Os crimes cometidos pela internet vem crescendo mês a mês em Joinville. Apenas no primeiro semestre deste ano, foi registrado um aumento de 290% em relação ao mesmo período de 2020. Foram 4.056 ocorrências até junho recente, contra 1.082 crimes no ano passado. Em toda Santa Catarina, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do estado, nos primeiros seis meses deste ano o número de denúncias de crimes virtuais passou de 45 mil. Em entrevista à CBN Joinville nesta quinta-feira (21), o presidente da Comissão Nacional de Cibercrimes, o advogado Luiz Augusto D’Urso, destacou que a utilização do universo digital requer muitos cuidados e atenção redobrada.

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— Navegar na internet deve ser similar a caminhar num bairro perigoso de madrugada. As pessoas caminham no bairro desconfiando de tudo e de todos. Por que não fazer assim na internet? — apontou.

Principal aplicativo de troca de mensagens no mundo, o Whatsapp tem sido também mais utilizado por criminosos na aplicação de golpes ao longo da pandemia. Eles roubam a foto de perfil utilizada no aplicativo e, a partir de um número novo, acionam pessoas próximas da vítima, alegando que foi feita a troca de número. Após iniciar a conversação, os criminosos geralmente alegam problemas com os aplicativos bancários e pedem a transferência de dinheiro ou pagamento de boletos. Tudo não passa de uma farsa.

O advogado deu dicas para evitar invasões ou perda da conta e também orientou a uma mudança de hábito por parte dos usuários para evitar prejuízos. A principal medida é ativar a autenticação de dois fatores, o que impede invasões à conta. Outra dica importante é limitar que números de fora de sua agenda de contatos vejam sua foto de perfil do Whatsapp. Há uma configuração no aplicativo em que você limita para que apenas contatos salvos possam ver a sua imagem.

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— Excesso de segurança e de desconfiança nunca é demais. Tenho um colega que fala que ‘crer numa internet 100% segura é como crer na paz mundial’, são dois cenários que não iremos alcançar, pelo menos não nos próximos anos — disse o advogado.

O doutor Luiz Augusto D’Urso lembrou ainda que os crimes na internet estão crescendo tanto no Brasil, que após anos a legislação foi alterada e já há uma previsão específica para isso no Código Penal. Dentro do artigo 171, o texto da lei reconhece esses golpes na internet como “fraude eletrônica” e tem penas previstas de 4 a 8 anos de reclusão. De acordo com D’Urso, é urgente que os usuários das redes sociais mudem seus hábitos para que pessoas mal intencionadas não se utilizem de informações que as próprias vítimas acabam postando.

— A exposição no ambiente virtual deve ser repensada a todo momento, pra saber se aquela foto não tem elementos demais, informações demais: fotos de carros, viagens, até uniforme de escola dos filhos, tudo isso gera risco — alertou.

Segundo o especialista, é preciso falar cada vez mais e alertar sobre os crimes digitais para que se tornem de conhecimento comum e, dessa forma, o número de vítimas possa ser reduzido. Como comparativo, o advogado relembrou que o golpe do falso sequestro, em que os bandidos ligavam para as vítimas alegando estar com um parente próximo e, em troca da suposta liberdade da pessoa, exigiam o pagamento de um valor. Este tipo de prática já não é adotada por grupos criminosos porque ficou conhecida. 

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> Crimes virtuais: saiba como não cair em golpes nas redes sociais

— Hoje as pessoas conhecem esse golpe, ele se tornou popular. Assim serão os golpes na internet, quanto mais populares, mais informarmos, mais gente conhecerá o golpe e menos vítima teremos — destacou.

Embora já existam delegacias especializadas em algumas partes do Brasil, com foco total na investigação deste tipo de crime, o advogado alerta que ainda é necessário muito investimento do Estado para que as forças de segurança se equiparem ao arsenal digital que grupos criminosos estão montando. Não só em qualificação de agentes capazes de entender o universo virtual, mas também qualidade em equipamentos e dispositivos que otimizem o trabalho de averiguação dos fatos.

— Infelizmente, os criminosos, nessa corrida, estão à frente — lamentou.

Confira abaixo, na íntegra, a entrevista do advogado Luiz Augusto D’Urso, presidente da Comissão Nacional de Cibercrimes, da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim), ao CBN Mais. O programa vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h ao meio-dia, com Jota Deschamps, Fernando Gonçalves e Rodrigo Zimmermann.