Dois meses depois de ter sido detida por autoridades russas quando integrava uma tripulação da organização ambientalista Greenpeace cujo objetivo era alertar contra riscos na exploração de petróleo no Mar Ártico, a ativista brasileira Ana Paula Maciel teve sua liberdade aceita pela justiça mediante pagamento de fiança.

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O episódio vem sendo acompanhado com interesse pelo país, por envolver uma brasileira e pela simpatia que sempre desperta a defesa de causas ambientais. Mas também suscita controvérsias: algumas pessoas acham que o governo russo age corretamente ao punir manifestantes estrangeiros que invadiram suas águas territoriais; outras consideram que o rigor reflete autoritarismo. Na antevéspera de explorar suas reservas do pré-sal, o que também impõe riscos ambientais, o Brasil deveria tirar lições desses episódio para evitar problemas futuros.

No caso dos 30 ativistas detidos em Murmansk, na Rússia, a ação do grupo ajudou a chamar a atenção para dois aspectos centrais. Um deles é o alegado despreparo de países que recorrem a equipamentos obsoletos e têm pouca ou nenhuma preocupação ambiental ao explorar petróleo numa região de interesse global em aspectos essenciais para a humanidade, como é o caso das mudanças climáticas. Outra é o pouco apreço dos russos por ecoativistas, que durante a manifestação em frente à plataforma de petróleo Prirazlomnaya foram recebidos a tiros e presos pela guarda costeira. No caso da Rússia, as imagens que correram o mundo de Ana Paula dentro de uma gaiola deram uma ideia exata do rigor com que essa alegada interferência externa costuma merecer.

O máximo que a mobilização mundial conseguiu provocar foi a retirada da acusação inicial de pirataria. Ainda assim, embora o caso venha sendo tratado agora como vandalismo, sobram dúvidas sobre que tipo de liberdade será assegurado à brasileira e aos demais prisioneiros.

O caso Ana Paula, portanto, serve de alerta tanto para a necessidade de um comportamento mais maduro por parte de ecoativistas quanto de maior responsabilidade dos governantes em questões ambientais. Os ambientalistas exercem papel relevante ao advertir para riscos, desde que se municiem sempre de justificativas razoáveis e não apelem a radicalismos. Já o poder público, encarregado da fiscalização, e empresas que atuam com prospecção precisam se dar conta de que as exigências serão cada vez maiores daqui para a frente.

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Da forma como se organizou, o mundo não tem como abrir mão de fontes energéticas, estejam elas disponíveis no Ártico ou na área de Libra. Ainda assim, não pode ignorar os apelos de quem, à sua maneira, tem como objetivo central preservar o que for possível para as futuras gerações.