Ignorados e muitas vezes destruídos pela ação humana, os manguezais têm protagonismo na luta contra os efeitos das mudanças climáticas. Sabendo disso, cientistas estão dedicados em pesquisar esse ecossistema na Grande Florianópolis e em restaurar áreas degradadas. Um dos estudos, inédito no país, deve mostrar qual o tamanho do “poder” de captura de carbono que os manguezais que cresceram em áreas aterradas possuem.
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O dióxido de carbono (CO2) é um poluente enviado à atmosfera através da queima de combustíveis fósseis, o que intensifica o aquecimento global. Diante desse cenário, os manguezais atuam como protetores das cidades, sendo verdadeiros “cinturões verdes”, destaca o biólogo e professor de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Paulo Pagliosa:
— Precisamos urgentemente tirar esse carbono da atmosfera para que o planeta retorne ao seu equilíbrio climático. O que os manguezais têm a ver com isso? Simplesmente eles são “a floresta” que tem a maior capacidade de estocar o carbono em seus solos, até mesmo mais do que a Amazônia quando falamos de armazenamento por metro quadrado. Manter os manguezais preservados significa mantermos e até mesmo ampliarmos a capacidade de retirar o CO2 da atmosfera e armazenar no solo.
Pagliosa faz parte do Projeto Raízes da Cooperação, do Programa Petrobras Socioambiental, que há mais de um ano desenvolve ações na área de restauração, pesquisa científica e outras frentes, todas com o objetivo de contribuir com a conservação de manguezais e restingas em Florianópolis, São José e Palhoça.
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Confira áreas de mangue em Florianópolis e região
Entre as pesquisas do projeto está a dissertação de mestrado que analisa o potencial de estoque e sequestro de carbono em manguezais que cresceram em áreas aterradas da Grande Florianópolis, comparando com os mesmos ecossistemas de áreas naturais. A intenção é saber se esses manguezais têm a mesma capacidade dos naturais em estocar carbono na biomassa do solo.
A outra, em nível de pós-doutorado, resultará na elaboração de projeções da elevação do nível do mar na Grande Florianópolis. Ao cruzar os possíveis cenários com os planos de ocupação territorial, o trabalho ajudará a subsidiar estudos de habitação e vulnerabilidade na região.
Os resultados vão ser divulgados como artigos científicos e, também, através de um livro inédito sobre os “Manguezais do Sul do Brasil”, um dos produtos que serão lançados pelo projeto ainda neste ano.
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O poder dos manguezais
Os manguezais têm muita importância não só na manutenção da biodiversidade, mas também como filtro na região costeira. Quando os perigos vêm do mar, como uma tempestade forte, o manguezal é a barreira que recebe o maior impacto, exemplifica Pagliosa.
— A presença desse ecossistema é uma proteção inestimável para a mitigação da mudança climática, como as ondas de calor e o aumento do nível do mar — explica o professor.
O problema é que grande parte da Capital e das cidades vizinhas tiveram o crescimento e urbanização aterrando áreas de manguezais, cortando árvores para atividades madeireiras e desviando os cursos d’água. Isso, atrelado à especulação imobiliária, as obras de drenagem e esgoto irregular, estão entre as principais ameaças a esse ecossistema.
— Os manguezais eram vistos como locais sujos, de mau cheiro e com lama. A urbanização levou ao corte das árvores para usar sua seiva e seu carvão, ao desvio dos cursos d’água em manilhas subterrâneas e ao aterramento dessas áreas. Então, após mais de três séculos de exploração da natureza, temos muitas áreas para restaurar na Ilha e no continente. Nosso primeiro cálculo é a de que cerca de um terço das planícies costeiras da região tem potencial para serem reabilitadas com manguezal — acredita Pagliosa.
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Além das pesquisas científicas, também estão sendo restauradas áreas de manguezais e restingas em duas ilhas de Palhoça, após o corte de 7,7 hectares de pinus. As equipes estão plantando 3 mil mudas dessas espécies nativas da Mata Atlântica nessas ilhas e também no entorno do centro de visitantes do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.
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