A tradutora que acompanha os casais russos interessados em realizar os nascimentos dos bebês em Florianópolis diz que as suspeitas de tráfico de crianças são um caso de discriminação. Olga Aliokhina Alves conversou com a reportagem do Diário Catarinense nesta quinta-feira. Ela garante que todas as gestantes acompanhadas por ela antes e após o parto em maternidades da Capital estão bem e em companhia dos filhos.

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Sobre o paradeiro das crianças que não tiveram mais o acompanhamento do Conselho Tutelar, o que acabou motivando as suspeitas do Ministério Público, Olga diz que são filhos de casais que voltaram para a Rússia e agora providenciam o retorno definitivo para o Brasil. A exceção, segundo ela, é a recém-nascida que chegou a ser acolhida e agora está novamente aos cuidados dos pais no Norte da Ilha.

Ela também diz não ter conhecimento sobre um nascimento ocorrido em 2014, cujo paradeiro da criança é desconhecido pelo Conselho Tutelar, pois está em Florianópolis somente desde 2016. Ainda conforme a intérprete, toda a movimentação de viagem dos pais e dos bebês teve o aval das autoridades e pode ser certificado pela Polícia Federal.

Nascida na Rússia e casada com um brasileiro, Olga atua nos últimos anos como tradutora de casais russos interessados em ter uma vida no Brasil. O fato de planejar o nascimento da criança em uma maternidade brasileira, diz ela, facilita a permanência dos pais e um eventual pedido de cidadania.

Leia a entrevista feita com a tradutora Olga Aliokhina Alves:

O Ministério Público cita seis casos anteriores de bebês de pais russos que nasceram em Florianópolis e depois não se teve mais notícias. Quantos desses casos você acompanhou?

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Naquele relatório do Conselho Tutelar constam sete casos, incluindo um caso de 2014. Cinco casos eu atendi.

Por que não se teve mais informações desses bebês?

Falta de informação. Falta de vontade de investigação, não sei de qual parte, mas houve falta de vontade. Isto pode ser investigado muito facilmente pela polícia do aeroporto de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Sempre fui na Polícia Federal junto dos casais pedir o passaporte para os filhos. Sempre ganhamos o passaporte e, só depois disso, as crianças foram embora junto dos pais.

Hoje estas crianças estão em Florianópolis? Voltaram para a Rússia?

Esses cinco casos que eu atendi, que estão no relatório, só o último bebê que foi acolhido está no Brasil. Os outros foram para a Rússia, mas alguns casais estão pensando em voltar. Não é tão fácil se desfazer de todos os pertences, casas, apartamentos. Precisam se desfazer de uma vida na Rússia para começar uma vida aqui.

O que atrai cidadãos russos a terem um filho aqui no Brasil?

Talvez isto esteja muito estranho para vocês brasileiros. Como moram em um país tropical, vocês não sabem o que é a realidade da Rússia. O clima é muito severo lá. De sete a nove meses é inverno, muito frio. Na Rússia, fevereiro é o mês mais frio do inverno. O clima ameno (do Brasil) atrai. País tropical atrai, pessoas generosas e alegres atraem. Tudo isto atrai. Também a possibilidade de ter a cidadania brasileira. Porque quando a criança nasce, ela já é considerada brasileira. E os pais podem pedir a reunião familiar à base do filho. Primeiro podem pedir a permanência e, depois, podem também pedir a cidadania se quiserem.

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Esse processo então representa uma forma mais prática de garantir a permanência de casais interessados em ficar no Brasil? Isto a partir da criança?

Sim

As suspeitas de tráfico de crianças ocorreram pela falta de informações do Conselho Tutelar em relação aos outros bebês. Esse trabalho junto aos casais não pode deixar mais informações à disposição das autoridades brasileiras?

A gente não tinha pensado que deveria avisar quando a criança sai do Brasil com os pais. Mas agora tudo bem, vamos avisar Conselho Tutelar e qualquer órgão que for preciso. Porque isto nós estamos fazendo tudo de forma muito transparente. A gente não esconde nada. Faço acompanhamento da gestante antes do parto, consultas pré-natais, durante o parto e também depois do parto sempre vou na consulta do bebê, da mãe. Insisto em fazer o "Teste do Pezinho" e todas as mães fazem. Nenhuma das mães se recusou a fazer vacina. Todos os documentos estão em ordem.

A repercussão desse caso pode prejudicar no interesse de outros pais russos a vir para o Brasil?

Essa pergunta é muito difícil. Mas eu acho que se continuar essa pressão toda, essa discriminação, pode ser que sim. Mas eu acho que é muito importante para o Brasil tentar apurar esse caso. Estamos fornecendo todas as informações. Eu quero a verdade porque a gente não esconde nada.

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