Desde que chegou a Joinville, a família Laguardia experimenta seguidas conquistas. Dois dos três filhos em idade escolar ganharam bolsa de estudos em uma escola da rede privada e um deles foi selecionado na última audição realizada pela Escola Bolshoi. Isso tudo aconteceu em menos de sete meses, quando Fernanda, 38 anos, e José Ricardo, 37, usaram os últimos recursos que tinham para pegar a estrada e partir de Macapá, no Amapá, sem destino definido.
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Os quase 3 mil quilômetros vencidos em um Clio modelo 2000 tinham um propósito muito maior do que uma simples mudança de endereço. Os filhos Vithor e Matheus, de 13 e 11 anos, e Laís, de cinco, foram diagnosticados com superdotação e, sem recursos que atendessem ao desenvolvimento adequado das crianças no Amapá, a família rumou em busca de outro lugar onde pudessem realizar o sonho de oferecer melhores condições de aprendizado e educação para eles.
O casal foi orientado a buscar ajuda em São Paulo, Curitiba e algumas cidades de Santa Catarina. A pesquisa pela terceira opção mirou em Joinville. A Escola Bolshoi encheu os olhos do filho mais velho. A aparente tranquilidade da cidade e as boas escolas públicas também atraíram a família.
Foram dez dias de viagem sem nenhuma garantia de acolhida por aqui, nem de familiares, nem de amigos. Os pais, que já haviam se despido de todos os recursos financeiros no trajeto, tiveram que contar com a bondade de pessoas para encontrar moradia e aos poucos irem se instalando na nova cidade.
– Pessoas tiraram as coisas de dentro de sua própria casa para dar para nós – relata Fernanda, que também recuperou coisas que seriam descartadas para montar a casa em que hoje a família vive no Jardim Iririú.
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Os Laguardia tiveram acolhida da Secretaria de Educação do município e do Projeto Resgate. Além da alta habilidade, os filhos apresentam dificuldade de compreensão de leitura, conhecida como dislexia, o que requer ainda mais atenção do sistema de ensino. A alta performance na aprendizagem não é apenas em relação ao conhecimento.
A parte física também acompanha a agilidade mental. Isso faz com que eles consigam aprender a praticar esportes e outras atividades com muita facilidade. A prova disso é que Vithor, sem nunca ter frequentado aulas de balé, foi aprovado para ingressar na almejada escola russa apenas observando os candidatos que tinham bom desempenho.
– Eles aprendem as coisas muito rapidamente. É assustador. Nós, que somos pais, estamos aprendendo a lidar com tudo isso e percebemos que poucos estão preparados para lidar com as altas habilidades – diz a mãe.
A acolhida e as ajudas recebidas em Joinville acenderam uma nova esperança nos pais de que os filhos possam ser no futuro muito mais do que profissionais prodígios.
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– O Vithor mesmo fala que gostaria de ser médico e se apresentar como bailarino. Sabemos que ele pode ser tudo isso e muito mais se ele quiser.
Texto: Rafaela Mazzaro, especial