Sem negar que seu plano inicial era permanecer na Secretaria de Estado de Educação, mas já entusiasmado com as propostas para a eventual futura administração, Marco Tebaldi sonha em voltar para o comando da Prefeitura de Joinville para, segundo ele, fazer um governo diferente. E melhor do que o dele, entre 2002 e 2008, e o atual.
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Se dizendo mais maduro, o deputado federal de 54 anos promete se dedicar mais à gestão da saúde. Quanto à política, Tebaldi não se culpa pelo fato de a desejada tríplice aliança não ter se concretizado em Joinville, jogando a responsabilidade nos “leões do palácio”. Nesta entrevista, o candidato do PSDB avalia, além do fracasso da tríplice, o desempenho dos governos municipal e estadual e adianta suas intenções caso volte a administrar a Prefeitura de Joinville.
A Notícia – Por que não teve a tríplice? Afinal, todos tinham interesse?
Marco Tebaldi – Não aconteceu porque foi mal conduzida. A tríplice seria importante, desde que fosse conversada e ajustada com os partidos. Queriam tríplice, mas desde que fosse o “meu candidato”. O candidato do outro, “não”. Aí fica difícil. Mesmo assim, dava para construir. Mas não teve diálogo. Houve um acordo de cúpula, os leões do palácio, os três, e depois vieram tentar impor sem conversar, sem dialogar. Tanto é que até hoje o Darci (de Matos) diz que não foi procurado. E ele era o principal candidato.
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AN – Mas o Kennedy foi chamado.
Tebaldi – Sim, mas recentemente, quando as coisas estavam avançadas. A conversa comigo foi para eu sair da Secretaria da Educação. Não houve conversa com o PSDB, para decidir o que se faz com o Ivandro de Souza, que era nosso candidato, ou com o Tebaldi. Com o PSD, o que faz? Como serão as participações do Darci, do Kennedy? E o PMDB? Ah, o candidato é o fulano. Então, quem é o vice? Como fica a secretaria regional? A Câmara? Dava para ajustar em uma boa conversa. Houve só um acerto de cúpula e uma imposição de cima para baixo, via imprensa, via pressão. Sou o maior exemplo: não tinha pretensão de ser canditado, só sou candidato por conta dessa arrogância.
AN – Mas o senhor afirmava que não queria mais concorrer, que tinha feito a sua parte como prefeito.
Tebaldi – Aquela verdade que diz que quando você entra na vida pública não se manda mais, aconteceu comigo. Mesmo com vontade de não concorrer, os fatos foram levando para isso. A minha saída da secretaria, por exemplo. Talvez lá atrás eu tenha dito uma coisa errada, que se saísse da secretaria teria de ser candidato. Eu falei aquilo porque queria ficar, exercer uma pressão para ficar na secretaria. Quando eu saí, não teve jeito. Foram me esperar na Expoville, falando “volta Tebaldi?” Tinha 700, 500 pessoas. Daí a gente começa a balançar, não adianta. Você diz, “não sou, não sou”. Mas daí chega o seu amigo, “você tem que ser candidato”, depois vem a associação, vem isso, vem aquilo e pronto. Chega uma hora que você já é candidato.
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AN – No que o senhor acha que mudou em relação a 2008?
Tebaldi – Mudei muita coisa. Eu estou maduro. Tive tempo suficiente para fazer uma grande análise. Vamos consertar onde erramos. A gestão tem de mudar, ficar mais rápida. A questão de liberação de licenciamentos, de alvarás, isso tudo. Se tinha que melhorar em relação à nossa gestão, quem dirá em relação a essa. Dá para mudar. Vamos ter que fazer uma redução, compactar a máquina. Não estou falando em demitir, e sim em criar um organograma mais funcional.
AN – Uma reforma administrativa?
Tebaldi – Sim. Condensando secretarias. Vamos ter que reduzir as regionais também, tem de pensar. Acho que no trânsito, tem de pegar um pouco do Ippuj, do Planejamento, Obras, enfim, formar uma grande estrutura para cuidar do trânsito, para pensar o trânsito 24 horas. Vamos ter menos secretários. A questão da saúde, tenho bem nítido o que tem de ser feito. Tenho de entrar mais na saúde. Antes, eu deleguei muito, confiei muito. Não é que não tenha cuidado, tanto é que investi bastante, mas deleguei, confiei demais. Vamos ter que aplicar bem esse dinheiro, cuidar bem das pessoas.
AN – Onde está o gargalo da saúde?
Tebaldi – O gargalo é um conjunto. Mas é o setor onde mais se tem que aplicar. Precisa de um choque de gestão na área.
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AN – O senhor defende organização social no São José?
Tebaldi – Não tenho a convicção de que uma organização social vai funcionar. Por que não pode funcionar com a gente? O dinheiro que vou mandar para lá, posso mandar para cá. Qual o segredo de uma OS? Se nós tivermos boa gestão, também é possível fazer as licitações com agilidade. Vamos ver o que vai acontecer no Regional. Mas não penso que a mudança na saúde é via organização social. É via gerencial. Dinheiro tem, embora eu ache que o governo federal tenha que aportar um pouco mais de recursos.
AN – O que será feito?
Tebaldi – Vamos ampliar os agentes comunitários, o Programa Saúde da Família, onde vamos aumentar em 50%, em quatro anos, gradativamente. Queremos chegar a mil agentes comunitários, daí vai para 100% de cobertura. Vamos fazer um grande programa de capacitação com esse pessoal, para trabalharem na conscientização lá na base. Muita coisa pode ser feita lá. Vamos trabalhar com as UPAs. Aí tem dinheiro para construir. A ideia é produzir mais para ter mais dinheiro. Como? Vamos fazer o prontuário eletrônico, que é a informatização de toda a rede. Hoje não se ganha nada no que se produz nos PAs, não tem informação. Vamos implantar as policlínicas, onde poderão ser feitas as cirurgias de um dia, como cataratas e hérnias. Vamos ter cinco policlínicas. Precisamos otimizar os leitos já existentes, trabalhar com o São José, Bethesda, o hospital novo de São Francisco do Sul nos ajuda. Um novo hospital não precisa ser construído agora, pode ser mais adiante. No São José, temos que tirar parte daquela imensidão de atendimentos que são feitos lá, têm de ir para outros ambulatórios. Temos de deixar o São José para a vocação dele e fazer funcionar. Como pode, num mundo de hoje, ter uma média de internação de 23 dias? Tem que ter central de consultas, de cirurgias, isso nós vamos fazer.
AN – E os planos para a educação?
Tebadi – O ensino integral é a grande sacada, a grande mudança que será feita. Não sei se o Estado vai seguir isso, mas não tem outra saída para mudar a sociedade se a gente não fizer pela educação. Vamos começar, é um trabalho que pode levar sete, oito, 12 anos, sei lá. A minha ideia é implantar de forma gradativa. Entre três a cinco anos, a gente possa fazer nos três primeiros anos. Não vou ser demagogo de dizer que dá para fazer em um ano, não temos estrutura para isso. É aqui na pré-escola que tem de começar, onde a pessoa começa a se formar. Depois, se faz a cada ano uma série. A meta é quem entrou em 2013 fazer toda a educação básica com ensino integral. Não é um ensino integral só de turno com contra turno.
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AN – O senhor pensa em novo imposto, taxa, contribuição?
Tebaldi – Claro que não, não tem como. Temos é que achar um jeito para financiar as desapropriações. Tem que ter parcerias com os governos federal e estadual, se a Prefeitura tiver que ter o dinheiro para desapropriar, não tem como fazer obras na mobilidade urbana. Se tiver que tirar o dinheiro da Prefeitura, para desapropriar não tem como fazer. Na questão dos eixos, tem que usar o Estatuto das Cidades, fazer um programa de valorização da área por onde passam um eixo.
AN – Qual a grande obra necessária para o trânsito?
Tebaldi – O Eixão. Eu não vi o projeto, só li, mas acho que foi aperfeiçoado em relação ao que nós propomos. Nós não planejamos para as adjacências, agora há conexões para sair em vários pontos. É um grande desafio buscar os recursos para a mobilidade. Minha ideia é fazer mais um BNDES. Hoje tem o PAC. O Carlito pode falar o que quiser, mas estava aprovado o Eixão. Talvez não fosse adiante porque seria uma marca nossa ou o governo era inexperiente. Acho que se fosse hoje iria adiante. Mas vamos retomar esse projeto.
AN – O transporte coletivo, dá para subsidiar?
Tebaldi – Se já não há dinheiro suficiente, como vou tirar dinheiro da caixa para subsidiar? Vou deixar de tapar buraco, fazer o posto de saúde…
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AN – Se a licitação do ônibus não estiver pronta, o senhor vai continuar?
Tebaldi – Sim, vou concluir a licitação. No transporte, vamos fazer um plano diretor de mobilidade urbana. Temos que ter projetos, mais eixos, para depois desapropriar. Hoje já não se consegue andar na zona Sul e lá ainda vai crescer, se interligar com Araquari. Teremos que abrir aquela região do Paranaguamirim. E vamos planejar o Contorno Leste. Tem de ligar o Sul, a via sai atrás do Ulysses Guimarães, do Adhemar Garcia, onde tem de fazer a ponte com o Boa Vista, e vai para o Aventureiro até o Jardim Paraíso. Isso é para o futuro, agora vamos fazer o Eixão.
AN – O senhor diz que é contra aumentar o perímetro urbano…
Tebaldi – Sou contra e vou tentar reduzir.
AN – Mas como adensar a cidade?
Tebaldi – O grande projeto de adensamento eu já fiz, que foi aquela questão dos loteamentos terem toda a infraestrutura. Não pode é fazer o que foi feito no Boehmervald (Trentino), sem estrutura, sem creche, fazer só para o governo federal dizer que fez tantas casas.
AN – Qual a avaliação do governo Carlito?
Tebaldi – Até estou me dando bem com ele, mas o Carlito perdeu a grande oportunidade da vida dele. Podia fazer uma boa gestão, com o governo federal na mão. Pega outros municípios, olha quanto São Francisco do Sul conseguiu, pegou um monte de dinheiro. Acho que, no caso de Carlito, faltou gente qualificada para assessorá-lo. E ele se deixou levar pelo oba-oba da vitória, que era a mesma vida de parlamentar. É diferente. O governo dele foi uma grande decepção. Ando por aí e vejo isso.
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AN – E o governo Colombo, em relação a Joinville?
Tebaldi – Está muito mal. Como está a saúde? Como está o Hospital Regional? Fracasso. Pacote do BNDES? Esse aqui (em execução, com as obras do binário do Vila Nova) é do Luiz Henrique. E nesse pacote do BNDES, Joinville merecia mais. Para onde vai o resto? 5% é muito pouco para o que Joinville representa para o Estado. O governo está deixando a desejar em todas as áreas. Preocupou-se muito com a questão eleitoral, com a eleição de 2014, gastou energia com isso em vez de gastar energia para resolver os problemas da saúde.
AN – O que dá para fazer para aumentar a receita?
Tebaldi – Aumentar imposto não dá. Tem é que reduzir despesa. Temos que ter medidas para ampliar o ISS, trazer de volta empresas que foram para Araquari. Vou ter um cuidado melhor com isso. Vamos ter que criar mecanismos, o Estatuto da Cidade. Joinville tem de ficar mais competitiva para atrair empresas. Aumentar o IPTU em 20% vai resolver? Não vai resolver. Não tem como fazer isso. Não dá para aumentar os impostos. Tem é que ser eficiente, atrair as empresas, liberar alvarás. Colocamos no plano de governo o alvará provisório. Por que não podemos, em um galpão que está parado, autorizar que funcione temporariamente? Se já tem o alvará provisório, não é adotado, recebo muita reclamação.
AN – O senhor pensa em abrir o capital (vender parte) da Águas de Joinville?
Tebaldi – Se abrisse, o recurso teria de ser usado em saneamento e para isso tem alternativas, como a parceria público-privada. É uma alternativa, mas não pensei nisso. Mas a companhia está se valorizando.
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AN – Há meta no saneamento?
Tebaldi – Vamos dobrar a rede que recebermos. Vamos ampliar o abastecimento de água em 50%, com a ampliação da estação do Cubatão e com a conclusão da adutora do Piraí que nós projetamos. A estação vai passar de 900 para 1,8 mil litros por segundo. Não penso em captação no Itapocu porque temos água no Cubatão. Se nós melhorarmos a captação e reduzirmos a perda, dá para termos um sossego por dez anos.
AN – Como está sua relação com Luiz Henrique?
Tebaldi – Cada um toca a sua vida. A última vez que conversei com ele foi antes de tomar a decisão de concorrer. Me encontrei depois, conversei, mas não sobre eleição. Eu não me interessei em puxar o assunto (sobre eleição), ele também não. Foram encontros rápidos. Imagino que não seja aquela maravilha, mas não há discórdia, nada. Converso mais com o Darci.
AN – O senhor pretende criar guarda municipal armada?
Tebaldi – Não. O que eu coloquei no plano foi uma guarda, ou algo parecido, mas não armada, mais para fiscalizar o meio ambiente, o nosso patrimônio.
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AN – E os outros modais, veículos leve sobre trilhos, estão nos planos?
Tebaldi – Isso nós vamos estudar. No plano de mobilidade, vamos definir os modais. Meu plano é reunir técnicos que temos aqui e deixá-los estudando. Fazer o que Jaime Lerner fez depois que perderam as eleições. Ficaram pensando a cidade. Depois ganharam a eleição.
AN – O que acontecerá em Joinville nos próximos anos?
Tebaldi – A questão industrial vai crescer. Virão mais empresas para Joinville e região. A BMW deve vir para Araquari, outra grande está planejada. Temos mais portos agora, como o de Itapoá. O porto de São Francisco do Sul será ampliado. Tem Navegantes e Itajaí. Tem também o aeroporto, Joinville será competitiva. Será uma explosão industrial.
AN – Há outro desafio?
Tebaldi – Um grande desafio é enfrentar as drogas, Vejo isso com preocupação. Vejo o problema. Crack é um demônio, é uma coisa silenciosa. E nas pesquisas já aparece como terceiro maior problema. Já falei com o bispo, com os pastores, para fazer um grande programa de prevenção e recuperação. Vamos retomar o Projeto Jovem Cidadão. Queremos transformar esses garotos em agentes antidrogas, prepará-los para atuarem nas escolas, na família, na comunidade deles, para trabalharem contra as drogas. Vamos também ter que valorizar a questão da verdade, dos valores, esse é um cargo muito importante.
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