Presente no 49º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica, realizado em Porto Alegre (RS), o cirurgião e professor Ivo Pitanguy falou sobre a busca pela estética perfeita, os limites na relação médico-paciente e a tendência de intervenções em pessoas de mais idade. Ao avaliar o crescente cuidado com a aparência, disse achar normal as pessoas manterem a atenção ao corpo em uma país tropical. Quando perguntado da relação com a própria silhueta, o especialista de 86 anos disse que nunca fez plásticas e que a melhor cirurgia que existe é manter uma relação amigável com o próprio ego.
Continua depois da publicidade
– Quando você se tolera, não precisa fazer nada.
Leia a entrevista:
Grupo RBS – As pessoas estão desesperadas pela estética perfeita. Como o senhor vê essa situação?
Ivo Pitanguy – Banalizar é muito ruim, pois a cirurgia plástica é uma especialidade cirúrgica como qualquer outra. Para isso, o paciente tem que estar preparado. O diagnóstico tem que ser correto. Muitas vezes existe uma visão distorcida por parte do paciente sobre seu corpo. Antes, nós tínhamos que explicar o que era a cirurgia plástica. Hoje, nós temos que explicar o que não é, pois tem muita informação e, às vezes, as pessoas chegam intoxicadas com inverdades. Cabe a nós orientá-las e não conduzir a cirurgia nesses casos, ou até encaminhá-las a alguma forma de autoconhecimento, que pode ser uma psicoterapia, se necessário.
Continua depois da publicidade
Grupo RBS – Há limite para o médico intervir na vontade do paciente?
Pitanguy – Muitas vezes, não existe indicação, e cabe ao cirurgião orientar quando não há necessidade. Mas não se pode definir um limite. Tem que haver um bom senso e o cirurgião deve lembrar que antes de cirurgião, ele é medico. Se alguém o procurou, ele tem que fazer algo que possa trazer benefício. Se ele sentir que não está trazendo, não deve operar.
Grupo RBS – As pessoas estão vivendo mais tempo. Isso aumentou a procura por cirurgia plástica?
Pitanguy – As pessoas estão vivendo mais e a força da gravidade continua a mesma (risos). Vamos ter muito mais pessoas de 70 anos se sentindo bem com sua aparência. Na época de Napoleão, aos 30 e poucos anos a pessoa já tinha a aparência de um general de guerra. Hoje, há muitas enfermidades genéticas e endêmicas sendo controladas.
Grupo RBS – Há idade máxima para uma intervenção?
Pitanguy – Tudo está dentro do bom senso do médico. Isso é relativo. Eu acho que o envelhecimento é muito saudável. O não envelhecer não é obrigatório. Por isso acho que a melhor cirurgia é você gostar de você mesmo.
Continua depois da publicidade
Grupo RBS – O que é necessário para ser um bom cirurgião?
Pitanguy – Em meu livro Cartas a um jovem cirurgião, escrevi que o cirurgião plástico nunca deve esquecer que, antes de qualquer coisa, ele deve ser um bom médico, para julgar, avaliar e trazer o bem estar. Ele tem que conhecer muito bem a cirurgia geral, e antes de tudo, sentir que diante de si há uma pessoa que confia nele, que ele deve procurar atenuar o sofrimento com a medicina.