No desenvolvimento de um produto, os designers são responsáveis por investigar as necessidades do consumidor, observando aspectos culturais, sociais, produtivos e ambientais. E é essa a visão que a Bienal Brasileira de Design 2015, em Florianópolis, pretende mostrar ao público e à indústria.
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Em entrevista ao DC, Roselie de Faria Lemos, coordenadora executiva do evento, diz acreditar que as empresas precisam investir na profissão para seguir inovando no mercado. Para ela, o Estado ainda tem muito a avançar para que o papel do designer seja valorizado dentro de grandes companhias. Mas, ainda assim, SC conta com bons exemplos de marcas inovadoras.
Diário Catarinense – Levando em conta que um dos objetivos do evento é contribuir para o desenvolvimento econômico, social e ambiental numa dimensão regional, nacional e internacional, qual é a contribuição para Santa Catarina?
Roselie de Faria Lemos – Ele contribui, primeiramente, em termo de visibilidade, quando falamos que o design de SC vai ser visto nacionalmente. Alguns escritórios de design do Estado receberam prêmios nacionais e internacionais e não sei se isso é divulgado. E o fato é de uma importância grande. É o reconhecimento do que é produzido aqui. Depois tem uma questão que considero mais séria: tentar consolidar o papel do design na indústria.
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DC – Qual o tema do evento neste ano?
Roselie – O tema da Bienal é design para todos. O que nós queremos é o acesso de pessoas de todos os tipos, de todas as raças, de todos os desejos e de todas as dimensões.
DC – Haverá um público estrangeiro?
Roselie – É uma vitrine para os compradores. Virão clientes internacionais para olhar a produção catarinense e que poderão se interessar em fechar negócio.
DC – Qual é o papel da área na indústria?
Roselie – O design é um vetor de desenvolvimento porque é uma ferramenta sistêmica que deve ser aplicada nos processos industriais. Mas não só na parte final do processo, como normalmente acontece. As pessoas pensam: nós queremos colocar o designer para trabalhar neste produto. Mas fazem toda a parte de desenvolvimento e chegam no final achando que a gente tem que dar uma cara bonitinha para o projeto. Não é bem assim. O designer precisa entrar desde o princípio porque toda a nossa metodologia leva em conta aspectos sociais, ambientais, produtivos e, principalmente, aspectos de usabilidade. O relacionamento entre o profissional e o usuário tem sido levado em conta, por exemplo, no processo de inovação. Tudo isso faz parte de uma pesquisa etnográfica em que você observa o usuário e vê quais são as necessidades deles.
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DC – Então, as empresas precisam de uma inovação?
Roselie – O design é centrado no ser humano. E isso tem a ver com o desenvolvimento da indústria. Ela não pode ficar fazendo o que sempre fez. O mundo está mudando rapidamente, as necessidades e os desejos das pessoas estão se modificando com uma velocidade inacreditável. Então, você tem que olhar para o futuro. Se continuar oferecendo só o que sempre ofereceu, sem inovar ou pesquisar, a tua indústria vai fechar. Um dos objetivos da bienal é esse: fazer com que o empresariado entenda que é preciso olhar o futuro, o desejo e a expectativa do usuário. E isso o design faz.
DC – Como você observa o design dentro de algumas marcas de SC?
Roselie – Sentimos que aqui ainda não há uma visão que faça com que o design seja importante dentro da empresa. Ainda há uma visão de que produção e engenharia são mais importantes. Essa questão humana que o design enxerga e que faz parte da formação de um profissional é muito importante. Elas não podem ficar pensando em diminuir o custo do produto, e sim fazer com que ele seja mais elevado.
DC – Poderia apontar as tendências para o design a médio prazo?
Roselie – A grande tendência do design é trabalhar novos materiais. A terra está em crise em termos de matérias e precisamos trabalhar com os novos. Eles geralmente trazem vantagens para a questão produtiva. Por exemplo, podem trazer a diminuição do peso do avião, que diminui o gasto de combustível.
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DC – Hoje as empresas catarinenses já tem uma noção da área?
Roselie – Precisa incrementar um pouco mais. Para o tamanho do parque industrial catarinense, os exemplos ainda são minguados.
DC – Mas elas estão descobrindo?
Roselie – A própria Intelbras já entendeu isso. Ela já está incorporando o design nos produtos. A Whirlpool é uma empresa estabelecida em Santa Catarina e tem contribuindo para o setor mundial de uma forma muito intensiva. O grupo de designer que trabalha para ela em Joinville é muito grande. Eles não fazem design só para o Brasil. A Weg (de Jaraguá do Sul) já ganhou prêmio de design com um transformador.
DC – Há alguma iniciativa de SC que se destaca?
Roselie – Tem várias empresas que estão despertando para o design. O próprio movimento Santa Catarina Moda e Cultura incorporou o design e está trabalhando nisso dentro do ramo têxtil.
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DC – Como estamos em relação a outras partes do país?
Roselie – Infelizmente não posso dizer que estamos no topo. O design está mais desenvolvido no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná. O Paraná tem um movimento muito grande. Mas a gente não pode dizer que SC esteja ruim, mas poderia estar numa posição melhor tendo em vista o parque industrial que temos aqui.
DC – A senhora disse que a proposta é fazer a cidade respirar design. O que seria isso?
Roselie – A proposta que a gente diz de respirar design é assim: estamos dando fôlego com eventos pré-bienal. Esses eventos de esquenta são o fôlego que a gente quer dar para todos. E tem o sentido físico também porque vamos colocar designer na cidade inteira. Não é que vamos colocar banner, mas sim fazer com que os eventos participem da parte física da cidade. Por exemplo, exposição de cartazes em locais públicos. E isso é uma forma para o público participar sem precisar entrar.