
Diário Catarinense – O metrô seria a melhor saída para Florianópolis?
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Carme Miralles – Não sei se Florianópolis precisaria ter um metrô. Aqui seria muito difícil porque é uma ilha com duas lagoas, e quase sempre o terreno não suporta. É necessário pesquisar melhor. É muito difícil. Caso os terrenos suportem, o investimento é alto, mas retorna com o tempo. É necessário estudar melhor a cidade para falar sobre isso.
DC – Mesmo com muitos morros, as ciclovias continuam sendo uma hipótese?
Carme Miralles – Os morros não estão em todas as partes da cidade. O importante é que as ciclovias estejam numa rede, não uma linha que começa e termina logo depois, e uma parte qualquer. É importante ter uma conexão entre as linhas, para levar a algum lugar com segurança.
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DC – Tem uma nova solução de mobilidade internacional?
Carme Miralles – Não há soluções. Há melhorias. O espaço urbano é um espaço muito complicado e ainda surgem problemas novos, e temos que aprender a resolvê-los para fugir do caos. A solução não existe. A pergunta é: como podemos melhorar a mobilidade do espaço urbano? A melhor solução é entender que o transporte é um sistema único, que todos os tipos devem trabalhar em rede. As pessoas devem utilizar diferentes tipos de transporte e ter condições para isso: podem ser motoristas de carros e pedestres ao mesmo tempo. As pessoas podem andar em bicicleta e automóvel ao mesmo tempo. Não é um em frente do outro, não é investir em ciclovias sem contraste e integração com as estradas. A palavra é integração.
DC – O fluxo de pessoas em Florianópolis e Barcelona aumenta durante o verão. Como deve ser o planejamento do transporte urbano para esta época?
Carme Miralles – A dimensão da oferta do transporte nunca em nenhum lugar é feita para a demanda ao seu máximo. Imagina que você quer abrir um restaurante e que sábado à noite tem muita gente para comer. O que você fará? Colocará mesas e garçons para o fim de semana e ficar com o ambiente vazio o resto da semana? Não fará isso, não é mesmo? Se o sábado tem mais demanda, as pessoas terão de esperar um pouco mais durante este tempo. A oferta nunca é mensurada para o máximo de demanda, mas para o valor médio. Isso significa que alguns meses do ano a demanda seja maior ou menor, é normal. O que não pode é mensurar o valor mínimo de demanda, porque não há como se adequar nos momentos máximos.
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DC – E o transporte marítimo, como utilizá-lo em Florianópolis?
Carme Miralles – Uma das possibilidades é utilizar o mar como infraestrutura, fazer um bom sistema entre as partes do continente e com o mar, sempre conectado em rede com ônibus e qualquer meio de transporte. Ouso falar que a solução aqui em Florianópolis é utilizar o mar, como no Rio de Janeiro e Niterói. Seria ótimo entre o continente e a ilha, por exemplo. Pode-se ter pontes, mas a solução por aqui é conectar-se por barcas.
DC – Qual é a principal consequência para a cidade que deixa a população com tempo perdido enquanto se transporta?
Carme Miralles – Tempo é dinheiro. Todo aquele tempo que passamos entre os espaços não utilizamos para nada mais: nem para aprender espanhol, nem para estudar, nem para ler livros. O sistema perde produção e fica parado. Não é só o tempo individual, é o tempo coletivo. Uma cidade que a população perde muito tempo entre os lugares é uma cidade que perde dinheiro. Ultrapassa as classes sociais: rico ou pobre, você continuará parado.
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