O mesmo ser humano capaz de avanços grandiosos também desenvolve e se utiliza de armas de extermínio que expressam total irracionalidade.

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Pouco importa se os autores do inominável atentado que derrubou um avião de passageiros na Ucrânia são das forças nacionalistas ou rebeldes pró-Rússia. Em qualquer hipótese, foi uma estupidez que envergonha a humanidade, pois causou a morte de quase 300 pessoas que nada têm a ver com o conflito e que apenas exercitavam o direito de se deslocar de um país para outro. Em nome de que é cometido um atentado com um avião lotado de passageiros? A troca de acusações entre os governos em litígio e a torcida por um ou outro lado, antes mesmo de qualquer investigação mais séria e independente, evidenciam a contaminação ideológica que está na origem da insensatez.

Infelizmente, o mesmo ser humano capaz de avanços grandiosos, como a invenção e o aperfeiçoamento do transporte aéreo, também desenvolve e se utiliza de armas de extermínio que expressam total irracionalidade. Uma prova dessa insanidade é que o episódio mais recente ocorre apenas 24 horas depois de a Ucrânia ter acusado separatistas pelo abate de três aviões militares, todos na região do leste ucraniano.

Esse ambiente tem um potencial explosivo, mesmo num contexto de relações marcadas historicamente pelo tom belicoso, como as de Washington e Moscou. E tudo conspira para que a autoria do atentado permaneça oculta por muito tempo.

Mesmo com investigação independente, nem sempre se consegue chegar à verdade. Basta lembrar que, quase cinco meses depois, o mundo continua à espera de uma informação convincente sobre o sumiço do avião da mesma Malaysia Airlines, que vê reforçada agora as cenas de desespero no aeroporto de Kuala Lumpur.

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Como declarou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, durante visita ao Brasil, o episódio mostra-se ainda mais preocupante por ampliar as tensões no momento em que o mundo se mantém atento às hostilidades recíprocas no Oriente Médio.

É inconcebível que armas potencialmente tão letais como as que podem ter sido usadas na derrubada do avião estejam em mãos de pessoas para as quais o que vale é chamar a atenção para suas causas, não importando o custo humano.

O mais recente episódio afeta diretamente as famílias das 298 pessoas a bordo do Boeing em mais de uma dezenas de países e tem impacto global, inclusive no âmbito econômico. O aspecto aterrador da queda do avião civil é o de demonstrar que não há mais qualquer respeito a direitos básicos da humanidade, como o de se deslocar com um mínimo de segurança entre diferentes países.