A Expogestão 2019 ofereceu ao longo de sua 17ª edição, que se encerra nesta quinta-feira (17), cerca de 60 workshops gratuitos à comunidade e um deles chamou a atenção por levantar a questão da gestão de times de alta performance a partir das experiências de um ouro olímpico. A palestra ‘Sport Break’, promovida pela Unisociesc, trouxe a Joinville a história do atleta brasileiro Paulo André Jukoski da Silva, conhecido como o Paulão do vôlei, campeão olímpico pelo Brasil nas Olímpiadas de Barcelona em 1992.

Continua depois da publicidade

Em entrevista à NSC Comunicação durante o congresso empresarial, o esportista mostra que há muito em comum entre a formação de um time de voleibol que pretende ser campeão e a formação de equipes de trabalho nos ambientes corporativos em busca de resultados para a organização.

Segundo Paulão, gerir equipes para alcançar resultados expressivos é uma atividade que não demanda um método exato e requer determinação e envolvimento para engajar o time, seja de qual área ele for. Em suas palestras, como a ministrada na Expoville na tarde desta quinta-feira, Paulão apresenta como as técnicas utilizadas na gestão de times esportivos, podem contribuir para inspirar as lideranças na gestão diária das diferentes competências.

E ele tem propriedade para falar do assunto. Além de campeão olímpico em 92, o eterno atleta participou das Olimpíadas de Seul em 1988, e das Olimpíadas de Atlanta em 1996. Gerenciou e foi técnico de clubes de vôlei, foi diretor no Ministério dos Esportes, atuou em diversas entidades esportivas e na Copa do Mundo de 2014. Hoje, além de técnico, ele viaja o Brasil fazendo palestras e falando principalmente sobre a importância do trabalho em equipe.

Continua depois da publicidade

Confira a entrevista:

AN: A Expogestão é um evento fortemente ligado à gestão de empresas. Como buscar essa conexão entre a formação de uma equipe esportiva e uma equipe corporativa?

R: A ligação é direta, o que vai mudar aqui só é a quadra, de uma quadra de voleibol para uma quadra de gestão empresarial. Porque em ambas você lida com pessoas e cada pessoa tem os seus sonhos; as suas jogadas; o seu treinamento diário; e tem um líder que é um técnico. E esse técnico tem que ter toda a “manha” para trabalhar com a sua equipe e tirar o melhor proveito de cada atleta e aí basta cada um aceitar ou não: se não aceitar, você vai para o banco ou você sai do time. A mesma coisa acontece numa empresa, então essa habilidade de um CEO e de um técnico para lidar com a sua equipe ela é fundamental.

AN: E qual a diferença?

R: A diferença que eu acho é que muitos CEOs, hoje, falam de metas e busca de objetivos e colocam os números à frente custe o que custar; e ele chega aos números. Contrata os melhores profissionais, mas esquece do restante.

O esporte também é assim, você contrata os melhores, mas acho que, comparando com 1992, que foi um marco para o esporte nacional, não só para o voleibol, a preocupação do Zé roberto Guimarães, que era nosso CEO e nosso técnico, ele se preocupou fora da quadra com a questão humana de cada pessoa. Pensou no que ele poderia tirar proveito do Marcelo Negrão, do Carlão. São grandes jogadores? São! Mas o que eles podem fazer a mais? Então a gente almoçava juntos, usava o mesmo uniforme, saímos no mesmo horário, a gente fazia oração juntos e isso parece uma coisa boba, mas aí me perguntam: mas isso te fez ganhar a Olimpíada? Sim, isso fez ganhar a Olimpíada, porque o foco não era ganhar, o foco era fazer uma equipe de trabalho, então a vitória foi o resultado desse processo de união de forças de cada um.

Continua depois da publicidade

Por exemplo, se o Paulão não é tão bom, o que ele faz bem? É um cara que abraça a equipe, é um cara legal, um cara positivo. Já o Maurício é um cara que puxa no treino, está sempre acordado mais cedo, vibra bastante. então isso foi somando pontos e quando a gente começou a jogar com a técnica que foi imposta e com o melhor de cada um, foi aí que a gente falou ‘vamos ganhar esse negócio’, e ganhamos a Olimpíada. Era uma geração que nunca tinha ganho nada (a nível mundial), então como tudo mudou tão rápido? Mudamos a postura, mudamos o hábito de fazer as coisas juntos e acreditar.

AN: O sucesso dessa fórmula independe da organização?

R: Depende muito do que é sucesso: É dobrar o salário? É dobrar os investimentos? É dobrar o número de atendimentos? O que é o sucesso? É preciso o líder deixar isso muito claro para a equipe. Eu acredito muito primeiramente que número não bate o coração, eu acho que alcançar o número batendo o coração é a realização (do profissional). Esses dias um atleta que eu liderei há dois anos e meio e que está na Itália me ligou e disse que quer trabalhar comigo novamente, porque gostou de jogar na minha equipe. Até me arrepio, esse retorno é sensacional porque olha o rótulo que estou criando, isso é sucesso para mim. Por isso eu digo, não dá para comparar com o chão de fábrica, mas a atitude que você lida com esse pessoal é que traz resultado.

AN: Hoje você transita por esse meio corporativo, apresenta palestras também para times empresariais?

R: Vou te dizer que este é (hoje) o meu ganha-pão. Dar treinamentos e palestras foi o que me sustentou durante muitos e muitos anos, só que o sangue do voleibol chama a ser técnico, e a continuar a trabalhar com a molecada e isso é encantador. Eu vim disso, vim de um professor que pagava a minha passagem para eu treinar e aquilo fica na cabeça da gente, de que eu tenho que contribuir agora também. E isso me motiva.

Continua depois da publicidade

AN: Qual mensagem você se propôs a passar na Expogestão?

R: A grande mensagem que eu gosto de dizer é o seguinte: faça de coração mesmo que o dinheiro demore um pouquinho para chegar, seja o que for, mas faça de coração. Já fui muito criticado por isso e meus amigos diziam que eu iria passar fome. Minha resposta sempre foi ‘tudo bem, mas eu vou estar feliz’ (fazendo aquilo que eu gosto).

AN: Como você enxerga a situação do esporte no Brasil hoje? É algo que dá retorno financeiro?

R: Qualquer coisa dá dinheiro, basta você botar o coração para trabalhar e se você tiver esse espírito de querer fazer a coisa acontecer, de forma positiva, o que você fizer dará certo. O dinheiro ele é fruto do seu trabalho honesto. Já quando se fala em bolsa e em cortes, não vejo muito por esse lado. Nós temos que ter uma política pública voltada ao esporte, que é algo que o Brasil nunca teve. Foi investido em Olimpíada e Copa do Mundo especificamente, mas não deixou fruto nenhum. Nós não temos uma cultura de continuidade. E acho que a grande força (para isso ocorrer) é a universidade, ela é cultural, é educativa e é o local onde você pode se tornar um atleta de alta performance, que vai ter uma equipe, e pode se tornar um grande profissional.

AN: Em sua trajetória profissional, a Olimpíada de 1992 você considera seu principal legado no esporte ou há outro momento especial?

R: A medalha de ouro para mim: foi o suprassumo de tudo. Eu nunca sonhei em ser campeão olímpico, aí chegamos naquela Olimpíada e a gente conquista a medalha olímpica, a gente não sabia nem como se comportar com a medalha. Pensávamos: a que a gente tem que falar? O que a gente tem que fazer? E agora, o que acontece? O patrocinador, que era o Banco do Brasil, ninguém sabia o que fazer com a gente. Então com certeza essa foi a maior conquista.

Continua depois da publicidade

AN: Estar numa Olimpíada é o sonho de qualquer atleta e ainda mais ganhar o ouro, o que ainda falta para você conquistar na sua carreira?

R: Eu virei técnico de voleibol e eu quero alcançar o suprassumo do voleibol, que é ser técnico de uma seleção e conquistar um título internacional. É um objetivo a ser seguido. Por que não almejar esse caminho que eu já conheço? Posso pegar alguns atalhos e me dedicar nisso. É por aí…