Consagrada como uma das maiores escritoras do Brasil, Marina Colasanti, proporcionou uma verdadeira aula de literatura aos leitores joinvilenses na manhã do quarto dia da 15ª Feira do Livro de Joinville. Autora de mais de 70 obras e detentora de prêmios importantes na carreira, como o Jabuti e o Grande Prêmio da Crítica da APCA, a autora marca presença no evento nesta segunda-feira (11).

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Confira a programação completa da 15ª Feira do Livro de Joinville

Em sua passagem pelo Expocentro Edmundo Doubrawa, Colasanti, de 80 anos, conversou com estudantes e concedeu sessão de autógrafos pela manhã. Nesta tarde e noite, ela ainda deverá ser homenageada na exposição “Bordando letras”, da Döhler, que traz interpretações de suas obras em bordado. Já no fim do dia, feminista convicta, ainda palestra sobre a voz das mulheres na literatura.

A participação ilustre em um dos principais eventos culturais independentes da cidade começou logo cedo, às 9h, com a presença de alunos das redes pública e privada de ensino. No encontro, a escritora ítalo-brasileira destacou o tema “Minhas histórias vêm de longe para encontrar vocês”.

— Essa troca entre autor e público serve para a viagem dos meus livros. Viajo pelo Brasil e fora do País e os levo comigo, não fisicamente, eu sou a imagem dos meus livros e (este encontro) serve numa tarefa que é parte do meu fazer: a formação de leitores — destacou ela, pouco depois de descer do palco.

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Formação esta, que, considera estar principalmente nas mãos de quem quer aprender e dos professores que se propõem a ensinar. Ela aprendeu em casa, mas enxerga de forma diferente a realidade da maior parte das famílias brasileiras, por isso aposta na educação escolar. “A leitura me fez escritora”, diz ela, que começou a ler ainda pequena, quando considerava a biblioteca de seu avô seu paraíso.

— Espero que alguns dos que me assistiram hoje, que serão poucos, quando tiverem sua própria família estabeleçam um clima de leitura nesta família, mas sei que dos que me ouviram, muito poucos têm uma família leitora. A leitura não é um componente cultural básico do Brasil. Trabalho nisso há mais de 40 anos com o Affonso (Sant’Anna; também escritor), meu marido, mas sabemos que no Brasil não podemos contar com a família como transmissora de leitura, porque as famílias frequentemente não são leitoras. Então, a gente sabe que, no país, temos que contar com a escola como transmissora. E o mais importante é fazer professores leitores, porque os professores que não leem não fazem meninos leitores — opina.

Às 18h30 ela será homenageada com a abertura da exposição de bordados que estampa frases de suas obras. Na sequência, no palco principal, ministra a palestra “Existe uma escrita feminina”.

Coração feminista

A palestra “Existe uma escrita feminina”, apresentada pela convidada na noite desta segunda-feira, deve evidenciar a força que o tema toma em diversas vertentes e, no caso da escritora, no campo da literatura. Autointitulada uma feminista histórica e com direito a “crachá tatuado na testa”, Marina Colasanti afirma que essa é a sua atuação política e motivo de orgulho, no entanto, não aborda a temática nas obras literárias.

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— Não faço proselitismo, nunca desejei fazer proselitismo político em literatura, o que, sim, escrevi foram livros sobre a questão de gênero; sobre a posição da mulher na sociedade; sobre os direitos femininos; isso gerou quatro livros. Mas quando eu faço ficção, é claro que transparece o meu orgulho de ser mulher. Se eu fosse reencarnar duzentas vezes, duzentas vezes eu queria reencarnar mulher ou talvez cachorro, que é uma boa espécie — arremata.