A jornalista Miriam Leitão se manifestou na manhã desta quinta-feira (17), após a participação dela e a de seu marido, o sociólogo e cientista político Sérgio Abranches, terem sido canceladas pela Feira do Livro de Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina. A organização do evento, através de nota nesta terça (16), alega não há como "proteger a integridade física dos convidados e do público", após mensagens em tom de ameaça recebidas pelos integrantes da comissão.
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Durante o Jornal da CBN, dentro do quadro "Hora de Expediente", o escritor e editor de livros José Godoy já havia comentado sobre o assunto polêmico. Logo depois, Miriam fazia normalmente o seu comentário dentro do programa, quando o apresentador Milton Jung manifestou solidariedade à jornalista após o ocorrido. Ela agradeceu o apoio.
— A gente nem ia lá falar de assuntos polêmicos, e sim sobre o que nos levou aos livros, o que nos transformou leitores e escritores, os livros que escrevemos, amamos e que nos aproximam. O assunto era "biblioteca afetiva". Estávamos entusiasmados com a ideia de falar (sobre o tema) porque seria muito bom isso. Mas, aí. a intolerância venceu desta vez. Você sabe, o livro sempre foi tratado como uma ameaça, né? Principalmente contra mentes autoritárias — declarou a jornalista na CBN.
Ouça a participação de Miriam Leitão na CBN:
A Feira do Livro de Jaraguá do Sul, em sua 13ª edição, será realizada entre 8 e 18 de agosto. Antes do corte aos escritores, foi colocada uma petição online de repúdio contra a presença da jornalista devido ao "seu viés ideológico e posicionamento".
Comentarista da Rede Globo e colunista do jornal O Globo, Miriam Leitão está entre os mais jornalistas mais premiados no Brasil. Ela já foi vencedora de dois prêmios Jabuti, o mais tradicional da literatura no país.
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Já Abranches se manifestou através de uma rede social, após a confirmação de ter sido desconvidado da feira, com um trecho de um poema do alemão Bertolt Brecht, chamado "Aos que vieram depois de nós". Uma das frases da obra é “Que tempos são estes em que é quase um delito falar de coisas inocentes?”.
Brecht, Aos que virão depois de nós
— Sergio Abranches (@abranches) 17 de julho de 2019
Realmente, vivemos tempos muito sombrios!
(…) Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.
Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!