A uma semana de completar um mês da chacina que vitimou seis pessoas em Joinville, apenas um dos assassinados foi reconhecido oficialmente: trata-se de Rivair Amaral Ribeiro, 23 anos. As outras cinco vítimas seguem no Instituto Médico Legal (IML) no aguardo de identificação. Só assim, os corpos poderão ser liberados para que as famílias façam a cerimônia de despedida.
Continua depois da publicidade
Acesse para receber notícias de Joinville e região pelo WhatsApp
Famílias de vítimas de chacina em Joinville aguardam liberação dos corpos: “Fiquei sem chão”
O prazo mínimo para que os trabalhos sejam concluídos é de 30 dias, no entanto, é possível que a espera seja ainda maior. Nathália Cristina Gonzalez Ribeiro, papiloscopista da Polícia Científica de Joinville, explica que, no caso de Rivair, foi possível fazer o trabalho de identificação por meio das impressões digitais. Apesar do estado de decomposição do cadáver, que também foi carbonizado, as mãos estavam preservadas.

Seis dias foram necessários para a identificação da primeira vítima, mas a papiloscopista cita que a rapidez com que são preparados os laudos periciais dependem do estado em que são encontrados os restos mortais. Dentre os seis corpos, por exemplo, cinco deles não apresentaram condições de recuperação da pele das pontas dos dedos.
Continua depois da publicidade
— Para que seja rápido, precisamos que as mãos do cadáver não requeiram tratamentos longos para a recuperação da pele e que tenhamos algum documento de identificação que contenha a coleta das impressões digitais da pessoa — explica Nathália.
Não há chances de identificação pelas digitais, portanto, quando o cadáver já está com as mãos esqueletizadas, sem a camada da derme (segunda camada da pele) ou, por óbvio, quando não possui mais as mãos ou os dedos.
— Fora isso, sempre fazemos o possível, mesmo estando carbonizado, como no caso da chacina do dia 8, putrefeito, mumificado, dentre outras situações. Não sendo possível a identificação pelas impressões digitais, procede-se aos exames odontolegais, que são os de arcada dentária, e genéticos — complementa a especialista.
Outros corpos serão submetidos à identificação por DNA
Kelly Ribas Lobato, diretora de análises laboratoriais forenses da Polícia Científica, reforça que a demora na identificação está diretamente relacionada ao nível de degradação do corpo. O prazo mínimo de elaboração dos laudos periciais é de um mês, no entanto, vítimas em estado avançado de putrefação e carbonização, por exemplo, podem gerar dificuldades na obtenção de um perfil genético informativo.
Continua depois da publicidade
Este é o caso das cinco vítimas ainda não identificadas oficialmente, que apresentam complexidades técnicas relacionadas ao estado degradação causado pelas queimaduras.
— Estes fatores podem gerar um maior período para a execução das análises ou, até mesmo, inviabiliza-las — comenta a perita.
Os restos mortais desses trabalhadores ainda não identificados serão submetidos ao reconhecimento por DNA. Kelly explica que este é um método comparativo condicionado ao envio do material genético da vítima para confronto com o de familiares com o intuito de estabelecer o vínculo biológico entre indivíduos, e assim, identificá-los.
A complexidade neste caso só não foi ainda maior porque a empresa pela qual os homens trabalhavam forneceu uma lista prévia com o nome dos funcionários que ocupavam o alojamento no dia do crime. A partir disso, as famílias foram chamadas para comparecer à Polícia Científica e colher materiais genéticos para a comparação das amostras.
Continua depois da publicidade
— Entretanto, o exame de DNA deve ser a última alternativa, considerando que os métodos papiloscópicos, antropológicos e odontológicos possuem menor custo e maior celeridade — explica a especialista.
Quando todas as alternativas são esgotadas e a vítima permanece sem identificação, a perita diz que o perfil genético obtido do resto mortal é inserido na Banco Estadual de Perfis Genéticos de Santa Catarina e, posteriormente, submetido ao Banco Nacional de Perfis Genéticos para confronto com material colhido de familiares de pessoas desaparecidas que se cadastraram na base nacional.
Um caso recente de identificação utilizando este método foi de um pescador do Ceará, que estava desaparecido desde 2011. O corpo foi encontrado em 2015 em uma praia de São Francisco do Sul e suas amostras genéticas foram compartilhadas na base de dados nacional. Dez anos depois, Francisco foi identificado após confronto do DNA com o material genético da filha.
Relembre o caso
As vítimas da chacina foram encontradas carbonizadas dentro de um Fiat Uno incendiado por volta das 10h de um domingo, 8 de janeiro, no bairro Vila Nova. Todos os 10 envolvidos moravam na mesma casa, no bairro Morro do Meio, e seis deles foram encontrados com os corpos queimados após uma possível discussão com moradores da região. O imóvel também foi incendiado pelos autores do crime. Três pessoas conseguiram escapar dos criminosos e um último morador da casa segue desaparecido.
Continua depois da publicidade

De acordo com o delegado Dirceu Silveira Júnior, da Delegacia de Homicídios, as vítimas eram de Palmas e Cruz Machado, ambas cidades do Paraná, e trabalhavam em uma empresa terceirizada em Joinville.
Durante a noite de sábado para domingo, teria acontecido um desentendimento fora da casa entre uma das vítimas encontradas carbonizadas e um dos autores do crime, de acordo com o delegado. Horas depois, os suspeitos teriam voltado até o local e ateado fogo no imóvel, como retaliação pela discussão.
No local, havia três carros pertencentes à empresa que foram usados para transportar as vítimas até uma estrada próxima ao fim da Rodovia do Arroz, no bairro Vila Nova. Foi onde um dos veículos, um Fiat Uno, foi encontrado carbonizado com as vítimas dentro por moradores, por volta de 10h de domingo.
Em relação aos sobreviventes, o delegado afirma que eles também foram retirados da casa pelos agressores, porém, conseguiram fugir dos suspeitos em algum momento durante o trajeto para o local em que seriam mortos. Os três não ficaram feridos e retornaram para casa. Um deles segue desaparecido.
Continua depois da publicidade
A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que entre oito a 10 pessoas cometeram a chacina. Até o momento, dois foram presos.
A reportagem do AN conversou com um dos responsáveis pela empresa que contratou os trabalhadores, que afirmou que já havia alugado o alojamento em outras oportunidades e que nunca havia tido problema com o local. Além disso, tanto ele quanto os familiares se chocaram com a violência deste crime, já que definem as vítimas como tranquilas, sem antecedentes de brigas.
Leia também
Pista cede e BR-280 volta a ser interditada em Corupá; veja fotos
Incêndio atinge fábrica de móveis em Rio Negrinho, no Norte de SC
VÍDEO: Morador de SC flagra “falso beija-flor” no jardim de casa