Na edição dominical de 6 de maio, o Diário Catarinense publicou reportagem sobre a cidade mais catarinense, com base em números do último Censo do IBGE.

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Pela pesquisa do instituto, Atalanta – situada no Alto do Vale do Itajaí – apresenta um percentual de 99,43% de moradores nascidos em Santa Catarina. O objetivo era celebrar a cidade, mas ao que parece não atingimos esta meta. A prefeitura da cidade e a direção da principal escola do munícipio de 3,3 mil habitantes não gostaram da reportagem. Em correspondência, o prefeito Braz Bilck assim se manifestou:

“Nós, munícipes de Atalanta, nos sentimos desconfortáveis com a notícia publicada em 6 de maio. Os dados históricos condizem com a realidade, mas há alguns tópicos que nos entristeceram, pois fomos tratados como silvícolas, sem contato com a civilização… Aqui estão elencados:

Para chegar ao trabalho, a maioria usa um veículo que tem a cara da cidade: o tobata. Pois bem, não sabemos quantificar quantos tobatas existem em nosso município, mas são um número reduzido. A maioria da população desloca-se de carro ou moto.

Outro ponto diz respeito ao telefone: apenas seis, segundo a notícia, possuem telefonia fixa. Isso é uma inverdade, haja vista que temos uma lista telefônica, e nela encontram-se mais de 170 linhas de telefone fixo, fora os celulares, que praticamente cada cidadão possui um.”

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(Nota do editor: o DC se valeu somente de dados oficiais do IBGE, que apontam seis moradias na cidade com telefone fixo e 863 aparelhos celulares.)

“Quanto à internet, a maioria da população tem acesso, outro erro cometido pela edição da notícia.”

(Nota do editor: segundo o Censo do IBGE, apenas 267 moradias da cidade têm acesso à internet.)

“Feijoada vendida na praça é outro ponto a ser retificado: desconhecemos que haja a venda de feijoada em baldes em nossa cidade. No dia da reportagem, nosso prefeito ofereceu aos funcionários uma deliciosa feijoada em homenagem ao Dia do Trabalhador. Houve algum erro de informação… Se os bares ou restaurantes vendem feijão, o fazem como em qualquer outro lugar, não havendo a necessidade de dizer que carregamos baldes de feijão pela cidade.”

Quando o jornal descreveu Atalanta como uma cidade pequena, onde as pessoas se conhecem e se parecem culturalmente, exibiu imagens de casarios antigos e tobatas e mostrou a venda de feijoada a céu aberto. Em nosso olhar, estávamos descrevendo uma cidade que preserva sua cultura, desenhada por descendentes de alemães e italianos. Um lugar onde se pode viver sem a paranoia dos assaltos, sem medo de ser atropelado. Onde as pessoas trabalham e estudam e, mesmo assim, encontram tempo para a conversa prosaica. Atalanta revelou, em poucos metros quadrados, por que é a cidade mais catarinense do Estado.

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Nossa reportagem, produzida por uma repórter de alto quilate de precisão, se baseou nas estatísticas oficiais, as mais confiáveis do país (IBGE), e por isso lamentamos se a mensagem do jornal deixou dúvidas sobre a real intenção de visitar o município, que era a de homenageá-lo.

No jornalismo, e na vida, muitas vezes a boa intenção não basta. Trago o tema a este espaço dominical para reforçar o conceito do jornal de abrir espaços ao contraditório, mesmo quando não concordamos com ele.

O importante é reforçar o conceito de abrir espaços para o contraditório.