Elisa Nicolodelli, 56 anos, veio do Paraná com os pais e mais quatro irmãos por causa da oferta de emprego em Blumenau. A mãe dela, Jorgina, tinha medo de enchente, pois já conhecia o histórico da cidade. E tão logo chegou ao município, a família foi surpreendida por uma cheia na Rua Rodeio, no Centro. Os donos do imóvel não avisaram que pegava água no endereço.
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Depois de ter a casa inundada e perder praticamente tudo, a mãe de Elisa decidiu que iriam se mudar para um prédio na Rua 7 de Setembro, perto do Neumarkt Shopping, onde a cheia não alcançava tão facilmente. A essa altura, o marido de dona Jô, como era chamada, tinha conseguido um emprego na loja NM. Quando a enchente de 1983 veio, ela e a família estavam seguros.
Porém, ao ficar sabendo que havia pessoas ilhadas precisando de ajuda no segundo andar da empresa onde o esposo trabalhava, ela não conseguiu ficar de braços cruzados. Jorgina, então com 44 anos, colocou comida e remédio em uma bolsa e pegou uma carona de bateira em direção à loja, perto do atual Terminal da Proeb, onde a água estava bem elevada.
— Ela ficou sabendo que em cima da loja tinha gente passando fome, crianças com febre e resolveu ajudar — conta Elisa, que na época tinha 16 anos.
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Na bateira em que dona Jô entrou, havia uma mulher grávida, recorda a filha. Quando estavam bem em frente à marquise da NM, a gestante teria ficado nervosa com o movimento forte da água e a embarcação virou. Dona Jô não sabia nadar e precisou ser socorrida por um homem.
— Ela contava que a sensação era de que iria morrer, imaginou que ninguém conseguiria salvá-la. Sempre comentava não saber como aquele homem magrinho tinha conseguido segurá-la.
A cena ficou registrada pelas lentes dos fotógrafos do Santa e foi capa do jornal. Dona Jorgina é a mulher de cabelo curto que aparece de costas sendo erguida por um homem e segurada na mão por outros enquanto é colocada em segurança na marquise da loja justamente onde ia prestar auxílio. Elisa diz que por muitos anos a mãe recordou daquele momento e contou a aventura aos parentes.

Jorgina retornou para casa no mesmo dia, após cumprir a missão, e continuou fazendo o possível para ajudar os outros ao longo da enchente. A filha recorda da mãe cozinhando panelas de feijão e chuchu para servir a quem passava em direção ao Hospital Santa Isabel em busca de auxílio. Além de doar cobertores para quem tinha perdido os pertences.
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Em 2006 voltou a ser clicada no local do emblemático resgate. A imagem mostra Jô apontando com a mão a altura da água naquele dia. Ela faleceu há sete anos, mas a história da enchente de 1983 deixou uma lição para toda a família, garante Elisa:
— Ela sempre nos mostrou que a vida era ajudar o próximo.

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