Professora da Universidade de Buenos Aires, a advogada argentina Marisa Herrera apresentou a palestra de abertura do II Congresso de Direito de Família do Mercosul, na manhã de ontem, em Porto Alegre. Doutora em Direito, Marisa falou sobre avós e direitos humanos. Confira a seguir, trechos da entrevista concedida por e-mail a ZH:

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Zero Hora – O que explica a mudança no papel dos avós na sociedade?

Marisa – Em primeiro lugar, a maior perspectiva de vida e em melhores condições físicas e psíquicas, devido ao desenvolvimento da medicina. Há alguns anos, uma pessoas de 60 anos era muito mais velha e levava uma vida mais passiva. Hoje, aos 60 anos, várias pessoas seguem trabalhando, são muito ativas e têm uma vida dinâmica. Por outro lado, a mulher está mais inserida no mercado de trabalho e precisa de uma rede de apoio para cumprir suas obrigações. Os avós são uma referência familiar muito forte, que colabora com atividades domésticas dos netos. A empatia entre eles está mais estreita.

ZH – Quando essas mudanças começaram?

Marisa – Essas mudanças se deram em diferentes estratos sociais e com um desenvolvimento díspar, de maneira paulatina, no fim da década de 80 e princípio dos 90, e agora estão apresentando um perfil diferente devido aos grandes avanços da tecnologia. Os avós também estão se inserindo no mundo da cibernética para se conectar com os netos e entrar no seu mundo. Isso se dá principalmente nas classes médias e altas, não tanto nas classes mais desfavoráveis.

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ZH – Como essas mudanças se refletem no Direito de Família?

Marisa – Na questão da pensão alimentícia, no pedido de regime de comunicação por parte dos avós quando seus próprios filhos, por feridas não fechadas entre ambos, impedem o contato com os netos, e nas famílias com carências socioeconômicas, com o aumento de situações nas quais os avós ficam responsáveis pelos netos. Muitos pais jovens caem no flagelo da droga e não podem cuidar de seus filhos.