Às 23h54min de uma quarta-feira de sessão do Congresso em dezembro, o senador Aécio Neves (PSDB) sobe na tribuna para discursar. Critica o “desgoverno” de Dilma Rousseff e a manobra para derrubar a meta fiscal do ano. Pelo horário, uma cena que impressionou inclusive tucanos. Mesmo derrotada nas urnas, a oposição segue no palanque. E não pretende descer até 2018.
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– Um governo que não tem compromisso com a responsabilidade, com rigor na administração, tem de ser vigiado muito de perto – afirma o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), vice na chapa tucana na última eleição.
Vitaminado por 51 milhões de votos, Aécio articula-se para consolidar a imagem de contraponto ao PT e concorrer outra vez ao Planalto. A estratégia mescla comunicação intensa nas ruas e redes sociais, bom desempenho nas eleições municipais em 2016, um mandato mais vigoroso no Senado e ainda o controle interno do PSDB.
– Aécio precisa seguir candidato por quatro anos. O sentimento popular ajuda. Quem está contra a corrupção na Petrobras e a inflação, está conosco – diz o deputado Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS).
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A oposição reconhece o ânimo pós-campanha, ilustrado na dificuldade imposta na votação da meta fiscal e no relatório paralelo da CPMI da Petrobras. Disposição que o PSDB tenta capitalizar com DEM, PPS, Solidariedade e parte do PP na sua órbita. O PSB é cobiçado para as disputas por prefeituras em 2016. Para Aécio, que já governou Minas Gerais, levar Belo Horizonte é vital a fim de recuperar o terreno perdido após a vitória petista no Estado.
– As eleições municipais podem garantir capilaridade em capitais e nas grandes cidades. Ajudam a avançar no Norte e Nordeste – indica o senador Paulo Bauer (PSDB-SC).
Ganhar o eleitorado petista pelo país inclui viagens. Grãotucanos estudam manter staff de presidenciável para Aécio até 2018, em espécie de campanha permanente. O grupo traçaria estratégias e o acompanharia em caravanas, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez com sucesso no passado.
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Ex-governador seguirá usando as redes sociais
Discreto e por vezes ausente nos primeiros anos de Senado, Aécio arquiteta uma atuação sonora. Surfista na juventude, pretende deslizar nas ondas da Operação Lava-Jato e de medidas impopulares de Dilma para conter a inflação. Discursos inflamados na tribuna e vídeos com críticas ao PT seguirão em uso, enquanto os embates em comissões ficarão com os demais tucanos.
O ex-governador quer ser a voz da oposição. Na véspera da posse de Dilma, Aécio fez uma pausa nas férias e divulgou um vídeo nas redes sociais deixando claro que “a luta continua”.
O desejo também ficou expresso com a presença do mineiro em plenário durante a madrugada do dia 4 de dezembro, em que a queda de braço com o governo pela manobra fiscal só terminou às 5h. Ele não pretende ceder espaço para José Serra ou aliados do governador paulista Geraldo Alckmin, rivais na candidatura ao Planalto. Para aliados, Aécio indicou que o terreno “é dele”.
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– É triste o que aconteceu aqui, mas a oposição continuará firme, dizendo não ao desgoverno, não às irresponsabilidades e não ao descontrole na economia! – disse o senador mineiro.
O PT desenha reação com movimentos sociais, blindagem a Dilma e provocações, como a do então senador Wellington Dias (PT-PI) na madrugada em que Aécio discursou.
– É hora de descer do palanque. As eleições já terminaram – cutucou Dias, agora governador do Piauí.
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Os tucanos avisam que não descem. Para o PSDB e Aécio, 2018 já está em jogo.
Tucanos prometem força no Congresso
À mineira nos bastidores, Aécio Neves planeja assegurar a proeminência sobre uma bancada fortalecida a partir de fevereiro. Na Câmara, o PSDB salta de 44 para 54 deputados, com nomes ascendentes como Bruno Covas (SP), neto do ex-governador paulista Mário Covas, e Arthur Bisneto (AM), filho do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio.
O Senado será o bunker tucano. Serão 10 membros, incluindo Aécio. Chegam José Serra (SP), Tasso Jereissati (CE) e Antonio Anastasia (MG) para o time que conta com Aloysio Nunes (SP), Alvaro Dias (PR) e Cássio Cunha Lima (PB). Ainda há o reforço do democrata Ronaldo Caiado (GO), que acredita que o ex-governador mineiro possa congregar outras forças de oposição.
– Ele catalisou sentimento de rejeição ao governo. É um líder natural – diz Caiado.
Aécio agora trabalha para indicar nomes da sua confiança para as lideranças da Câmara e do Senado. Além de garantir espaço no Congresso, o ex-governador tem desafios internos. O primeiro grande teste para viabilizar uma nova candidatura presidencial virá em maio de 2015, quando o PSDB elegerá sua executiva nacional. Atual presidente do partido, Aécio disputará espaço com a ala paulista, fortalecida em relação à mineira, derrotada pelo PT.
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– Nossa missão é não deixar que as disputas internas atrapalhem – afirma o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG).
Os tucanos paulistas, aliás, já demonstraram na quinta-feira que devem jogar as suas fichas no governador reeleito Geraldo Alckmin. Na quarta passagem pelo Palácio dos Bandeirantes, Alckmin desponta como o principal adversário dentro do PSDB para Aécio em 2018.