Uma jovem cebola precisa de ajuda para escapar da temida panela de óleo fervente, o mais abominável destino possível para um vegetal bulboso. Por isso, deve aprender a pensar e a questionar todas as coisas do mundo, tornando-se, assim, esperta o bastante para driblar qualquer apuro.

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É verdade que A Incrível Fuga da Cebola, da escritora e ilustradora italiana Sara Fanelli, pertence oficialmente à prateleira dos livros infanto-juvenis – a edição maleável e interativa, com ilustrações de encher os olhos, hipnotiza tanto quanto qualquer desenho animado ultracolorido – mas as questões trazidas nas páginas passam ao largo das manjadas lições de moral.

Se você pensar em um elefante, esse pensamento vai ser grande? Alguém mau pode fazer uma coisa boa? Quanto dura um minuto? Onde vão parar as coisas que você esqueceu? A medida em que essas e outras perguntas ganham resposta – em espaços próprios, onde o leitor é convidado a escrever ou desenhar -, a cebola vai conquistando sua liberdade.

Um contorno picotado, que acompanha o livro da capa ao miolo, permite que o desenho da cebola seja destacado das páginas – e o vegetal, assim, vai escapando da fritura, tornando-se um objeto à parte com o qual a criança pode brincar.

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Como o clássico O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, que, mesmo se tratando de uma obra da literatura infanto-juvenil, dorme na cabeceira de muita gente grande, A Incrível Fuga da Cebola mostra que escrever para crianças não significa abdicar de assuntos complexos, como reflexões éticas e existenciais, que no livro aparecem como salvação literal para a pequena cebola.

E quem, quando criança, nunca se perguntou se os alimentos teriam o mesmo gosto para todo mundo? Filosofia pura, para ninguém botar defeito.