A tecnologia da Inteligência Artificial vem ganhando espaço em diferentes setores da economia com promessas de ganho de produtividade, escala e revolução em uma série de processos. Da educação à engenharia, da programação ao entretenimento, tudo parece estar prestes a passar por novas mudanças com o advento de inovações como o ChatGPT e outra gama sem fim de recursos de IA. O jornalista e escritor Pedro Doria, colunista da CBN, O Globo e Estadão e especialista na nova tecnologia, falou sobre os ganhos possíveis com IA e as possíveis implicações dos novos recursos. Ele inclui o surgimento da Inteligência Artificial no rol dos principais marcos da informática e até mesmo da nova economia.
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Confira na entrevista a seguir:
No estágio atual de implantação da IA em empresas, quais os ganhos e riscos da tecnologia?
Vamos antes dar um contexto importante. Qual a preocupação que todos os empresários, todo mundo que está no mercado e preocupado com empregabilidade deve ter? Houve quatro revoluções na história da computação, coisas que mudaram o mundo. A primeira foi em 1940, com o surgimento do próprio computador. Sem esse surgimento, os ingleses não iam ter conseguido quebrar o código de comunicação nazista e talvez o resultado fosse outro. A invenção foi crucial na Segunda Guerra.
O segundo momento foi na California, a explosão dos computadores pessoais. Quando eles deixam de ser armários e vão a escritórios, pequenas empresas, isso gera capacidade de aumento de produção, automação, facilitação, barateamento, algo que muda radicalmente a forma como qualquer negócio funciona. Planilha eletrônica, diagramação via computador, tudo muda rapidamente e de forma intensa.
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A terceira revolução é nos anos 1990, com a internet, quando você pega todos os computadores pessoais e os liga um ao outro. E chegamos a essa fase que estamos, da Inteligência Artificial. Quando a gente fala desses eventos, todo mundo reconhece imediatamente que a gente está falando de marcos muito importantes, A IA tem esse tamanho, é tão importante quanto o surgimento do computador, do computador pessoal e da internet.
Quais os ganhos que a IA já está trazendo às empresas e estabelecimentos que a adotam?
Existem três gerações da Inteligência Artificial. Uma começa em 1997, com o surgimento do Deep Blue, um computador da IBM que venceu Guerry Kasparov, campeão mundial de xadrez. Aquele negócio é um marco de surgimento, é o que a gente chama de aprendizagem de máquina (machine learning). As máquinas capazes de aprender, e naquele caso ela aprendeu a jogar xadrez e venceu o campeão mundial.
O que a aprendizagem de máquina faz é compreender padrões de comportamento humano. Quando você entra em uma loja eletrônica e ela te sugere livros a partir do teu padrão de compra, porque ela sabe o que pessoas parecidas com você gosta, ou quando o Netflix sugere coisas parecidas com o que você gosta de assistir, ou o Instagram, Tik Tok ou Twitter estão sugerindo para você áudios, posts, baseados no que você pode gostar, Isso é primeira geração de Inteligência Artificial, capaz de perceber padrões humanos que se repetem, e você tem diversas aplicações disso.
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Em 2012 entra o que a gente chama de redes neurais, como se espalhasse um monte de algoritmos de machine learning um em cima do outro. Se a primeira geração de IA percebia, era capaz de construir modelos em cima da percepção de padrões, o que a segunda geração faz é emular os sentidos humanos. Quando no Google Fotos, você pode digitar seu nome e ele mostra todos os arquivos que mostram seu rosto, o carro autônomo que dirige por conta própria, a caixa de som inteligente que ouve comandos e obedece, são IA capazes de emular os sentidos humanos, a voz humana.
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Em 2017, surge a terceira geração de Inteligência Artificial. É a IA generativa, capaz de emular a criação humana. Ela vai criar imagem, filme, texto, em cima de pedido qualquer que você faça. A gente está nesta fase agora. É um troço que muda radicalmente tudo. De repente no escritório de advocacia você não vai mais precisar de 20 advogados buscando numa biblioteca por todos os casos parecidos como esse que você vai enfrentar, para pesquisar melhores táticas. Não, você pode pedir à IA e ela vai sugerir em cima da jurisprudência. Você está num jornal e pode pedir para a IA preparar uma matéria breve fazendo toda a memória de determinado caso, e ela vai preparar. Você pode pedir para pegar dados de scout do jogo e preparar uma matéria com as estatísticas da partida, no tom que você desejar.
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Em todas as profissões que trabalham produzindo texto você vai precisar de menos gente fazendo. É o mesmo com imagem, vai precisar de menos gente editando vídeo, menos artista fazendo ilustração. Agora, a gente está falando de uma coisa que vai acontecer no futuro, nos próximos 10 anos. Não aconteceu ainda. Qual o truque aqui? A gente não sabe com que velocidade isso vai se desenvolver, pode ser muito rápido, tudo indica que será, mas isso não está dado.
Se você é uma empresa, tem que começar a se familiarizar com essas ferramentas, porque no momento que estiver pronto para escritório de advocacia, nos primeiros três meses vai ter dois, três escritórios adotando, e os outros só vão se tocar quando os primeiros ganharem uma ampla vantagem competitiva. Quanto mais cedo adotar, tiver preparado para adotar, mais rápido vai se adaptar. O que fazer hoje? Entender o que se tem, onde que funciona, onde não funciona, imaginar maneiras de se usar.
O que dizer para quem teme os riscos da IA ao mercado de trabalho, como a possibilidade de ela eliminar empregos?
Vamos dizer que você é profissional. O que você faz? Aprende a usar essas ferramentas. Por que elas não operam sozinhas, operam como copilotos. Isso quer dizer que vai precisar de menos jornalistas, mas isso não quer dizer que você não vai precisar de jornalistas. Vai precisar de gente checando se as informações estão corretas, porque essas ferramentas não sabem distinguir verdade de mentira, dão a resposta e não sabem distinguir. Preparam texto, mas não checam essa informação, não têm essa capacidade.
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Seres humanos têm. Então, se você é um profissional que está em uma atividade que pode ser tocada por IA, (é importante) aprender a usar essas ferramentas o mais rápido, porque em algum momento vai ter alguém na sua empresa que diga: “precisamos de gente que saiba disso”.
Onde a IA já se mostrou eficiente, capaz de trazer ganhos, e onde ela ainda precisa pode ser errática, por exemplo?
Essa tecnologia só se tornou utilizável em 2022. Ela ainda é errática. Mas a quantidade é grande de empresas que contratavam ilustradores e já não estão contratando mais. Revistas pequenas, sites, já estão cada vez mais produzindo imagens usando sistemas de IA que permitem produção de imagem. Você já tem algum tipo de uso em universidade, veículos de comunicação e escritórios de advocacia do Chatgpt ou Bard IA, que é a ferramenta do Google.
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Ele faz muito bem resumos, pode fazer sugestões para pesquisas, quando não se conhece muito bem o tema e vai fazer entrevista, ele já te adianta muito o trabalho, mas depende muito de você se preparar para entender as possibilidades dele. A ferramenta é essencialmente experimental. te adianta, pode escrever alguns parágrafos de assunto pra você, se você joga um texto e pede para escrever naquele estilo, ele dá uma adiantada, mas tem que aprender a usar.
A expansão da IA traz uma série de conflitos éticos, como os direitos sobre as criações ou sobre o uso de imagens. Estamos preparados para lidar com esses assuntos?
Não. Não tem regra ainda para como a IA funciona. Como não tem regra, é um ambiente de insegurança jurídica. Mas isso é uma coisa que vai se resolver, é uma questão de tempo, não deve ser questão de muito tempo, mas hoje não tem regra ainda, está meio no caos. Tem quebra de direito autoral, não está claro o que pode e o que não pode.
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Tem escritores que estão processando a Open IA porque tiveram livros usados para treinar a ferramenta. Nada dessas coisas estão claras, aí vai ser uma mistura. Vai haver processos, vai se criar histórico de jurisprudência, e aos poucos os parlamentos vão regulamentando.
Aspectos como segurança dos dados e transparência nas informações têm sido considerados hoje nos projetos de implantação de Inteligência Artificial?
Transparência é um problema porque não se sabe com muita frequência a origem da informação que ela está dando, não tem uma fonte. E isso não é simples de resolver porque os próprios engenheiros que desenvolvem dão muitos trilhões de textos para o ChatGPT consumir e não se sabe necessariamente de onde ele tirou aquela informação que ele está te dando.
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Quando começamos a ter a IA tomando decisões como se você vai ter empréstimo com juros maiores ou menores, é mais difícil para uma ferramenta qualquer dessa compreender porque você teve uma decisão por parte do banco ou seguro saúde, que forneceu um benefício ou malefício. A transparência é um problema, mas isso faz parte do jogo, de regras que têm se criado.
Quais os principais desafios colocados hoje para as próximas etapas da Inteligência Artificial nas empresas?
É processamento. Processamento de computador. Dependem de processamento, portanto a gente precisa de tempo para computador processar. Tempo e máquina. Quanto mais máquina trabalhando.
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