Depois de ser ovacionado por um auditório lotado e disputado para selfies e autógrafos, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) palestrou na noite desta sexta-feira em Florianópolis, em evento organizado por acadêmicos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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Grupos protestam contra o presidente interino Michel Temer em Florianópolis
Antes de iniciar a conversa sobre O Brasil de hoje: a crise política e saídas para a economia brasileira — e de começar o encontro engrossando o coro da plateia de “Fora, Temer” —, ele falou com o Diário Catarinense sobre os rumos políticos do país e sobre a possibilidade de voltar a ser candidato.
O que motiva o senhor a percorrer o Brasil neste momento?
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Porque seguramente passamos pelo pior momento da história moderna brasileira, da qual sou partícipe, ou testemunha, há 35 anos. O Brasil corre riscos tremendos nesse instante. Temos uma confusão porque havia um governo muito ruim, porque a Dilma era muito mal-avaliada e eu mesmo tenho várias opiniões negativas, e a população caiu num envolvimento desse esforço de golpe que elites e políticos estão fazendo. Fazem por três motivos. Primeiro, os políticos querem por um fim à Lava-Jato, como já está evidenciado. Segundo, o centro da especulação financeira, que é onde está o poder real no Brasil, quer propor um conjunto de medidas já em marcha para raspar todo e qualquer centavo da educação e saúde para gerar excedente para colocar no saco sem fundo da especulação e da agiotagem oficial. E terceiro é o estrangeiro. O Brasil faz um esforço notável de reaproximação com vizinhos do Mercosul e os Brics estão na iminência de fundar um banco multilateral que independiza o planeta das instituições hegemonizadas pela América do Norte. Também o pré-sal brasileiro, cuja lei de entrega também já está votada no Senado e vai para a Câmara com orientação de urgência do Temer. Enquanto isso, nosso povo é distraído com a novelização do escândalo, mesmo às vezes sendo coisas requentadas. Porque saber que o Eduardo Cunha é ladrão, eu sei há mais de 10 anos.
Qual o caminho para a solução?
Proteger a democracia. Explorar no limite do que seja possível, ainda que minha experiência indique improbabilidade, mas tentar que se reverta no meio do povo essa passividade diante da insatisfação com a Dilma. Essa escalada golpista não é contra a Dilma ou a favor do Temer, é contra o brasileiro, contra o povo. Então uma pessoa como eu, que não tem rabo de palha e conhece o que está ocorrendo, tem por obrigação ajudar a tentar produzir esse milagre de que cinco senadores ponham a mão na cabeça, pensem no povo, na história e não aceitem ser lidos no futuro como aqueles que ajudaram, como bucha de canhão, uma quadrilha de salteadores a tomar conta na marra da República.
Como o senhor avalia o papel do seu partido, o PDT, nesse processo?
O PDT tem clareza da questão fechada contra o impeachment. Entendemos isso como imperativo para a defesa da democracia e da legalidade, porque carregamos a memória de Getúlio Vargas, que se matou antes, mas seria derrubado pelo mesmo conjunto de valores. Somos contemporâneos de João Goulart. Em 1964, havia um porta-aviões estacionado na costa brasileira. O “Renan Calheiros” da época declarou vaga a presidência alegando mentirosamente que o Jango tinha fugido, sendo que ele estava no país. Deu posse ao “Eduardo Cunha” da época, que promoveu uma eleição indireta em que até o Juscelino Kubitschek caiu na besteira de votar no Castello Branco. O STF, em dois dias, cumprindo sua tradição lamentável, homologou e hoje ninguém duvida que foi um golpe de uma noite que durou 21 anos. Hoje ocorre a mesma coisa, apenas com as sofisticações dos tempos modernos. A baioneta é substituída pelo dinheiro da propaganda e pelo empreguismo.
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Com tanta demonstração de apoio por onde o senhor tem palestrado, pretende voltar às urnas?
Não sei, duvido muito. Eles podem contar comigo para lutar, mas não sei se vou mais ser candidato.
Plateia grita “Fora Temer” durante palestra de Ciro Gomes em Florianópolis