O colo da mãe Tainara Ramos Inácio, 21 anos, é onde o pequeno Samuel, de um ano e cinco meses, agora passa a maior parte dos dias. Mas a rotina era muito diferente há menos de um mês. Para trabalhar com o marido em uma empresa de plástico, ela precisava deixar o filho em uma unidade de ensino infantil. Como a falta de vagas na rede pública é um problema histórico na região e ainda mais evidente onde Tainara mora, a rua Jardim Germânico, no bairro Itoupavazinha, em Blumenau, a saída foi optar por uma creche particular, que custava R$ 350 ao orçamento da família.
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Tainara deixou o emprego há poucas semanas após descobrir que está grávida do segundo filho. Se nos próximos meses ela poderá dividir a atenção entre Samuel e a gestação, o horizonte para voltar ao mercado de trabalho agora depende ainda mais da abertura de vagas.
– Um nós até conseguíamos manter na creche particular, mas dois seria praticamente impossível. Eles aprendem tanto na creche, se desenvolvem tão bem, gostaria que eles tivessem acesso a isso – afirma a mãe.
Um levantamento da associação de moradores local chegou a lista aproximadamente 90 intenções de vaga por creche na localidade Jardim Germânico, onde segundo dados de agentes de saúde moram cerca de 3 mil pessoas – 200 delas crianças de 0 a 5 anos. O novo Centro de Educação Infantil (CEI) do bairro faz parte de uma relação de sete creches que tiveram projetos aprovados pelo governo federal. As três primeiras, incluindo a do Jardim Germânico, tiveram a abertura de propostas da licitação feita na última quarta-feira.
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A perspectiva traz a ideia de uma realidade diferente para mães como Juliana Ferreira, 32 anos. Até atingirem a idade escolar, os dois filhos mais velhos frequentaram apenas as creches particulares, que se multiplicaram na localidade pela necessidade das mães que trabalham fora. Hoje com 11 e 7 anos, eles já frequentam a escola. Para o caçula Luiz Henrique, porém, de apenas oito meses, Juliana espera conseguir uma vaga na rede pública.
– Tive que pedir a conta na empresa em que trabalhava como auxiliar de expedição para poder cuidar dele. Se somar os valores da creche e do aluguel que a maioria paga aqui, fica muito difícil para a gente – argumenta.
Quem consegue vaga em uma das quatro creches municipais que hoje atendem a comunidade, num raio de 3 a 6 quilômetros de distância, precisa gastar com transporte, o que também pesa nas finanças da família. Katy Sarol Guedes, 27 anos, por exemplo, paga R$ 320 para os dois filhos mais novos, de 3 e 5 anos, irem de van até um CEI na rua Carlos Duwe.
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Obras para construção de três creches foram licitadas na última semana Até a última quarta-feira, 4.045 crianças esperavam por uma vaga em alguma das 78 creches de Blumenau, segundo dados do Portal da Transparência. Nove creches domiciliares e cinco ONGs conveniadas complementam a estrutura da rede pública. Sete creches que tiveram os projetos apresentados pelo município ao governo federal ainda em 2013 estão previstas para agora começar a sair do papel. Três creches novas tiveram a abertura das propostas da licitação na quarta-feira. No total, oito empresas apresentaram propostas para a construção de cada uma das três creches. O processo agora segue para a fase de avaliação técnica. Ainda não há previsão para a emissão da ordem de serviço. O tempo de execução previsto no projeto é de seis meses. Todas terão o mesmo espaço, com 895,5 metros quadrados, e cada uma vai contemplar 94 vagas em período integral. Os investimentos giram em torno de R$ 1,5 milhão em cada CEI e serão divididos entre Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e prefeitura. Inicialmente, segundo a Secretaria de Educação, as construções seriam custeadas totalmente pela União, mas ao longo da análise dos projetos o formato do convênio mudou e exigiu contrapartida da prefeitura. A creche do Jardim Germânico é uma das mais esperadas e ficará em um terreno que aguarda a estrutura há alguns anos. Já o CEI Osvaldo Deschamps, no bairro da Glória, deverá substituir a unidade já existente e que hoje atende 86 crianças em um prédio que será desativado. O terceiro CEI que teve propostas da licitação abertas esta semana é o Professora Leonides Westarb, que ganhará um prédio próprio próximo à escola Vidal Ramos, na rua Antônio Treis, bairro Vorstadt. Hoje as crianças são atendidas neste CEI por meio de um convênio com o Sesi. Continua depois da publicidade As três creches licitadas esta semana devem reduzir o problema da fila, que é um desafio mais complexo. – Nos últimos três anos, a taxa de natalidade de Blumenau é de 420 a 430 bebês por mês. Dessas famílias, 75% procuram o serviço público, então mesmo que a gente construísse por mês de dois a três CEIs, a gente não acabaria com a demanda – pontua a secretária, ao contextualizar que o pico da fila costuma ocorrer no final do ano, quando alcança entre 4 mil e 5 mil crianças, e reduz no início do ano seguinte com as matrículas, caindo para a casa de 2 mil crianças. Outros quatro CEIs aguardam solução de trâmites burocráticos Projetos de outras quatro creches foram apresentados em 2013 também foram aprovadas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Elas ficam nos bairros Itoupavazinha, Água Verde e Passo Manso – neste último serão erguidas duas unidades. No entanto, esses novos CEIs ainda dependem de levantamentos topográficos nos terrenos e não há prazo para que tenham as licitações abertas. O CEI que ficará na Rua Radialista Rodolfo Sestrem, na Itoupavazinha, é o que está mais adiantado, já na fase de documentação. Continua depois da publicidade Juntas, as sete creches (veja na mapa a localização de cada CEI) somam um investimento de R$ 10,1 milhões – o FNDE deve aplicar R$ 6.392.282,98 e o município, R$ 3.778.196,68, mais eventuais acréscimos. As sete unidades vão representar 752 vagas a mais na rede municipal, que hoje atende 13.557 crianças.
Embora os bairros que receberão novas creches possuam intenções de vaga não atendidas, a secretária de Educação Patrícia Luerders admite que os critérios para escolha dos locais levaram mais em conta a disponibilidade de terrenos. A falta de áreas em bairros como Fortaleza e Garcia, onde hoje estão as maiores filas de espera da educação infantil, levou à escolha pelos demais territórios. – As exigências do FNDE sobre o terreno são superrígidas, é preciso que seja uma área plana, sem qualquer proximidade com ribeirão, com tamanho mínimo, tudo isso limita um pouco a escolha dos locais. Mas os CEIs atendem ao que a comunidade vinha esperando e devem ajudar a melhorar os espaços e diminuir um pouco a espera por vagas – afirma Patrícia. Continua depois da publicidade