“Hoje as mulheres estão muito mais guerreiras, perdemos o medo. A gente conseguiu se libertar e meter a cara”. O relato da “marida de aluguel” Priscilla Matos — moradora de São José que oferece serviço de pequenos reparos — e as recentes manifestações de personalidades públicas ao redor do mundo clamando por igualdade salarial entre homens e mulheres mostram que, de fato, elas estão fincando cada vez mais os pés no mercado de trabalho. É um movimento sem volta.

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Ainda que as mulheres continuem sendo as principais responsáveis pelas tarefas domésticas — de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, no Brasil, elas trabalham 4,3 vezes mais nestas funções do que os homens —, a participação no mercado de trabalho brasileiro saltou de cerca de 10% na década de 1960 para 44% em 2016 (dados do governo federal).

De acordo com o estudo Global Entrepreneurship Monitor 2016, realizado em parceria com o Sebrae e o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ) e divulgado este ano, as mulheres ultrapassaram os homens na criação de novos negócios. A taxa de empreendedorismo feminino entre os novos empreendedores — aqueles que possuem um negócio com até 3,5 anos — é de 15,4%, enquanto a masculina é de 12,6%.

Na Grande Florianópolis, são vários os exemplos de mulheres que partiram para a labuta. Algumas delas inclusive apostaram no empreendedorismo para montar seu negócio próprio e tomar as rédeas de suas vidas.

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A Hora foi atrás dessas histórias e pode conhecer um pouco mais de Priscilla Matos, “marida de aluguel”, Gisele Catharinelli, instrutora de autoescola exclusiva para mulheres, e das amigas Angela Monguilhott, Isabel Hagemann e Leila Pinheiro, que, juntas, abriram dois bares.

Mãe e faz-tudo

Os homens da família sempre deixavam para depois os pequenos consertos. Assim, Priscilla Matos, que nunca foi de fugir das responsabilidades, foi se tornando a “faz-tudo” dos parentes. Há dois anos e meio, quando ficou desempregada, ouviu da sogra uma sugestão: “ô guria, tens que fazer o ‘Marida de Aluguel'”.

— Ficou legal o nome, né? Na época, comentei com a minha esposa e a minha cunhada e elas adoraram a ideia. Em 10 minutos, minha cunhada já tinha criado a logo e as páginas nas redes sociais. Rapidinho explodiu — lembra.

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Aos 40 anos, Priscilla é uma mulher batalhadora. Logo cedo, em São José, onde mora, embarca em um ônibus escolar e faz o trabalho de monitoria das crianças. Às 8h30min, atende os clientes da Marida de Aluguel. Às 11h30min, volta para o serviço no transporte escolar. Às 13h, retorna aos pequenos reparos, e, às 17h, faz a última viagem do dia no ônibus. É uma rotina puxada, mas que vale a pena.

— Hoje eu trabalho com a Marida de Aluguel e com o ônibus, porque tenho um filho para criar e uma escola para pagar. Ainda preciso do salário fixo, porque a “Marida” ainda é muito variável. Mas vou na garra e faço os dois — relata.

Entre serviços de elétrica, hidráulica, instalação de eletrodomésticos e montagem de móveis, Priscila atende cerca de 40 clientes por mês em toda a Grande Florianópolis. Com os primeiros rendimentos, investiu em mais equipamentos, como uma furadeira industrial. Assim, ela conta que já consegue mais R$ 2 mil, em média, para engrossar a renda familiar.

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O Marida de Aluguel não é um serviço exclusivo para mulheres, mas elas são mais de 90% dos seus clientes. Priscilla acredita que boa parte do sucesso do seu trabalho é justamente por também ser mulher.

— Elas dizem que tem medo, que acontece de um homem ir fazer um serviço e depois ficar mandando mensagem, dando em cima. Tem muito relato assim.

Quem quiser conhecer mais sobre o Marida de Aluguel pode entrar em contato pelo telefone (48) 98438-0309 ou pela página no Facebook (facebook.com/maridadealuguelpereirao).

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Mudança de rumo

Tirar a carteira de motorista e começar a dirigir em um trânsito tão carregado quanto o da Grande Florianópolis não é das coisas mais simples. Muitas pessoas ficam com medo de sofrer acidentes e, eventualmente, acabam desistindo de dirigir. Para não deixar esse pessoal na mão e atender um público específico, Gisele Catharinelli, de 40 anos, criou uma autoescola para pessoas habilitadas exclusivamente para mulheres.

— Muitas dizem que o marido acha que elas têm que dirigir igual a eles. Isso gera medo, insegurança e brigas. Elas se sentem mais à vontade com instrutoras — conta.

E foi assim que, depois de 12 anos trabalhando como instrutora em autoescolas de Florianópolis, Gisele decidiu montar seu próprio negócio. Ela percebeu um nicho de mercado que não estava satisfeito com os serviços oferecidos até então e decidiu apostar.

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— Hoje só me arrependo de não ter feito antes. Quando montei a empresa, continuei na autoescola e esperei para ver se tinha procura. Quando percebi que estava perdendo cliente porque tinha que cumprir horário na empresa em que trabalhava, decidi trabalhar só com o meu negócio.

O começo não foi fácil, é claro, tanto é que ela decidiu não largar o emprego com carteira assinada para apostar em uma “aventura”. Para seguir com seu sonho, Gisele encontrou apoio no seu marido Fernando, com quem compartilha a vida há 8 anos.

— Eu pensava “e se eu sair do trabalho e não der certo?” O Fernando me passou confiança e disse que se não desse certo ele me ajudaria com as contas. Foi aí que larguei o emprego e comprei um carro para dar as aulas — comenta.

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Atualmente, a instrutora tem a agenda cheia até o final de novembro. Ela oferece pacotes de 20 aulas (10 dias) ao custo de R$ 900 (em até 10 vezes) ou R$ 800 (à vista) e conta que suas clientes são, na maioria, mulheres casadas com mais de 30 anos.

— A maioria das que me procuram e que não dirigem são perfeccionistas, se cobram demais. No trânsito, elas estão preocupadas o tempo todo com o carro que está atrás delas. Mas o importante é se preocupar em sinalizar corretamente, não frear bruscamente… Aos poucos, a gente vai ensinando e passando confiança para elas.

Quem quiser conhecer mais sobre o Praticar Floripa — Treinamento para Habilitadas pode entrar em contato pelo telefone (48) 99607-2171 ou pelo site praticarfloripa.com.

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As donas da casa

Dez anos atrás, Angela Monguilhott, Isabel Hagemann e Leila Pinheiro se conheceram trabalhando em um restaurante em Jurerê Internacional, em Florianópolis. Três anos depois, inauguraram o Boteco Zé Mané, em Coqueiros, aquele que seria um dos primeiros bares da Capital com aquela cara de boteco que tanto se vê em outras cidades do Brasil.

— A gente se conheceu e, depois de um tempo, resolvemos abrir um negócio próprio. A gente queria que tivesse raiz, mas que tivesse diversão, toda essa coisa do boteco que ainda não havia em Floripa — conta Angela.

A ideia era montar um lugar que tivesse boa comida, boa bebida, jogos de dados e cartas, frases e fotos nas paredes, além de garantir que o lugar tivesse uma história. As três encontraram uma casa antiga em Coqueiros, “caindo aos pedaços”, e decidiram reformá-la.

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— A gente quis manter a estrutura da casa, para preservar a história. Claro que mudamos alguma coisa, mas a estrutura foi mantida. O mesmo azulejo da cozinha está lá, as janelas ainda são azuis… — comenta Angela.

Não precisa nem dizer que foi um sucesso. Com ela à frente da coordenação da equipe e das questões burocráticas, Leila gerenciando o setor financeiro e Isabel comandando a cozinha, o Boteco Zé Mané deu tão certo que elas já abriram outro bar na região.

Parte do sucesso vem das mãos da chef Isabel Hagemann. Com perícia e criatividade, ela recria pratos típicos brasileiros em forma de bolinhos. O grande atrativo da cozinha, por exemplo, é uma coxinha de feijoada. A receita leva costelinha, bacon e linguiça, a massa é de feijão e ainda tem uma geleia de laranja para complementar. Mas para saber realmente como é saborosa, o melhor é ir até lá experimentar.

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Isabel é uma cozinheira de mão cheia. Em 1987 abriu seu primeiro restaurante, no interior do Rio Grande do Sul, em sociedade com o ex-marido. Ele não segurou a bronca, e não demorou para que ela largasse a sociedade e o casamento.

— O restaurante com o marido dava dor de cabeça em dobro. A gente era muito jovem, deu muito problema. Eu queria cozinhar e não podia, porque tinha que fazer todas as outras coisas. No final, já preferia que ele nem fosse trabalhar, porque atrapalhava mais do que ajudava — lembra Isabel.

Depois do divórcio, a chef veio para Florianópolis, onde conheceu duas mulheres incríveis com decidiu tentar novamente. A aposta era de que, ao lado de pessoas comprometidas e com as mesmas afinidades, o novo negócio iria prosperar.

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— As mulheres sempre organizaram as coisas em casa. Agora, estamos saindo da zona de conforto. É uma evolução que não tem mais volta — afirma Isabel.

— As mulheres antes ficavam muito em casa por causa da família, mas isso mudou muito. Elas resolveram empreender para poder ter a vida delas. Isso é muito forte hoje em dia. A gente está mais forte — completa Angela.

Quem quiser conhecer o Boteco Zé Mané fica na Rua Desembargador Pedro Silva, 2360, em Coqueiros. Mais informações pelo telefone (48) 3204-8652.

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Por onde começo?

Se você tem uma boa ideia, sentiu-se inspirada pela história dessas mulheres e quer começar a empreender seu próprio negócio, aqui vão algumas:

— Pesquise sobre o produto ou serviço que deseja oferecer, possíveis clientes e fornecedores;

— Procure saber se há concorrentes e como eles funcionam;

— Esteja comprometida, principalmente no começo. É preciso tomar a responsabilidade para si e realizar as tarefas necessárias;

— Persista. O negócio pode demorar a apresentar resultados satisfatórios, mas isso não significa necessariamente que ele está indo mal;

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— Estabeleça metas e objetivos (por dia, mês ou ano) para não perder o foco do trabalho;

— Planeja as ações e acompanhe os resultados. Assim você perceberá se o negócio está apresentando bons resultados;

— Mantenha-se motivada e convicta. Comemore cada conquista.

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