O cenário no hospital onde a catarinense Ayuni Iride Rezende De Lucia, de 21 anos, trabalha como recepcionista em Naples, cidade da Flórida, já está diferente nesta quarta-feira (9), enquanto o furacão Milton não toca o solo estadunidense. O Naples Community Hospital (NHC) entrará em processo de lockdown a partir da meia-noite, e funcionários que estão trabalhando nesta quarta e na quinta-feira (10) terão que passar a noite na unidade de saúde.

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— Eles pediram para a gente trazer a nossa própria comida e nossas próprias camas, porque eles precisam que os quartos fiquem abertos para os pacientes. A gente também não tem staff o suficiente para trabalhar essa noite — conta Ayuni, que é natural de Florianópolis.

Família catarinense se prepara para chegada do furacão Milton, na Flórida

Ela conta que a emergência do hospital, por enquanto, tem somente sete pacientes, mas que eles devem receber bem mais durante a passagem do furacão.

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Na unidade de saúde, alguns quartos já tiveram que ser bloqueados por conta dos tornados que vêm atingindo regiões do Estado antes da chegada do furacão. Há também dois elevadores quebrados desde terça-feira (8).

— Estão mandando muitos pacientes para outros hospitais, porque nós estamos uma bagunça. Todos os diretores tiveram que vir aqui hoje e trabalharem juntos, o que nunca acontece. Eles estão indo para cada piso para tentar resolver todos os problemas — relata a catarinense.

Estresse e sobrecarga

Os funcionários estão mais estressados do que o normal, por estarem sobrecarregados. Isso porque há pessoas que não conseguiram chegar ao trabalho, devido às tempestades, e outras que foram mandadas para outros hospitais que estão com uma falta de funcionários mais severa.

— No piso onde eu trabalho, temos uma enfermeira no comando, mais outras cinco e dois técnicos. Geralmente, para um piso desse tamanho, quando a gente tem 30 pacientes, requer seis enfermeiras e três técnicos, o que não está sendo o caso — conta.

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No momento, o piso onde ela está, de enfermagem médico-cirúrgica e cardíaca, tem 29 pacientes.

Durante essa noite, o piso da neurologia do hospital, onde Ayuni trabalha às vezes, só terá três enfermeiras, com uma no “comando”, que terá que receber seis pacientes.

— Seis pacientes é o máximo que uma pessoa pode receber, e não deveria ser o caso. Todo mundo aqui está com cinco ou seis pacientes por enfermeira, e só temos dois técnicos. Está bem pesado, porque eles são as pessoas que checam os sinais vitais dos pacientes, e cada um está com 15. Toda hora eles têm que estar checando todos eles — conta.

No Brasil, seis pacientes por enfermeiro também é o máximo para o “cuidado mínimo”, conforme resolução do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Caso seja necessário o cuidado intermediário do paciente, no entanto, o ideal é um profissional da enfermagem para quatro pacientes.

Para o cuidado de alta dependência ou semi-intensivo, o número de pacientes por enfermeiro diminui para entre três e dois. No cuidado intensivo, o ideal é que o enfermeiro não fique responsável por mais de dois pacientes, ainda segundo a norma do Cofen.

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Veja como está o hospital

Toque de recolher

A cidade de Naples, onde fica o hospital, já está sob toque de recolher, que iniciou às 16h desta quarta. Por isso, o hospital emitiu um alerta aos funcionários: “O NCH ativou nossa Política de Clima Severo e ela permanecerá em vigor até novo aviso. 

A equipe tem permissão para chegar ao hospital mais cedo para seus turnos, se necessário. Toda a equipe deve fazer o check-in na chegada na passarela com as equipes de RH. Os funcionários que chegam para seus turnos devem usar apenas as entradas designadas para funcionários, pois todas as outras entradas serão bloqueadas quando os ventos sustentados atingirem 40 mph (64 km/h)” dizia o comunicado que receberam no início do dia.

As visitas aos pacientes foram encerradas ao meio-dia desta quarta-feira. “Os visitantes que aparecerem devem ser encorajados a sair enquanto as condições da estrada forem favoráveis ​​para que retornem para casa ou para um abrigo. Os pacientes têm permissão para ter um visitante com eles durante a tempestade”, continuou o hospital no comunicado.

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*Sob supervisão de Andréa da Luz

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