o setor de investigação?
Akira Sato – A prioridade são os homicídios – resolubilidade e consequente prevenção. Temos três unidades especializadas (patrimônio, drogas e homicídios) na Divisão de Investigação Criminal (DIC). Existe a equipe que se dedica exclusivamente aos casos de homicídios, mas os demais também estão fazendo o reforço (o que não acontecia antes). A questão não é sobrecarregar, mas é um plus. Muita coisa se resolve em cartório e diligências, não somente na atividade do investigador. Por exemplo: em vez de (o policial de patrimônio) estar com 20 inquéritos de roubo, ele está com 15 de roubo e cinco de homicídios. A equipe de homicídios vai trabalhar com a carga grande, e as equipes de drogas e patrimônio vão ajudar. Da mesma forma que as delegacias dos bairros passarão a apurar todas as tentativas de homicídio (que até então eram competência exclusiva da DIC).
A Notícia – 2015 terminou com 126 assassinatos e 2016 já começou com 13. É um número preocupante?
Akira Sato – Sim, por isso estamos retomando rotinas. Faz um mês que estou aqui, mas peguei justamente o recesso. As rotinas serão implementadas até fevereiro. Primeiro, nós vamos trabalhar com a frente de repressão por meio das delegacias que vão fazer a tentativa de homicídio. Por exemplo: ?Se eu tentei te matar, eu quero te matar. Fui lá, dei uns tiros e você não morreu. Mas se a polícia não me prender, eu vou te matar?. Isso ocorreu em diversos casos. Se a delegacia que agora vai começar a trabalhar com esses casos apurar a ?tentativa que eu fiz contra você e me prender?, automaticamente ela já preveniu um homicídio. Essa demanda saiu da carga da DIC e deu um fôlego. Então, eles vão atuar de forma direta, mais do que duplicou o número de pessoas envolvidas com os homicídios. Por consequência, haverá mais resolubilidade e prevenção. Temos a meta de atingir um aumento de 100% de resolubilidade em cima do que foi feito no ano passado (em 2015 o índice foi de 24%). Se estagnar o número de homicídios do ano passado, já é muito bom, porque estamos vindo numa crescente de dez anos seguidos. A meta é diminuir 30%. É audaciosa, mas nós vamos buscar. A impunidade é o Judiciário quem vai decidir. Agora, a demanda de apuração somos nós quem vamos criar.
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A Notícia – Então, a sua gestão será focada na redução dos crimes de homicídio.
Akira Sato – Vamos buscar resultados e trabalhar para isso. Não estamos deixando de apurar a parte de patrimônio ou drogas. Mas vamos focar onde está a maior incidência criminal. A prioridade é trabalhar em cima dessas mortes. Pode ter certeza que, havendo vontade, tudo é possível.
A Notícia – Como está o processo de nomeação dos concursados? Dos 768 que seriam chamados, 60 escrivães e 34 psicólogos já foram nomeados no ano passado. Alguma previsão para Joinville? Os aposentados se interessaram pelas 30 vagas disponibilizadas pelo Estado?
Akira Sato – Dos 60 escrivães nomeados, apenas 30 apareceram. Eles já estão fazendo o curso. Pelo menos 10% devem estar chegando até maio em Joinville. A previsão de chamar os demais é até 29 de março e o curso de formação deve ser realizado até final de julho. (Um dia depois da entrevista, o governo do Estado anunciou a prorrogação da nomeação dos novos concursados para 1º de junho). Quantos vêm, ainda não dá para dizer, mas provavelmente 10%. Então, temos uma previsão de que pelo menos 30, 40 ou até mais policiais venham somar esforços. Sobre os aposentados, estão se inscrevendo. Veio meia dúzia, que está esperando tramitar a documentação. Eles vão fazer a parte do atendimento ao público e de expediente.
A Notícia – Entre as promessas do governo do Estado estava a criação de uma delegacia de homicídios em Joinville. A proposta andou?
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Akira Sato – Sim, está na Casa Civil, passou pela fase jurídica e deve estar tramitando para fins de assinatura de decreto. Vamos tirá-los daquela estrutura da DIC (onde funciona atualmente a Divisão de Homicídios) e vamos criar uma estrutura fortalecida, nos moldes da de Florianópolis, não só na questão de logística, mas de recursos humanos. Até porque o homicídio é o medidor de violência no Brasil. A nova delegacia contará com reforço da Academia de Polícia quando chegar. A previsão inicial é de instalá-la na estrutura onde funciona a Delegacia de Trânsito. Os delitos de trânsito continuam sendo apurados pelas delegacias de área ou podem ir para a Central de Polícia. Tudo vai depender dos recursos humanos que vamos disponibilizar. Não tem data prevista ainda. Nunca vamos deixar de apurar uma morte em acidente. Mas hoje, a estrutura para se apurar o crime de trânsito é maior do que a estrutura para se apurar o homicídio doloso.
A Notícia – Como está o efetivo nas outras cidades da região Norte? (Barra Velha, São Francisco, Barra do Sul, Garuva e Itapoá)
Akira Sato – O efetivo está enxuto em todas as unidades, não tem por que esconder isso. Não só na região, mas no Estado. Todos, cada um do seu jeito, estão tentando otimizar da forma mais produtiva possível. Existe todo um planejamento de redistribuição dos policiais e distribuição dos novos policiais que vão se formar. Os policiais novos vêm com gás e motivam os que estão aqui.
A Notícia – Embora o senhor esteja fazendo um planejamento para otimizar o trabalho dos policiais, continuará cobrando por mais efetivo?
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Akira Sato – Reforço é sempre necessário. Nós não estamos pedindo reforço porque queremos dar folga, estamos querendo reforço para produzir mais. Sabemos do potencial dos nossos policiais. Mas, na sua maioria, estão nos trabalhos preliminares de atendimento ao público e boletim de ocorrência. É uma atividade-fim, mas o que resolve é apurar a autoria do crime e é isso que não estamos fazendo por falta de recursos humanos e por um grande número de unidades policiais. Precisamos otimizar o recurso humano, para retirar o máximo de potencial possível.
O QUÊ: registro de boletim de ocorrência no período noturno e aos finais de semana.
ONDE: Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI).
ENDEREÇO: rua Plácido Olímpio de Oliveira, 843 – Bucarein.