É com serenidade que o empresário Ronaldo Baumgarten Jr. fala sobre a fusão da centenária indústria que leva o sobrenome da família com as alemãs Rako e X-label, anunciada na última semana. O novo gigante global do setor gráfico já nasce com 30 fábricas espalhadas pelo mundo, 3 mil funcionários, mais de 2 mil clientes e faturamento anual acima dos US$ 500 milhões.
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:: Leia mais informações de Pedro Machado
O executivo se afasta da linha de frente com a sensação de missão cumprida. Ele agora vai ocupar uma posição no Conselho de Administração do grupo – que ainda não tem nome – e assumir uma função mais estratégica na condução dos negócios.
Nesta entrevista à coluna, Ronaldo diz que a saída da família das decisões do dia a dia e a intensificação do processo de internacionalização da Baumgarten (a empresa fez aquisições no México e na Argentina em 2014) já estava prevista no planejamento, e que a fusão ajudou a acelerar o projeto. Ele garante que a companhia blumenauense desempenhará papel importante no grupo, que terá matriz na Alemanha e será comandado por executivos das três empresas – Fernando Gabel pela Baumgarten, Adrian Tippenhauer pela Rako e Jan Oberbeck pela X-label.
O que levou a Baumgarten a se unir a essas duas empresas alemãs?
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No mercado que a gente trabalha a fusão é quase uma obrigação. Os clientes cada vez mais estão exigindo esse movimento. O mercado global era atendido, até então, por duas forças. A gente, e quando eu falo a gente me refiro às três empresas que se fundiram, era tratado como fornecedores locais, apesar da forte capacidade de abrangência. A Rako e a X-label dividiam um pacote regional na Europa e a Baumgarten assumia basicamente o mercado local aqui do Brasil, com alguns negócios na Argentina e no México. Esse movimento foi exatamente para criar a terceira força global de atendimento a clientes que têm um alto nível de exigência.
Quais são as outras duas forças globais?
Temos a CCL e a Multicolor. A CCL é uma empresa de capital aberto que tem origem no Canadá, mas hoje está espalhada pelo mundo com uma quantidade muito grande de plantas. E a Multicolor, que iniciou esse movimento de globalização alguns anos atrás, criou a segunda força de fornecimento de etiquetas. Nós, com a fusão, agora somos a terceira força. E pelas nossas características, muito similares entre as três empresas, temos uma capacidade muito grande de absorver mercado e de crescer.
O crescimento da Baumgarten estava limitado? A empresa só conseguiria ganhar mais mercado no exterior com a fusão?
O movimento de internacionalização já fazia parte do projeto de crescimento. Era uma questão de tempo, e esse tempo se alongaria e exigiria um esforço de capital muito forte, que não era necessário. A fusão antecipa muito tempo e faz com que as três empresas tenham um investimento muito menor.
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No planejamento de internacionalização, desde o início o caminho da Baumgarten era a fusão?
Esse não era um caminho descartado. A falta de experiência na internacionalização fez com que a gente enxergasse esse caminho.
Não era a primeira opção?
Não, a gente tinha como foco a América, até para poder dar um passo de cada vez. Confesso que as próprias aquisições no México e na Argentina no mesmo momento (os anúncios foram feitos entre janeiro e fevereiro de 2014) causaram uma série de dificuldades porque tínhamos uma estrutura criada para o Brasil. E de repente a mão de obra especializada foi muito exigida. Obviamente que conseguimos atingir o nosso objetivo, estávamos num crescimento dentro das nossas expectativas. Agora, com a fusão, a velocidade desse crescimento vai ser muito mais alta.
Esse movimento de fusão partiu da Baumgarten ou de alguma das outras duas empresas?
O movimento partiu das três empresas. Nós conseguimos nos enxergar simultaneamente. Houve uma primeira aproximação com a X-label. E da X-label com a Rako foi uma questão de tempo. Desde o começo a gente sabia que a aproximação da Baumgarten com a X-label necessitaria obrigatoriamente de uma terceira força, e essa terceira força surgiu quase que de maneira automática. A sinergia das empresas fez com que nos aproximássemos e criássemos esse conglomerado que hoje representa a terceira força na fabricação de etiquetas prime label do mundo.
Quanto tempo de negociações? Como surgiu o primeiro contato?
Nós já estávamos trabalhando nesse projeto há cerca de três anos e meio. O tempo fez com que a estrutura amadurecesse com bastante solidez. Hoje dá para dizer que a gente vem trabalhando na estrutura e na consolidação desse negócio com bastante cautela exatamente por isso, para que quando houvesse o anúncio ele causasse um impacto no setor. E principalmente para que a gente já tivesse muitas coisas adiantadas, faltando muito pouco a se fazer para que efetivamente a gente consiga, logo a partir do ano que vem, trabalhar como uma única empresa.
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A fusão ainda depende da aprovação de alguns órgãos reguladores. Qual a expectativa nesse sentido?
Nós aqui no Brasil não temos essa exigência. Mas na Europa existem alguns ritos a serem cumpridos. A gente está aguardando, mas com certeza não iríamos anunciar se não tivéssemos plena certeza de que a fusão seria um caminho sem volta.
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Qual o papel da Baumgarten nesse novo grupo? Como ela vai agregar às outras duas empresas em termos de participação e de receita?
A Baumgarten vai completar, vai ser peça-chave no novo grupo. Até porque a nave-mãe, como a gente chama a fábrica aqui, vai ficar responsável pelas Américas. O executivo que vai tocar, o Fernando (Gabel, diretor executivo da Baumgarten), já foi designado como responsável pela região. Vamos continuar com um papel importante.
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E o seu papel, como fica?
Dentro do processo de internacionalização que a gente já vinha trabalhando fortemente desde 2010, há um momento em que a família reconhece que tem que participar do negócio mais na estratégia do que na linha de frente. Eu vou ficar na estratégia, ocupar um lugar no Conselho. Isso, na verdade, vai efetivar uma coisa que já vinha acontecendo. A operacionalidade do nosso negócio aqui já partia para isso. Eu sempre tive esse papel na empresa. A família estava trabalhando para a profissionalização, sempre esteve.
A Baumgarten, com essa fusão, deixa de ser familiar?
A Baumgarten buscou a fusão com mais duas empresas familiares. Vamos ser a maior empresa do setor gráfico de etiquetas de capital fechado. É exatamente essa sinergia que a gente buscou. Nós temos muitas similaridades, e uma delas é exatamente essa: são empresas familiares que uniram suas forças e que têm as mesmas características. São três famílias que se unem para atingir o mercado de uma maneira global.
As fábricas da Baumgarten continuam produzindo apenas para Brasil e América Latina ou também entram na Europa?
É uma questão estratégica agora. O nosso produto tem uma característica, que é ser produzido muito perto do nosso usuário final. Agora, não tenha dúvida de que vamos produzir as etiquetas onde efetivamente a nossa competitividade for mais forte. Isso não impede de a gente produzir na planta A, B ou C. É claro que a logística tem que ser levada em consideração, a agilidade. Temos negócios em que precisamos ser rápidos na resposta. E há outros que podemos seguir uma logística mais conservadora, com um pouco mais de tempo para atender. Tudo isso vai ser visto. A avaliação vai ser em cima de resultado e também na satisfação do cliente.
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Como isso tudo ainda está sendo avaliado, expansão e possíveis construções de outras unidades ficam em stand by?
O movimento já foi grande. Nós partimos cada um de suas unidades fabris, e hoje somos um grupo com 30 fábricas pelo mundo que fabricam etiquetas. Nós temos uma cobertura interessante. Nada disso atrasa a nossa velocidade de crescimento. Ainda há espaço para que a gente cresça e ainda há nichos de mercado que têm que ser ocupados.
A fusão permite entrar em outros mercados, como Ásia e EUA?
Nós (o novo grupo) já estamos na Ásia. Temos duas unidades na Rússia, temos unidade na África. Estamos bem pulverizados no mundo. Faltam algumas regiões a serem ocupadas, mas com certeza elas podem ser abastecidas pelas fábricas que estão mais próximas. O nosso cliente tem uma característica de que o fornecedor tem que ser global, porém a resposta tem que ser muito rápida. Cada vez mais as etiquetas têm que estar próximas do nosso usuário final.
As etiquetas são o carro-chefe da Baumgarten? Como fica o mix de produtos contando com as outras duas empresas?
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O ponto forte é a fabricação de etiquetas de alta qualidade. As empresas têm essa sinergia exatamente porque elas atendem o mesmo mercado, têm clientes em comum. A Baumgarten tem algumas especialidades que agregam nesse pacote. A X-label e a Rako também. Juntando isso tudo incrementa o portfólio do negócio como um todo.
O grupo já tem nome definido?
Nós decidimos não divulgar nome, até para não criar expectativa. Vamos deixar aprovar toda a fusão primeiro. Mas em breve vamos lançar nome, marca e toda a nossa estratégia de marketing.
Com quanto a Baumgarten participa na receita do novo grupo?
Essa é uma informação que a gente reserva dentro da nossa estratégia. Mas pode ter certeza de uma coisa: a participação da Baumgarten é importante para a participação do novo negócio.
Ela não vai ser coadjuvante?
Não, com certeza não. Estamos em igualdade de condições. Como disse, a sinergia entre as três empresas é impressionante. A família Baumgarten só entrou nesse negócio porque ele é muito interessante.
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Você comentou que vai ter função no Conselho de Administração do novo grupo. Não vai ocupar cargo executivo?
A experiência que eu adquiri no decorrer dos anos tem que ser otimizada. Eu vinha buscando esse espaço no Conselho. Nós aqui já estávamos formando um conselho de família, até porque não queríamos engessar o negócio. Agora, na verdade, só vou colocar em prática aquilo que a gente já vinha tratando como nosso desejo. Eu tenho muito mais a contribuir na estratégia global do que ficar na execução e no dia a dia.
Qual o balanço que você faz da sua passagem pela presidência da Baumgarten?
Foi uma experiência bem interessante. Todo profissional tem que entender que está de passagem e que o seu projeto tem um começo, meio e fim. A minha passagem pela presidência da Baumgarten foi exatamente para executar esse projeto (de internacionalização) e fazer com que aquele patrimônio recebido no dia da posse apresente crescimento e desenvolvimento. E nada mais justo do que dar uma descansada da linha de frente, porém continuando com o esforço de manter o negócio vivo e pujante, para que a gente possa se orgulhar cada vez mais de um negócio que não começou ontem. A Baumgarten tem 135 anos e está se juntando com empresas que não são centenárias, mas que têm uma responsabilidade no mercado muito grande. É uma sensação de missão cumprida, mas de uma nova missão que começa a partir de agora. Nós, como família, temos a obrigação de continuar numa operação mais de estratégia, mas com certeza com foco muito grande no desenvolvimento do novo negócio.
O fato de a Baumgarten ter origem alemã pesou para os outros dois grupos se juntarem à empresa?
Não posso te dizer que não pesou, mas o que pesou mais foi a sinergia entre as empresas, o portfólio dos clientes e principalmente as coisas em comum que existem nesses negócios.
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Você vai descansar um pouco agora?
Não, não (risos). A coisa continua. Você me encontrou cedo aqui hoje (a entrevista foi feita na última segunda-feira às 9h). As pessoas vão esperar o quê, que eu comece a relaxar? Eu não vou parar. A empresa espera muito ainda da minha posição e eu também ainda tenho muito a contribuir. Mas com certeza eu vou poder usar esse tempo disponível agora não só para dedicar esforços à nossa estratégia, mas também para contribuir um pouco mais com a nossa comunidade e com o nosso Estado. Isso vai fazer realmente com que eu tenha algumas mudanças no meu dia dia, mas folga não. Vou continuar trabalhando.