Um dos maiores especialistas do país em contas públicas e PhD em economia pela Universidade de Yale, EUA, o economista Raul Velloso falou ao Diário Catarinense sobre o desafio da Previdência em SC e no Brasil.

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Com a crise, o debate da idade mínima para aposentadoria voltou. Na avaliação do senhor, que idade seria ideal para a aposentadoria no Brasil?

Devemos olhar outros países. No Brasil, no caso de servidores públicos é 65 anos para homens e 60 anos para mulheres. Eu acho no mínimo isso, mas já deveria ser mais alto pelo aumento da sobrevida que o IBGE calcula todo o ano. As pessoas se aposentam, em média com 57 anos. É muito cedo. O INSS fez mudanças para o regime geral de previdência, mas entre as regras que não foram aprovadas a principal foi idade mínima. Não passou porque o então deputado Antonio Kandir votou contra a idade mínima. Ele deu umas desculpas, mas isso mudou o resultado porque faltou apenas um voto. O Brasil é um dos poucos países que não tem idade mínima ou tem uma média baixa comparada com outros países.

Como melhorar as receitas no curto prazo para pagar aposentadorias?

No curto prazo, se não houver uma mudança, o que dá para fazer é aumentar as contribuições dos aposentados. Eles não contribuíam, mas com a última reforma previdenciária, passaram a contribuir sobre o valor que ultrapassa o teto do INSS. O único jeito é tirar de volta. Mas é uma medida superimpopular.

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O que o senhor acha que poderia mudar nas pensões?

Quando os planos projetam contribuição, só olham o aposentado.

A pensão merece atenção. Em nenhum país do mundo a pensão para o cônjuge é integral. Aqui no Brasil é (para o regime geral). Quando morre um, o outro não precisa ganhar a mesma coisa porque é uma pessoa a menos (em SC o percentual já foi reduzido para 70% no caso dos servidores do Estado). Além disso, muitos fundos não cobram todos os benefícios e não são cobertos depois. Uns exemplos são auxílio doença e pensão. O princípio básico é que todos os custos sejam cobertos com contruições.Nem sempre isso acontece. Se o plano estiver todo redondinho cobrindo todas as despesas, é possível olhar para a frente porque o plano entrará em equilíbrio, vai se sustentar.

Outra opção para melhorar as receitas seria o crescimento econômico…

Isso, infelizmente, não é uma coisa que a gente pode contar. Ou acontece, ou não.

Como vê os desafios específicos dos Estados?

Muitos pensam que a Previdência da União está com mais dificuldades. Mas houve uma reforma na União. O problema dos Estados é que, se eles seguiram esse modelo da União, demora para ter um regime coberto com contribuições porque não valeu imediatamente para todos. Só afetou os novos. Vai levar 30 anos até incluir todo mundo. Já avançou bastante.