Está indisposto? Tome algum complexo vitamínico. Quer abrir o apetite ou simplesmente garantir boa saúde? Vitaminas também. Consumir as famosas cápsulas vendidas em farmácias tornou-se garantia de bem-estar. Mas os conselhos não passam de mitos. Embora muita gente tenha o hábito de ingerir essas substâncias sintéticas, especialistas não as recomendam para quem está com a saúde em dia.
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Lançar mão desses suplementos nutricionais em excesso pode ter efeito nulo ou, dependendo do caso, até ser prejudicial ao organismo. Segundo o coordenador do Centro de Referência da Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Edgar Nunes de Moraes, as vitaminas são essenciais para a vida e estão diluídas nos diversos alimentos consumidos diariamente.
Por isso, recomenda-se uma alimentação equilibrada. A suplementação vitamínica só é indicada quando são diagnosticadas por um especialista deficiências no organismo.
– Os pacientes apresentam carência de vitaminas porque não se alimentam bem ou porque o organismo não dá conta de absorvê-las por conta de alguma doença ou de outro tipo de dificuldade. Nesses casos, receitamos os suplementos – diz o médico.
De acordo com Moraes, ao ter uma alimentação equilibrada, é praticamente impossível que a pessoa não consiga todas as vitaminas de que o corpo dela precisa. Nos casos de homens e mulheres saudáveis que dizem se sentir melhor ao ingerirem as vitaminas sintéticas, eles geralmente são ‘vítimas’ de um efeito placebo.
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– O benefício de qualquer suplementação só é comprovado quando a pessoa tem deficiência – explica Polyana Mota de Carvalho, nutricionista do mesmo centro de referência.
Uma das carências mais comuns detectadas nos consultórios é a de vitamina D, presente no leite, sintetizada pelo sol e de grande importância para os ossos.
– Na hora da pasteurização do leite, ela é destruída. Então, muitos fabricantes têm que acrescentá-la novamente – explica Moraes.
Segundo o médico, o cálcio – que não é vitamina, mas um mineral muito importante para cabelos, unhas e dentes e um protetor contra doenças ósseas, como a osteoporose – geralmente é consumido de forma sintética.
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Para quem não come laticínios, o cálcio pode ser encontrado em alimentos como o brócolis, o espinafre, o queijo de soja (tofu) a couve e a laranja.
– A dose ideal é de cerca de 500mg a 1g por dia, o que equivale entre duas e quatro xícaras de leite – afirma Moraes.
Em excesso, a vitamina D atua no metabolismo do cálcio e aumenta a absorção intestinal do mineral, podendo causar hipercalcimia.
– Mas isso ocorre em casos raros e em doses altas da vitamina D na forma medicamentosa – pontua o médico Edgar Nunes.
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As vitaminas A, D e E são lipossolúveis – acumulam na gordura do corpo -, por isso, podem causar problemas mais graves quando ingeridas além do necessário.
– No caso da vitamina E, alguns trabalhos mostram que, em doses altas, ela pode estar associada ao aumento de câncer e de mortalidade, podendo até causar um acidente vascular cerebral hemorrágico – diz Edgar Nunes.
Mas o médico destaca que isso só ocorre em megadoses e, principalmente, se associadas ao uso de ácido acetilsalicílico e ginkgo biloba. Já o exagero no consumo da vitamina A pode levar à osteoporose, pois o composto orgânico atua inibindo a célula que leva a formação óssea e descalcifica o osso.
Mais comum na faixa etária de 25 a 60 anos, a deficiência de vitamina B-12 também acomete cerca de 10% da população acima de 65 anos. Estudos norte-americanos demonstram que pelos menos 1% da população de idosos desenvolve consequências graves por conta do problema, como distúrbios neurológicos e psiquiátricos, e anemia megaloblástica (referência ao megaloblasto, glóbulo vermelho que se encontra na medula óssea).
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A vitamina B-12 é absorvida pelo trato gastrointestinal a partir de alimentos como leite, carnes e ovos. Misturas perigosas Além dos cuidados com a quantidade de vitamina ingerida, é preciso levar em conta os efeitos da mistura das suplementações necessárias, observa Polyana de Carvalho.
– O que a gente tem na nutrição são várias combinações de vitaminas e de sais minerais. O cálcio interage com o ferro prejudicando a absorção de ambos. Então, não serviria um polivitamínico para tratar deficiência de ferro porque esse complexo não tem as quantidades suficientes. Ou seja, a absorção pode ser prejudicada ou otimizada no polivitamínico – exemplifica.
O psicoterapeuta Marco Antônio De Tommaso observa outro fator ligado ao consumo indiscriminado de vitaminas que está relacionado à saúde. Pessoas que têm obsessão pela alimentação saudável podem ter ortorexia nervosa, um problema que pode desequilibrar a presença desses compostos orgânicos no corpo humano.
– A pessoa deixa de comer coisas saudáveis, mas que não têm esse caráter para ela. É uma reação parecida com a do anoréxico, que tem obsessão pela magreza – explica.
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Três perguntas para Marco Antônio De Tommaso, psicoterapeuta
O que caracteriza a ortorexia nervosa?
O ortoréxico é um indivíduo que abole uma série de nutrientes necessários em nome dessa ideia de ‘comer bem’. A pessoa deixa de comer coisas saudáveis, mas que não têm esse caráter para ela. É uma reação parecida com a do anoréxico, que tem obsessão pela magreza.
O que mais indica o problema?
A pessoa pode se locomover por grandes distâncias e até mesmo se endividar para comprar aquele alimento que acredita ser mais saudável, além de deixar de fazer coisas importantes para buscar um hábito alimentar melhor. Há o caso de uma jovem publicitária que procurava um emprego. Ela conseguiu em uma grande empresa, mas o recusou porque teria que almoçar no restaurante da firma, o que, na ideia dela, seria abandonar os hábitos saudáveis que tinha.
E como é o tratamento da doença?
Dificilmente o indivíduo com ortorexia nervosa vai admitir que está com a doença. A observação de familiares e de pessoas próximas, nesse caso, é essencial para se descobrir a doença. Se a família estiver atenta, começa a perceber o grau de exigência que a pessoa está fazendo daquele alimento, o tempo que perde em cima disso ou vê que o indivíduo começa a não se interessar por uma salada convencional. O tratamento é multidisciplinar, incluindo orientação nutricional e auxílio terapêutico.
Onde encontrar
» Vitamina A: frutas e legumes amarelos, laranjas ou vermelhos. É importante para a visão e para a formação do ácido retinoico
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» Vitamina B12: alimentos de origem animal, como leite e derivados, ovos e carnes. Melhora a condição mental
» Vitamina C: frutas cítricas
» Vitamina D: alimentos fortificados, alguns leites e peixes de águas profundas, como arenque, salmão, sardinha. No organismo, é sintetizada pelo sol
» Vitamina E: todos os tipos de gordura, como óleos vegetais, manteiga, leite integral, oleaginosas e abacate