
Início de ano é tempo de focar em novos objetivos, resgatar metas antigas e atualizar algumas delas. Neste momento, muitas pessoas param para refletir sobre como estão levando suas vidas, de que forma estão influenciando aqueles com quem convivem e que legado deixam para o mundo. Uma reflexão da qual eu gosto muito e que sempre passa pela minha cabeça tem relação com a individualização do ser humano, mesmo com tantos meios que temos, cada vez mais, para socializar, e a automatização de tantos processos que vivenciamos.
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Para deixar mais claro o que quero dizer, trago como exemplo a minha área de experiência, que é a tecnologia. Toda história tem pelo menos dois lados, com pontos positivos e outros não tão bons. Assim, ao mesmo tempo que a tecnologia nos traz infinitas possibilidades de termos uma vida melhor em diversos aspectos, ela também automatiza tantas coisas quanto possamos imaginar, e nos torna mais processados e menos processadores de informações.
Nossas necessidades e desejos são atendidos muito facilmente com as diversas tecnologias a que temos acesso todos os dias na palma das mãos, por meio dos nossos celulares. Segundo dados do relatório Estado de Serviços Móveis, divulgado no início do ano passado, o Brasil é o 5º país com maior uso de smartphones, passando mais de três horas diárias em função do aparelho.
A 30ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, realizada pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) e divulgada no mesmo ano complementa: a previsão era de que, até o fim de 2019, 420 milhões de aparelhos celulares estivessem ativos.
Este número representa mais que o dobro da população brasileira (202 milhões, segundo o IBGE, até setembro de 2019), o que mostra que estamos cada vez mais conectados, e também cada vez menos ativos no mundo real.
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Se não temos carro, podemos nos deslocar sem nenhuma dificuldade por meio dos aplicativos de celular. Se não queremos cozinhar, bastam alguns cliques em uma plataforma online e temos qualquer tipo de comida em pouco tempo na nossa mesa. Se temos um problema com alguém, damos “unfollow” nas redes sociais.
As relações são cada vez mais líquidas, como teorizou o grande sociólogo polonês Zygmunt Bauman, e nisso nós vamos perdendo a nossa humanidade. Precisamos utilizar a tecnologia para o nosso bem e a nosso favor, torná-la mais humana para que não percamos esta que é uma característica tão marcante da nossa espécie.
Por isso, neste começo de ano, proponho a reflexão sobre nos dedicarmos mais a aspectos que hoje parecem tão banais, como esses que citei. Que possamos utilizar a tecnologia, que com certeza vem para o nosso bem, de forma equilibrada e honesta, não deixando relegadas a ela todas as nossas atividades e funções do dia a dia. Não nos tornando dependentes exclusivamente dela, mas usufruindo de cada momento da melhor forma possível, com o apoio dos recursos que ela nos oferece.