Maria de Lourdes Costa do Rosário poderia ter guardado a sua história na memória ou apenas compartilhado com o filho e os netos. Mas ela quis ir mais longe: relatar as vivências dos seus 61 anos em livros e CD para que mais pessoas pudessem conhecê-la.
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A exposição pessoal não a intimida, até porque ela já é bastante conhecida na zona Sul de Joinville. Todos os anos, na época do Natal, ela deixa de ser a dona Maria para se transformar na Mamãe Noel do bairro Guanabara.
Desde a década de 1970, ela usa a mesma roupa vermelha de cetim e um saco nas costas cheinho de balas e pequenos brinquedos para distribuir às crianças do bairro onde mora desde a infância.
– Quando estou vestida de Mamãe Noel, parece que estou tomada pelo Espírito Santo -, conta a aposentada, na tentativa de explicar o que a faz sentir-se bem e o que a incentiva a deixar de ser apenas mais uma moradora para se tornar a personagem preferida da criançada.
A pilha de DVDs que a Mamãe Noel exibe orgulhosa às suas visitas em casa conta, por meio das imagens dos natais passados, um pouco da trajetória da mulher que já fez mais alegre o Natal de muitas crianças.
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O dinheiro para não deixar passar em branco a festa de Natal das famílias mais pobres sempre veio das economias que Maria de Lourdes e o marido, hoje já falecido, faziam durante o ano.
Hoje, a Associação de Moradores do Guanabara é parceira do trabalho solidário de Maria de Lourdes. Além da distribuição de doces, o evento, que tornou-se fixo no calendário de atividades do bairro, também conta com sorteio de cestas básicas.
Apesar de ser mais conhecida no Guanabara pelo apelido do que pelo próprio nome, este será o primeiro Natal em que ela não sairá de bicicleta fantasiada na versão feminina do Bom Velhinho. Em seu lugar, outra moradora fará a distribuição de presentes.
– Este ano eu serei apenas a compositora -, explica Maria de Lourdes, que quer apresentar algumas de suas músicas na festa natalina do bairro.
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O CD “A Casa Encantada”, gravado neste ano, revela um pouco da sua história e é um dos sonhos realizados da aposentada.
– Sou uma escritora da vida real -, afirma, mostrando que sua dedicação não está voltada apenas para o Natal.
As palavras rabiscadas no papel revelam a sua saída escolar precoce. Maria de Lourdes estudou apenas até a segunda série do primário. Com o falecimento da mãe, ela, que na época tinha oito anos, teve de trocar o caderno pela vassoura.
Mas foi no trabalho de doméstica que a Mamãe Noel encontrou outra vocação. Com a ajuda de uma publicação de jornal, ela aprendeu sozinha a juntar palavras que a ajudassem a transmitir o que vinha na imaginação. O primeiro livro, “Silêncio de uma Autora”, foi impresso em 1982. Mais tarde, o casamento deu a ela a inspiração para a criação de sua segunda obra, “Pedalando te Encontrei”, que narra o dia em que ela viu pela primeira vez o amor de sua vida.
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