*Por Gretchen Reynolds

Pessoas com taxa elevada de açúcar no sangue podem se beneficiar menos dos exercícios físicos do que aquelas que têm a taxa normal, de acordo com um novo estudo preventivo sobre nutrição, glicose no sangue e exercícios. A pesquisa, que envolveu ratos e pessoas, sugere que manter uma dieta rica em açúcar e alimentos processados pode estabelecer um controle inadequado da glicemia e prejudicar nossa saúde em longo prazo, alterando em parte a maneira como nosso corpo responde aos exercícios.

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Já temos muitas evidências, é claro, de que o excesso de açúcar no sangue não é saudável. Pessoas com hiperglicemia tendem a estar acima do peso e enfrentam maiores riscos, em longo prazo, de ter doenças cardíacas e diabetes tipo 2, mesmo que, nos estágios iniciais, sua condição não atenda aos critérios para essas doenças.

Elas também tendem a estar fora de forma. Em pesquisas epidemiológicas, indivíduos com taxa elevada de açúcar no sangue muitas vezes também têm pouco condicionamento aeróbico. Da mesma maneira, em estudos realizados com animais, ratos criados com baixa resistência desde o nascimento apresentam problemas precoces de glicose sanguínea. Essa inter-relação entre açúcar no sangue e boa forma física é procedente, em parte porque o baixo condicionamento aeróbico está intimamente ligado a um alto risco de morte prematura.

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Mas a maioria dos estudos anteriores sobre glicose no sangue e boa forma foi epidemiológica, o que significa que eles identificaram vínculos entre as duas condições, mas não sua sequência ou os mecanismos. Esses estudos não esclareciam se a hiperglicemia geralmente precede a baixa aptidão física e leva a ela, ou vice-versa, ou como cada uma das condições influencia a outra.

Portanto, para o novo estudo, publicado no mês passado em “Nature Metabolism”, os pesquisadores do Centro de Diabetes Joslin, em Boston, e outras instituições decidiram aumentar os níveis de açúcar no sangue dos ratos e verificar o que acontecia quando estes faziam exercícios.

Os pesquisadores começaram com os ratos adultos, mudando a alimentação de alguns de ração normal para uma dieta rica em açúcar e gordura saturada, semelhante à que muitos de nós do mundo desenvolvido ingerimos hoje em dia. Rapidamente, esses ratos ganharam peso e desenvolveram, em geral, uma taxa elevada de açúcar no sangue.

Em outros ratos, eles injetaram uma substância que reduz a habilidade de produzir insulina, um hormônio que ajuda a controlar a glicose do sangue, algo parecido com o que acontece com as pessoas que apresentam certas formas de diabetes. Esses animais não engordaram, mas as taxas de açúcar no sangue aumentaram na mesma proporção das taxas dos ratos do grupo da dieta açucarada. Outros animais continuaram recebendo a ração normal, como grupo de controle.

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Depois de quatro meses, os cientistas verificaram o condicionamento de cada rato, medindo quanto tempo eles poderiam correr em uma esteira antes de ficar exaustos. Em seguida, colocaram uma roda de corrida na gaiola de cada animal e os deixaram correr à vontade pelas próximas seis semanas, o que eles fizeram. Em média, cada rato percorreu cerca de 300 milhas durante esse mês e meio.

Mas nem todos alcançaram o mesmo nível de condicionamento físico. O grupo de controle passou a correr por um período muito maior na esteira antes da exaustão; ele estava mais condicionado. Mas os animais com níveis elevados de glicose no sangue apresentaram pouca melhora. Seu condicionamento aeróbico ficou praticamente estável.

Curiosamente, sua resistência aos exercícios foi a mesma, quer seus problemas com os níveis de açúcar no sangue resultassem de má alimentação ou falta de insulina, quer estivessem acima do peso ou mais magros. Se tinham taxas elevadas de glicose sanguínea, eles resistiam aos benefícios dos exercícios.

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Para entender melhor o motivo, os cientistas procuraram a resposta seguinte nos músculos. E as condições eram significativas. Os músculos dos animais de controle estavam repletos de fibras musculares novas e saudáveis e uma rede de novos vasos sanguíneos transportando oxigênio suplementar e combustível extra para eles. Mas os tecidos musculares dos animais com taxa elevada de açúcar no sangue exibiam sobretudo novos depósitos de colágeno, uma substância rígida que parece ter expelido os novos vasos sanguíneos e impedido que os músculos se adaptassem ao exercício e contribuíssem para um melhor condicionamento.

Finalmente, como ratos não são pessoas, os cientistas checaram os níveis de glicose sanguínea e a resistência em um grupo de 24 jovens adultos. Nenhum deles tinha diabetes, embora alguns apresentassem taxas consideradas pré-diabéticas. Durante o teste de condicionamento físico na esteira, os voluntários com o pior controle de açúcar no sangue também tiveram a resistência mais baixa, e quando mais tarde os cientistas examinaram microscopicamente os tecidos musculares, depois da realização de exercícios, eles encontraram uma ativação muito alta das proteínas que podem inibir as melhorias no condicionamento aeróbico.

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Levando tudo em consideração, os resultados nos ratos e nas pessoas sugerem que “se entupir de açúcar constantemente não é uma boa ideia para os tecidos musculares” e pode minar qualquer benefício subsequente dos exercícios, segundo Larah Lessard, professora assistente do Centro de Diabetes Joslin e da Escola de Medicina Harvard, que supervisionou o novo estudo.

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No aspecto prático, as descobertas sugerem que, para aqueles cujos níveis de glicose no sangue dependem da dieta, talvez seja necessário reduzir a ingestão de açúcar e de alimentos gordurosos altamente processados, que também pode aumentar o açúcar no sangue e os efeitos bruscos dos exercícios, explica ela. (Os ratos do grupo de controle comeram uma ração rica em carboidratos, portanto os carboidratos, por si sós, não são necessariamente o problema, diz ela; mas a qualidade da dieta, sim.)

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Mais fundamentalmente, o estudo sugere que “dieta e exercício devem ser considerados em conjunto quando começamos a pensar em melhorar nossa saúde. Eles afetam um ao outro e influenciam como cada um deles nos afeta mais do que imaginamos”, comenta Lessard.

Mas talvez o mais importante seja o fato de o estudo trazer alguns dados encorajadores, observa Lessard. Ela conta que os ratos com hiperglicemia ganharam pouca resistência durante as semanas em que praticaram exercícios, mas apresentaram sinais precoces de um controle melhor das taxas de açúcar no sangue. Por isso, talvez sejam necessários tempo e uma determinação ferrenha, mas os exercícios podem ajudar as pessoas com hiperglicemia a estabilizar os níveis de glicose no sangue e, em seguida, melhorar a qualidade do condicionamento físico, diz ela.

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