A vida de Moacir Rodrigues da Silva passou por uma reviravolta depois que ele sofreu um acidente. Há cerca de 10 anos, o homem que costumava trabalhar na construção civil viu a rotina mudar repentinamente por causa de um atropelamento. E mesmo quando se recuperou, as sequelas permaneceram. Em meio a dificuldade, ele encontrou a chance de desenvolver um talento que vinha “adiando” por falta tempo: era a hora de se aventurar no universo da poesia.

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Com palavras doces e aconchegantes, quem ouve hoje as belas poesias do homem de 63 anos não imagina a dureza que a vida impôs a ele. Natural do Paraná, seu Moacir veio para Santa Catarina em 1989 em busca de melhores condições. Com serviços braçais, rodou o Estado para trabalhar como pedreiro e servente. O importante, naquele momento, era ter um emprego e conseguir renda para sobreviver.

— Fui até Lages, Otacílio Costa, Doutor Pedrinho. Essas cidades todas, as cidades inteiras lá do Planalto. E ali do Litoral eu conheci as praias. Itapema, Balneário Camboriú, tudo trabalhando com obra — relembra.

Só que foi na Velha Grande, em Blumenau, que ele construiu algo mais resistente do que qualquer outro edifício planejado: ali, Moacir se casou e teve dois filhos. Ele se manteve, inclusive, na casa da companheira depois do acidente que o deixou com sequelas motoras e neurológicas, mas quando perdeu o benefício do INSS e não pôde mais ajudar a esposa com as despesas, ele tomou uma decisão.

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Na visão do antes pedreiro, era injusto viver com a companheira e não dividir as contas da casa. Ele não tinha mais condições de trabalhar e, há um ano e meio, recorreu ao Abrigo Municipal de Blumenau, que se tornou a morada do mais novo poeta da cidade.

Foi ali que o talento aflorou e passou a ser notado.

Foto: Adriano Da Nahaia, NSC TV

— Eu não tinha tempo de escrever no papel. Eu pensava, mas só deixava do lado. E aqui, mais tempo parado, não tinha trabalho, então em vez de ficar deitado o tempo todo, fico sentado lá atrás onde tem uma mesinha, lá atrás escrevendo — conta Moacir.

O cimento foi trocado pela caneta e, em vez de levantar edifícios, passou a construir textos que ficam guardados como um tesouro em uma pastinha de elástico. Ele explica que o apreço pela escrita já existia antes, só que lhe faltava, justamente, oportunidades para colocar a inspiração no papel. Agora, as palavras que, até um tempo atrás eram apenas ditas, se tornaram poesias.

Assim Moacir vai traduzindo os dias, relações e necessidades. Sempre com a alma repleta de arte e emoções.

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Talento reconhecido

O talento de seu Moacir também deve ultrapassar as paredes do abrigo e encantar outras pessoas que enxergam nas palavras a oportunidade de fazer arte. Isso porque os textos produzidos por ele serão expostos na Conferência Municipal de Assistência Social de Blumenau, prevista para agosto.

O evento serve para apresentar um balanço das atividades feitas nesta área e seu Moacir vai aproveitar para levar os escritos produzidos com o maior perfeccionismo.

— Eu gosto bastante dos textos. Para escrever assim, tenho que ler três ou quatro vezes. Às vezes eu vejo coisa errada, vou, arrumo, faço de novo. Pra fazer bem feito. Se não é bem feito, eu nem faço — comenta o poeta.

Esperança para o futuro

Apesar de ter se encontrado no universo da poesia, seu Moacir ainda espera por um momento que talvez nem consiga expressar através das palavras. O coordenador do Abrigo Municipal de Blumenau, Rômulo Renê Stupp, conta que um dos pedidos do poeta é retornar a São Paulo, onde mantinha o relacionamento com a ex-esposa.

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— Os nossos técnicos têm trabalhado para isso, para que possa acontecer, para que ele possa voltar a essa família de origem que ele tenta buscar, que são os irmãos, enfim. Essa família que se encontra no estado de São Paulo, e a gente tá trabalhando para que tenha um desfecho bonito nessa história — também relata Fábio Morástico Ramos, diretor de Políticas sobre Drogas e Reintegração Social.

Enquanto isso não acontece, Moacir usa a caneta para demonstrar o que ele sente após o rumo que a vida tomou. Apesar do acidente e das consequências causadas, o homem que tem mais de seis décadas de história não se assusta com o que ainda está por vir. Pelo contrário: continua a trajetória com sorriso no rosto e esperança de sobra, como ele mesmo menciona em um dos versos que escreveu.

“Estou vivendo em um recanto encoberto onde o sol fica mais perto e lá temos beleza. Estou feliz neste pedaço de chão. Tenho paz no coração ao lado da natureza. Estou distante da violência da cidade, longe de toda maldade, da tristeza da guerra. O ano inteiro, a primavera florida. Minha vida é mais viva nesse pedaço de terra”.

Foto: Adriano Da Nahaia, NSC TV

*Com informações de Felipe Sales, da NSC TV

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