Com 10 meses de antecedência e eleições municipais no meio do caminho, os deputados estaduais já articulam nos bastidores a sucessão do atual presidente da Assembleia Legislativa, Gelson Merisio (PSD). A antecipação do debate é marcada por um jogo de xadrez dentro da base governista e pela tentativa de vincular a escolha à próxima indicação de integrante do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

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Na prática, o processo começou logo que Merisio foi eleito, em fevereiro do ano passado. Na época, o PMDB ganhou a vaga de vice-presidente, ocupada por Moacir Sopelsa (PMDB) e apontou que Romildo Titon (PMDB) seria o candidato à sucessão em 2012. O partido não elege o presidente da Assembleia desde 1987, quando Juarez Furtado assumiu o cargo.

– Nós sempre cedemos para outros partido, mesmo quando estávamos com o governo. Sempre cedemos para compor. Agora é a vez do PMDB – afirma Titon.

O quadro permaneceu inalterado até fevereiro deste ano, quando PSDB e PP anunciaram que passariam a atuar em conjunto na Assembleia. Somados, tucanos e pepistas reúnem 11 parlamentares, contra 10 do PMDB. O ato foi visto como uma articulação em prol do nome de Joares Ponticelli (PP) como futuro presidente.

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– O PMDB ficou com o pé atrás quando a gente fechou com o PP. Se deram conta de que a gente tem mais votos que eles – afirma um integrante do bloco.

Com essa igualdade de forças, as atenções se voltaram para o PSD. Com oito votos, o partido do governador Raimundo Colombo decidiria a questão dentro da base governista e obrigaria um dos lados a buscar votos na oposição.

Nessa linha, o peemedebista se agarra à promessa de Colombo de que se esforçaria para garantir a vaga ao PMDB, feita em evento na cidade de Abdon Batista no final do ano passado. Os pepistas contam com a aproximação maior com PSD na própria Assembleia, onde estão sendo costurados os principais acordos entre os dois partidos para as eleições municipais.

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Em meio a esse cenário, surgiu nos bastidores a possibilidade de divisão de mandato entre dois deputados – o que já aconteceu em 2009, com Jorginho Mello (PSDB) e o próprio Merisio. O PMDB é o mais refratário à ideia, que conta com a simpatia de Ponticelli.

– Eu não tenho nada contra a divisão de mandato. O importante é que consigamos manter esse modelo que o Júlio Garcia iniciou e que foi bom para a casa. Quando tem disputa, é um perde-perda, ficam resquícios – afirma o deputado, em referência à sequência de eleições por unanimidade iniciadas em 2005, quando o ex-deputado foi escolhido.

Planejamento estratégico para subir ao poder

Com a disposição de dividir, Ponticelli ganha a simpatia daqueles que vislumbram ocupar a fatia do poder. São citados os nomes dos tucanos Gilmar Knaesel e Dado Cherem e até um peemedebista – o atual vice Sopelsa.

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– Se o Titon mostrar 21 votos, será o presidente da Assembleia. Se não mostrar, o Sopelsa vai dividir o mandato – aposta um deputado.

Sopelsa levantou a discussão sobre divisão de mandato para a última reunião dos peemedebistas, na terça-feira passada. Ele nega que esteja articulando paralelamente a Titon, mas deixa claro que o colega precisa mais do que a indicação da bancada para fazer valer o projeto de ser presidente por dois anos.

– Ninguém falou comigo sobre isso. Minha posição é o compromisso com o deputado Titon. Claro que ele precisa os 21 votos e eu vou ajudar nisso – afirma o peemedebista.

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Em meio a essas discussões, surgiu a possibilidade de vincular a escolha do próximo presidente à indicação do conselheiro que substituiria Salomão Ribas Junior no TCE. Embora exista um acordo na base governista de que a próxima vaga na instituição seria reservada a um deputado tucano, peemedebistas sugeriram que a ratificação do acerto passe pela confirmação dos votos do PSDB no candidato do partido. A sondagem gerou indignação nos dois lados da praça Tancredo Neves, que separa os prédios das instituições.

– Ninguém me procurou e não tenho planos de me aposentar – afirma o conselheiro, que pode continuar no cargo até completar 70 anos, em 2015.

– Foi o maior erro do PMDB até agora. Faz 30 anos que eles não elegem o presidente porque não entendem que essa eleição não é partidária, é de relação pessoal. Nenhum partido tem maioria – afirma um importante deputado governista.

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Longe da discussão, o PT – principal partido da oposição – observa a disputa na base de governo. A intenção dos sete deputados petistas é esperar que um racha entre os aliados possa render frutos. Seja na mesa diretora, seja em parceria para as eleições de 2014.

– O PT está de olho nisso com certo cuidado, porque é uma discussão da base de governo. Ainda não chegou para nós – afirma o líder petista Dirceu Dresch.