Florianópolis já se posicionou como referência nacional em tecnologia, mas agora batalha para reter talentos e capacitar novos profissionais para o ecossistema de inovação presente na “Ilha do Silício”, em referência ao Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, berço de gigantes mundiais do ramo.
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O polo tecnológico da região da Grande Florianópolis é o mais representativo do estado catarinense, com quase 5,8 mil empresas, faturamento total de R$ 8,4 bilhões e 32 mil colaboradores. Segundo os últimos dados disponíveis da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) do Tech Report de 2021, entre as capitais brasileiras, Florianópolis ocupa o primeiro lugar em densidade de empresas de tecnologia, com taxa de 7,4 a cada mil habitantes, seguida de São Paulo, com 7,0, e Curitiba, com 6,1.
A história de como Floripa conquistou a amplitude de negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos envolve uma união de esforços entre players privados e o setor público, e uma mudança de olhar sobre qual seria o grande propulsor do desenvolvimento.
As mudanças que impulsionaram o ecossistema
Os anos 1980 foram de início do fomento da área de informática na capital catarinense, em meio a um boom tecnológico mundo afora, com investimentos governamentais nessa época em diversos países. Aqui não foi diferente. Em 1986, a Acate foi inaugurada, visando administrar o Condomínio Industrial de Informática (CII), prédio que abrigava as primeiras empresas de tecnologia da capital.
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— Na década de 80, Florianópolis formava muitos jovens de boa qualidade. Pelo fato de a cidade não ter indústria, a gente perdia profissionais para outros locais, era uma cidade basicamente de comércio e de funcionários públicos. Como não pudemos ter indústria “suja” na cidade, muitos dos engenheiros começaram a entender que a tecnologia seria uma válvula de escape para permanecer no município. Essa característica fez com que a tecnologia, uma “indústria limpa”, se tornasse viável — conta Juliano Richter Pires, secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia de Florianópolis.
Com a qualificação da mão-de-obra, o polo tecnológico começou a ganhar corpo. No início, começou de maneira mais tímida, a partir da criação de empresas como a Dígitro (1977) e a Softplan (1990), hoje referência mundo afora. Com a ampliação de maior número de startups, as oportunidades de emprego em uma cidade com qualidade de vida diferenciada foram atrativos difíceis para a recusa de grandes talentos, inclusive de outras regiões.
No entanto, com o real mais desvalorizado frente ao dólar em um cenário mais propício ao home office após a pandemia, o desafio de reter esses jovens qualificados é maior, diante da concorrência com empresas internacionais, que pagam em moeda estrangeira.
— A cidade tem atrativos muito bacanas e isso faz com que jovens relacionados à inovação e tecnologia tenham prazer em vir para cá. Com a maior globalização, hoje temos falta de mão-de-obra para a área. Entre os desafios, o primeiro é a capacitação, formar profissionais para mantermos as empresas em Florianópolis. O câmbio nos desfavorece demais. O maior desafio é reter os jovens aqui e trabalhar para empresas da cidade — pondera o secretário.
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Medidas conjuntas do poder público com o setor privado foram de extrema importância para que o ecossistema de inovação pudesse se desenvolver na magnitude em que ocorreu. Por isso, a prefeitura desenvolve uma nova ação, chamada Floripa Mais Tec, com capacitação de forma gratuita e prática, mais voltada a jovens de baixa renda.
O programa possibilita acesso a computadores e ônibus de graça para ir a aulões. Para participar, os jovens precisam ter mais do que 14 anos, interesse por tecnologia, além de muita vontade de aprender. A ação possibilita capacitação em front e back end, computação em nuvem, experiência do usuário, ciência de dados e outras temáticas.
Investimentos são problema diante de juros altos
Com a taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, no patamar de 13,75% e sem grandes perspectivas de mudanças no curto prazo, quem depende de captação de capital em instituições financeiras sofre nesse momento, incluindo as startups e outras empresas de tecnologia. Iomani Engelmann, presidente da Acate, avalia que os investimentos ainda são o maior desafio global do setor de tecnologia.
— Nossa maior preocupação hoje, como entidade, é com os próximos anos de nosso trabalho, pois o cenário de juros altos acaba fazendo com que os investidores olhem com muito mais precaução. O objetivo da Acate para vencer esse entrave, não só para Florianópolis, é atuar em conjunto com diferentes atores, incluindo o Governo do Estado, para criar políticas públicas visando potencializar a atração de investimentos. Nessa pauta, entra ainda a ampliação de recursos destinados a fundos de aval e financiamentos visando o fortalecimento do setor de tecnologia como um todo.
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Engelmann observa que esse movimento é uma tendência em ecossistemas pelo mundo e ainda é uma demanda em Santa Catarina. Tanto investimentos públicos quanto privados são fundamentais para a criação e desenvolvimento das empresas inovadoras, reforça o presidente da associação.
— Em paralelo, a Acate continua firmando parcerias com fundos de investimentos, investidores anjo e fortalecendo nossas metodologias de capacitação para o empreendedorismo e apoiando iniciativas para a formação de talentos. Por meio de programas como o Linklab, que aproxima corporates de startups, conseguimos avançar no implemento à inovação aberta no setor privado e público, contribuindo não apenas para a digitalização de diferentes áreas como também atraindo mais investidores. Outro exemplo é o MIDITEC, incubadora reconhecida pela terceira vez como uma das cinco melhores incubadoras do mundo segundo a UBI Global.
Já a Prefeitura de Florianópolis desenvolveu uma ação de comunicação e promoção do polo tecnológico local em parceria com outros municípios, o Tech Road. Assim, as cidades, em conjunto, divulgam informações sobre a robustez dos seus indicadores, que não deixam a desejar, para chamar atrair investidores internacionais.
— Queremos chamar atenção para investidores internacionais que existe mundo na região sul do Brasil – completa o secretário.
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Saiba mais curiosidades sobre a capital catarinense no canal Floripa Faz Bem.
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