Recém-chegado a Santa Catarina e mais acostumado a admirar o Estado pelas conhecidas imagens de cartão-postal, o repórter fotográfico Cristiano Estrela fez um passeio diferente na madrugada de quinta-feira na Grande Florianópolis. Um pouco distante das iluminadas avenidas e baías que fazem desta região uma das mais exuberantes do mundo, Estrela acompanhou o repórter especial Diogo Vargas e o motorista Antônio José Pinheiro Filho numa excursão menos glamourosa: a que revela uma polícia em permanente estado de prontidão, pronta para sacar, repleta de cuidados extras e, em alguns casos, acuada.
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A foto de capa da edição de hoje ilustra de forma emblemática o clima que invadiu delegacias de polícia e postos policiais da PM assim que o sol se põe. Delegacias com trancas de ferro e viaturas usadas como escudo, numa espécie de barricada metálica, é uma cena mais comum em regiões habitualmente conflagradas.
De certa forma, é o que pode ser visto na Grande Florianópolis desde as 22h de 26 de outubro, quando a agente Deise Alves recebeu três tiros pelas costas ao tentar entrar em casa. Os estampidos ouvidos naquela noite no Bairro Roçado, no município de São José, onde mora a mãe da servidora pública executada covardemente, ainda ecoam na área de segurança pública. Não solucionado até sexta-feira, duas semanas depois de ocorrido, o crime inaugurou um ambiente de tensão permanente que o Diário Catarinense vem acompanhado desde aquela noite.
À morte da agente, seguiram-se mais quatro tiros contra a lei, disparados apenas cinco dias depois na viatura do policial civil que tentava entregar uma intimação na Vila União, encravada no Norte da Ilha. Corrido a balas do local e traumatizado desde então, o desrespeito ao agente civil acabou reforçando ainda mais os cuidados e temores daqueles que são pagos para proteger os cidadãos.
As notícias vindas de São Paulo, onde a simples identificação de um policial é a senha para sua própria execução – conforme mostra reportagem do enviado especial Humberto Trezzi, na página 41 desta edição -, adicionaram condimentos ao pavor instalado no meio policial, preocupado especialmente com a segurança de familiares. Alguns policiais, como relata o texto de Diogo Vargas, pararam até de fazer ligações para casa à noite, pois acreditam que o simples tilintar do aparelho pode deixar os parentes ainda mais nervosos.
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Com 15 anos anos de profissão, sendo a maior parte deles na crônica policial, o repórter Diogo Vargas acredita estar assistindo a cenas inéditas na sua carreira. O cartaz colado em uma DP de São José, orientando que acompanhantes de vítimas de ocorrência policial fiquem do lado de fora da casa que deve ser um símbolo de segurança, abre um precedente perigoso na sociedade catarinense, que exige, como em São Paulo, uma força-tarefa que reúna as forças policiais, Ministério Público e Judiciário e o uso da inteligência das autoridades do sistema prisional.
Antes que São Paulo seja aqui.