“Vocês vão entrevistar a Dona Sônia? Que chique!” O comentário da vigilante na porta da fábrica, às margens da BR-470, em Blumenau, aguça ainda mais a minha prévia sensação sobre a mulher à frente do império Dudalina. A moça nos encaminha à recepção e passamos pelo estacionamento. O Ford Fusion preto, sempre pilotado pelo motorista Pedro (um dos anjos da guarda de Sônia) está estacionado desde às 7h. Ela gosta de ser a primeira a chegar na empresa.
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Na recepção, imagino qual sala deve ser a dela. Fico com a escondida pela porta mais ampla, que ao ser aberta corre por quase toda a largura da recepção. Nascida em Luis Alves (cidade a 30 km de Blumenau), Sônia Regina Hess de Souza, 56 anos, assumiu a presidência da empresa em 2003. De lá pra cá, a marca deu um salto de crescimento – em 2012, chegou ao faturamento de R$ 380 milhões. Para efeito comparativo, durante o ano inteiro de 2009, o valor foi de R$ 140 milhões – menos do que a metade alcançada em apenas seis meses este ano.
Por causa de Sônia, hoje personalidades como Fátima Bernardes, Lilia Cabral e Patrícia Poeta podem vestir Dudalina. Em 2010, a empresária pediu que fizessem uma coleção de camisas especialmente para ela. Até então, em 53 anos de atuação, a Dudalina foi só masculina. Sônia percebeu no seu desejo pessoal uma amostra do que poderia ser a aspiração da mulher moderna – empreendedora e corporativa. Criou a linha de camisaria feminina da grife, que hoje – só dois anos depois – é a principal vitrina da marca e responsável por 30% da produção total. As camisas femininas Dudalina, com seus colarinhos e punhos inconfundíveis, são sinônimo de elegância e sofisticação. Essas duas palavrinhas aliadas à sensação de uma mulher extremamente vaidosa e quase inacessível são as associações que faço, ainda na recepção, sobre Sônia.
Outro anjo da guarda da nossa entrevistada, a secretária-executiva Sandra, há 15 anos com ela, me encaminha para o lado oposto à sala de porta esplendorosa. Vejo ao fundo um quadro dos pais da empresária: Adelina Hess de Souza e Rodolfo Francisco de Souza Filho, conhecido como Duda. O casal fundou a marca, a partir de uma venda que mantinha na casa em Luis Alves, unindo o apelido dele ao sufixo do nome dela. Simples assim: Dudalina.
Embaixo do quadro do casal, Sônia responde e-mails. A mesa fica de frente para os empregados.
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– Tirei as portas. Não gostava de ficar fechada numa sala. Gosto de ver as pessoas e de manter o acesso a mim liberado. As coisas fluem melhor. Qualquer funcionário pode vir falar comigo – afirma.
Minha outra pré-impressão vai ao chão quando olho atentamente ao rosto de Sônia. Zero maquiagem, nem mesmo um batonzinho.
– Eu não sou muito vaidosa. Raramente sofro para escolher uma roupa. As mulheres deveriam fazer o exercício de sofrer menos com isso. Eu sou prática em todos os segmentos da minha vida – comenta.
No último dia 24, Sônia coroou sua trajetória empresarial recebendo um prêmio inédito entre mulheres. Ela foi eleita a personalidade de vendas do ano pela ADVB, a primeira mulher escolhida em 50 anos da premiação. Em ocasiões como esta, o make e o salto estão em dia. Na rotina de trabalho, permite-se o conforto, a igualdade entre colegas – sem portas de isolamento.
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APAIXONADA POR GENTE
Todos os dias de manhã, João Miranda liga para a esposa e deseja bom dia. Depois combinam de conversarem à noite. João é casado com Sônia Hess há 21 anos. Ele mora em Campinas em função do trabalho; e ela, em São Paulo. Daí, as ligações diárias.
Quando se apaixonou por ele, Sônia levou no mesmo combo as três filhas de João, as quais chama de filha. Veridiana, a mais velha, acabou de dar dois netinhos a Sônia, gêmeos de um ano e oito meses e atual paixão de Sônia.
-Tenho 15 irmãos. Adoro gente. As meninas são filhas para mim. Elas sabem que podem me ligar a qualquer minutos do dia que vou atendê-las.
A paixão de Sônia por gente é notável. Ela comenta ser cercada por alguns anjos do primeiro. Entre eles, a secretária-executiva de São Paulo, Viviane, o motorista em São Paulo, Binho, a empregada doméstica Natalina.
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– Eles cuidam de mim. Têm a chave da minha casa. Todo mundo precisa de gente assim. Eles são parte da minha família.
A irmã Tida revela um pouco mais de Sônia:
– Minha irmã é querida de A a Z na família. Ela é do tipo que cuida de todo mundo. Para mim, tem duas características que explicam o teu sucesso: a empatia – nunca vi um líder político que tem o carisma da minha irmã – e a audácia dela. Ela costuma dizer: sonhe o sonho pronto, ou seja, aquilo que você consegue imaginar e realizar depois” Tida, irmã.
Na lista de anjos, faltou citar a cabeleireira Maria. Sônia detesta salão de beleza. Diz ter “pavor” de conversa de salão. Por insistência de uma das irmãs, há pouco tempo, foi a um cabeleireiro renomado. Pagou R$ 500 o corte e diz ter sido o pior de sua vida:
– Eu prefiro ir na Maria, lá perto de casa, que sabe do que eu gosto e se eu precisar dela às 6h, ela vai estar disponível – afirma.
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