Nada de câmeras apontadas ou selfie. É papel ou camisa e caneta na mão. Com apenas 20 anos, Victor Bertoli Meira ainda mantém vivo o bom e velho costume de pedir a assinaturas de famosos. Em seu acervo possui exatamente 2.155 rubricas que começaram a ser coletadas ainda quando criança, o que o torna um “caçador de autógrafos”.

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Tudo começou quando ele tinha apenas oito anos. Da janela do quarto da mãe, de onde se enxerga a frente do Majestic Palace Hotel, na região central de Florianópolis, viu o ônibus do time do Grêmio estacionar e avisou a mãe, aos gritos. Na mesma hora, ela o pegou pela mão, sacou a câmera fotográfica e foram.

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— Zé Roberto (ex-jogador de futebol) foi o primeiro autógrafo que peguei. Ali eu já me apaixonei por aquilo. Ainda era bem amador, criancinha, peguei a assinatura em um caderninho mesmo. A mãe sempre incentivava e acompanhava nas caçadas. Com o tempo fui me profissionalizando, revelando fotos, ampliando também a rede de contatos — conta.

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Ciumento com as peças, Victor mal deixa a mãe tocá-las e mantém tudo bem guardado em uma pasta arquivo, principalmente as fotos, para evitar umidade. Com relação a trocar as selfies pelo registro escrito, diz que é para ser diferenciado e demonstrar carinho pelos artistas.

— Partiu do lado histórico da coisa, hoje todo mundo só quer selfie e eu tenho essa raiz desde pequenininho. Em questão de preservação, o papel é mais complicado, por isso eu revelo fotos. O atleta ou a celebridade se sente prestigiado, porque eu sempre levo [foto de] um gol marcante, o jogador levantando a taça ou algo especial para a pessoa. Para mim é a marca registrada que eu estive com a pessoa, é algo palpável — explica.

Veja fotos do acervo de Victor

Do rei Pelé a Valesca Popozuda

Victor tem nas suas mais de 2 mil assinaturas todo quanto é tipo de celebridade, desde os que fizeram sucesso no passado aos que estão na cena atualmente. Da TV, possui a assinatura de Silvio Santos; da música, tem de Julio Iglesias, sucesso na década de 1980, e Valesca Popozuda; e astros do cinema, como Johnny Depp e Jackie Chan.

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O futebol, no entanto, é o ramo em que mais coleciona autógrafos, já que é sua principal paixão e motivo pelo qual começou as caçadas. Dos gramados, tem rubricas de estrelas como Pelé, Maradona,
Lev Yashin (único goleiro a conquistar a Bola de Ouro), Alex Ferguson (um dos maiores técnicos da história do futebol), CR7, Messi, Neymar e campeões do Tetra e Penta.

Além de camisas de time, o jovem também tem bolas autografadas, luvas de goleiro e até um cavaquinho com todos os pagodeiros e sambistas possíveis, como Belo, Alexandre Pires, Péricles, Alcione, Anderson Leonardo, do Molejo, integrantes do Pixote, e Zeca Pagodinho, que conseguiu neste ano, na vinda do artista para Grande Florianópolis.

— Todos são muito importantes, mas o que considero mais especial é o do Neymar. Eu consegui na época do Santos de 2012. Eu era bem pequenininho, é um valor sentimental. Foi numa regatinha pequena, tamanho 12. Mas não tem como elencar um principal, tem vários. O do Ronaldinho Gaúcho também consegui em 2012, no Majestic. Na época ele veio de jatinho direto da Suécia e eu consegui pegar no hotel — lembra.

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Estratégias

Já “profissional” no ramo, Victor tem como equipamento de trabalho a mochila, roupas confortáveis, barrinhas de cereal e água, além, é claro, das fotos ou camisas de time e uma caneta. Dependendo do local, vai na companhia dos amigos ou até sozinho de bicicleta, ônibus ou Uber. O importante é voltar para casa com a assinatura.

Ele destaca que tem hora para sair, mas não para voltar. A paciência é uma grande aliada e, atualmente, vive mais no aeroporto de Florianópolis do que na própria casa. Para mapear onde os famosos estão, monitora as redes sociais, segue a produção, fã-clubes e casas de show.

— Agora ficou muito mais complicado, porque antes era do lado da minha casa, agora preciso ir até o aeroporto e fazer plantão o dia todo lá. Fiz alguns amigos que estão nas vans dos artistas que fazem a logística de ida e volta, e sempre tento uma informação ou outra, mas nem sempre é certeira. Em 90% das vezes que consigo é pela minha raça — comenta.

O jovem diz que não costuma viajar muito para conseguir as assinaturas. O destino mais distante que chegou a ir foi Curitiba, quando os rivais Coritiba e Athletico Paranaense disputavam a Série A. Ele batia ponto na cidade paranaense às quartas e sábados.

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Além de conseguir pessoalmente, Victor mantém uma rede de contatos de colecionadores do Brasil e do mundo em que faz trocas de autógrafos. Ele também manda e-mails e cartas para os clubes, CTs e, algumas vezes, até para a casa dos atletas quando consegue descobrir o endereço. O colecionador conta muito com a sorte e diz que já chegou a enviar seis cartas para conseguir um retorno.

— Às vezes tem leilões de camisas autografadas e eu compro. Às vezes compro uma que eu já tenho e a uso de moeda de troca. Por exemplo: com duas do Ronaldinho, consigo uma do Messi. Já fiz isso várias vezes com os gringos, como na Polônia, Alemanha. Tenho amigos poloneses e, lá, é bem forte esse negócio de autógrafo. Esta semana mesmo mesmo mandei uma carta para colecionadores na Coreia do Sul — cita.

O objetivo de Victor, agora, é ainda mais ousado: conseguir o autógrafo de Paul McCartney, que fará show na Ressacada neste sábado (19). Para ele, é quase que uma missão impossível, “mas não custa tentar”.

Legado de família

Morando a duas quadras do Majestic, renomado hotel de Florianópolis que já foi hospedagem de muitos artistas, Yara Jane Bertoli, de 59 anos, repassou ao filho mais velho, mesmo que sem querer, a arte de colecionar autógrafos.

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A mulher conta que os garotos ficavam empoleirados na janela do quarto e, quando viam alguma movimentação prévia, já gritavam: “mãe, chegou”. Sem celular, sacavam a câmera fotográfica e corriam em direção ao hotel.

— Eu sou dona de casa, não podia ficar aqui horas olhando, tinha que fazer almoço, lavar a louça e deixar as coisas em ordem. Aí eles ficavam monitorando. Quando chegava [alguma celebridade], um ia no colo e o outro correndo atrás. Chegava lá esbaforida pra pegar autógrafo dos caras — conta, aos risos.

Apesar de compartilharem o mesmo hobby de colecionar manuscritos, mãe e filho têm gostos diferentes, cada um de sua época. Enquanto que Yara é amante do pop rock e sertanejo raiz, Victor é do samba e do pagode.

Assim como o filho, quando jovem, Yara diz que vivia em frente ao Floph Hotel em busca de um autografo. Numa dessas, conseguiu fazer um clique de Caetano Veloso, o qual guarda com carinho em um álbum com outros recortes de jornal e fotos de artistas, além de um chapéu assinado por diversos sertanejos, como Chitãozinho e Xororó.

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— Eu sempre fui apaixonada por música, eu não gosto de balada, mas de shows. Estive no primeiro Rock In Rio, já fui nos shows de Eric Clapton e Paul McCartney, tenho autógrafo de Alceu Valença, de Bebeto… Uma vez até preparei almoço para o Serginho Malandro e ele nos deu o endereço dele no Rio de Janeiro. Então isso já está no DNA, está no sangue. O que ele faz hoje em dia, eu fazia anos atrás — enfatiza.

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