Se tinha uma coisa que aterrorizava a pequena Angela Regina Heinzen nos tempos de escola era falar em público. Aluna de um colégio municipal em Indaial, onde nasceu, ela se destacava nos cálculos que tiravam o sono dos colegas nas aulas de matemática – tanto que acabaria se formando nessa área na UFSC. Mas bastava ser obrigada a abrir a boca diante de uma plateia para a atual candidata do PP à prefeita de Florianópolis travar. Era tão inibida que, quando foi estudar em Blumenau, a mãe a acompanhou para pedir aos professores que não a submetessem a provas orais. A dificuldade foi superada em 1982 em um palanque, ensaiando a vocação para a política que a filha de dona Petronila desenvolveria anos depois.

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Naquela época, Angela militava na coordenação da campanha do marido, Esperidião Amin, ao governo estadual. Durante um comício em Lages, o candidato do partido (então o PDS) ao Executivo local, Paulo Duarte, passou a palavra a ela, alegando que seria muito importante a futura primeira-dama do Estado contar de seu parentesco com D. Daniel Hostin, o bispo da cidade. Surpreendida pela convocação, Angela não teve como recuar. De microfone em punho, disse que o religioso era irmão de sua avó materna e pediu votos para o aliado. Dali para a frente, encarar uma audiência nunca mais seria problema.

– Ao voltar a Indaial para buscar o (filho) João, que tinha dois anos e havia ficado com meus pais lá, minha mãe já estava me esperando no portão: ¿Cansei de ir ao colégio para justificar por que não falavas em público e tu agora fazendo comício!¿ – lembra Angela, aos risos, enquanto toma um expresso no café ao lado de seu comitê, no bairro Itacorubi, no final de tarde de uma terça-feira.

O coffee break é uma rara pausa para relaxar nos últimos dias de uma campanha que começou na manhã de um sábado, 20 de agosto, com uma caminhada no Estreito, na parte continental da Capital. Após o breve intervalo, ela iria gravar programas para o horário eleitoral na TV. A programação vespertina havia se iniciado no alto do Morro da Caixa, no Centro. Esperidião a esperava para a largada, no acesso ao Parque Natural Municipal do Morro da Cruz. Bem-humorado, o deputado confirmou que a esposa continua administrando as contas domésticas, cuidando inclusive do salário e da maioria das despesas dele.

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– Sim, ela que controla o dinheiro da família. Mas anda meio esquecida, faz tempo que não reajusta minha mesada.

O caminho dos dois se cruzou graças a uma aposta. Após se mudar para Florianópolis em 1972 para cursar a universidade, Angela se sustentava como secretária na antiga Escola Superior de Administração e Gerência (Esag, hoje Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas da Udesc), onde o ainda hirsuto Esperidião lecionava. Valendo um jantar, ele confiava no seu Avaí contra o Figueirense do professor Carlos Wolowski Mussi. O rival venceu. O trato seria honrado pelo perdedor no restaurante do hotel Plaza Itapema, na cidade homônima, com a presença de uma funcionária como testemunha. Que, para não ir sozinha, convidou a amiga Angela.

– Chegamos lá, estava fechado. Então fomos para o Frohsinn, em Blumenau. Também fechado. Acabamos comendo mal, em um lugar qualquer. Toda vez que passava na secretaria da Esag ele me convidava para jantar de novo, dizendo que aquele não tinha contado. Um dia, aceitei e fomos para o Plaza Itapema – diz Angela.

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O flerte evoluiu, embora Esperidião não topasse a hipótese de a mulher com quem pretendia se casar trabalhar fora. Mas Angela jamais abriria mão desse direito, até pela educação que tivera desde criança. Quarta dos nove filhos de uma professora e de um tecelão (Pedro, falecido em 2012, aos 89 anos), ela foi criada para ser independente. Aos 12 anos, já ganhava seus trocados bordando roupas para bebês. A firmeza dela em defender a autonomia o levou a não apenas rever seus conceitos como pedir à noiva, àquela altura empregada da Codesc, ajuda na campanha para deputado federal em 1978. A partir dali, a vida pública e Angela – com o Amin do homem com quem se casaria no ano seguinte definitivamente incorporado ao seu RG, acrescido de Helou – andariam sempre lado a lado.

Sua estreia nas urnas foi avassaladora. Ela havia se projetado no primeiro mandato de Esperidião no governo estadual (1983-1987) pela atuação na presidência da Liga de Apoio ao Desenvolvimento Social Catarinense (Ladesc) e à frente do projeto Pró-Criança. Quando o marido concorreu à prefeitura da Capital, em 1988, o nome de Angela Amin surgiu naturalmente como opção para compor uma bancada forte de vereadores do PDS.

– Ele só me perguntou se eu tinha pensado bem. Eu disse: sim, não te preocupa, não vou te atrapalhar. E vou me eleger – diz.

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Recebeu 7.771 votos, recorde em Florianópolis quebrado somente no último 2 de outubro pelos 11.157 obtidos pelo correligionário Pedrão Silvestre (PP). No parlamento municipal, foi contra a licença-maternidade para as colegas, posição que mantém até hoje. No seu entendimento, ¿mandato não é emprego, a vereadora que ficar grávida tem toda a liberdade de se licenciar e dar oportunidade ao suplente¿.

Em 1990, sagrou-se a deputada federal campeã daquela eleição, com quase 130 mil votos. A sequência de vitórias – interrompida apenas pela derrota para o peemedebista Paulo Afonso na disputa para governador, em 1994 – prosseguiu em 1996, com a conquista do mesmo cargo que pleiteia atualmente. Mas, apesar de reeleita em 2000 e apontada por seis anos consecutivos pelo Datafolha como a prefeita mais bem avaliada do país entre nove capitais, não conseguiu fazer seu sucessor. O revés de 2004 é atribuído, principalmente, à implantação do sistema integrado de transporte coletivo na cidade, uma medida que resultou em três terminais inativos pelos quais Angela precisaria se explicar em todas as campanhas seguintes.

– Perdemos essa briga no processo de comunicação. Não soubemos informar a população das mudanças da cidade – acredita.

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Novamente a deputada federal catarinense mais votada em 2006 (174 mil votos), Angela tentaria o governo estadual outra vez em 2010 e seria batida por Raimundo Colombo ainda no primeiro turno. Todo esse tempo ocupando ou disputando cargos públicos cristalizou a imagem de uma mulher mandona, austera, fechada. Quem a conhece na intimidade, porém, garante que isso é só uma de suas características.

– No dia a dia, ela é bem mais divertida do que as pessoas pensam. Confundem seu jeito de cobrar com autoritarismo porque é muito sincera – revela a socióloga Ana Abreu, 53 anos, assessora pessoal de Angela e amiga desde 1997.

A professora aposentada Lucia Batistotti, 69 anos, 38 dos quais convivendo com o casal Amin, corrobora esse traço da personalidade da candidata. Conforme a ex-presidente da Associação Florianopolitana dos Voluntários, ¿com ela não tem meio-termo, é olho no olho¿. A própria Angela admite que demonstra sua satisfação ou contrariedade no olhar, o que pode ser interpretado como transparência pelos aliados ou intransigência pelos adversários:

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– É o meu jeito de ser, tive uma formação germânica.

Fora da política, Angela gosta de relaxar na casa da família na praia de Ponta das Canas, julga-se boa cozinheira (¿minha especialidade é quibe, influência do Esperidião¿) e tem mania de não dormir se houver louça na pia. Os filhos – o administrador e deputado estadual João, a advogada e publicitária Maria e a arquiteta Joana – que o digam: segundo ela, os três adoravam a fase em que a mãe era deputada em Brasília, pois assim podiam ir para a cama sem precisar se preocupar em lavar pratos, copos e talheres.

No rosto, confessa que passa a mesma base da Lancôme há 40 anos. Seu perfume é o Light Blue, da Dolce & Gabanna. Para vestir, prefere jeans e camisa – exatamente as peças que estava usando para descer o Morro da Caixa, ao som do jingle que saía dos alto-falantes de uma Kombi a descrevendo como ¿preparada e experiente¿. Com uma camisa branca modelo mullet da Le Lis Blanc, calça da marca americana 7 (a predileta por ter um caimento que se ajusta melhor ao seu corpo, ¿sem tantas curvas¿) e tênis Nike, Angela liderou o cortejo de cerca de 40 pessoas, entre cabos eleitorais e carregadores de bandeiras.

No trajeto, entrou em cada ruela, bateu de porta em porta e distribuiu santinhos pedindo votos. Três eleitores não quiseram papo: ¿Amin não dá¿, disse um deles. Ao final do percurso, três quilômetros depois, nos arredores do supermercado Imperatriz na Avenida Mauro Ramos, todos os que a acompanhavam resfolegavam devido ao cansaço e ao calor. Aos 62 anos, ela continuava impecável, sem uma gota de suor e sem um fio de cabelo fora do lugar.

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Três principais propostas de campanha

SAÚDE

¿Melhorar o atendimento na área da saúde, principalmente na humanização. Fazer com que o cidadão que vai a um posto de saúde tenha sequência no atendimento¿.

QUALIDADE DE VIDA

¿Elevar a autoestima e a qualidade de vida no município. Não queremos mais que aquilo que nós fizemos para o cidadão na inclusão social, principalmente na política habitacional, na qual tinha creche, posto de saúde, escola, centro de convivência, centro de inserção no mercado de trabalho, venha a ser destruído.

MOBILIDADE

¿Implantar aquilo que nos propusemos na integração do transporte coletivo: menos tempo de espera e mais respeito ao cidadão. A qualidade dos ônibus caiu muito. As linhas diretas nós que fizemos, hoje não tem nenhum ônibus com ar-condicionado. Isso é uma questão de honra para mim. Andei de ônibus durante toda a minha vida escolar e universitária, sei o que é.¿

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Leia a carta que Angela Amin responde porque quer ser prefeita de Florianópolis