O Santa sabatina os cinco candidatos a prefeito de Blumenau. Durante uma hora, os candidatos foram entrevistados pelos colunistas Pancho, Pedro Machado, Clóvis Reis, Fernanda Nasser e pelo repórter Jean Laurindo e os textos serão publicadas por ordem alfabética dos nomes de cada candidato, entre segunda-feira e sexta-feira.
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Na primeira publicação da série, o concorrente Arnaldo Zimmermann (PCdoB), da coligação Blumenau de Todos Nós (PCdoB/PSDC/PEN/PMN/PSOL), fala sobre propostas para áreas como saúde, educação, segurança pública e desafios como o transporte coletivo e a geração de emprego. Confira a seguir:
Pedro Machado – Arnaldo, queira a gente ou não, existem muitos rótulos na política. O fato de você estar disputando uma campanha pelo PCdoB faz com que muitas pessoas o apontem como comunista. O que você tem dito ou diria a essas pessoas?
Arnaldo Zimmermann – As pessoas não me dizem isso e nunca me perguntam isso, só quem pergunta é jornalista. Já recebi essa pergunta cinco ou seis vezes, só de jornalista. Nunca recebi de um empresário ou cidadão. Porque é algo que foi construído no imaginário e vejo que não é exatamente no imaginário popular, mas no de quem processa a informação. Não se perguntava em 1989 quando o Roberto Freire era candidato a presidente pelo PCB. Sobre o Mafra, figura conhecida do antigo PCB, nunca se perguntou isso.
Não se perguntava em 2008, 2012, para a Ângela Albino em Florianópolis. Mas é uma pergunta agora. Acredito que ela surge sem nenhuma relação com o PCdoB enquanto partido, mas tem uma ligação com uma pequena onda nacional com o rótulo anticomunista, que na verdade é igual a antipetismo. É uma relação que ainda estou tentando compreender. Nunca ouvi pergunta sobre o PCdoB organicamente e mais sobre a expressão comunismo. Nunca me declarei comunista.
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Fiquei 20 anos no PT, estou há cinco anos no PCdoB, sou novo lá ainda. Sempre tive meus ideais mais socialistas, mas nunca me declarei nem no PT um “ista”. Não gosto do “ista” e não gosto do “ismo”, mas tenho que usar para poder ter uma referência. Sempre me identifiquei com os ideais socialistas. Saio do PT, vou para onde? O partido mais próximo desses ideais foi o PCdoB.
Pancho – Das propostas que você apresenta quais têm mais identificação com o socialismo?
Arnaldo – Talvez a minha história de vida, com o que eu penso, os meus ideais e o que tem ligação com o que o PCdoB pensa: igualdade de oportunidades. Não é igualdade, todo mundo igual. Isso é um mito, uma fantasia, uma fábula de alguns que criam isso não sei de onde, de todo mundo ter as coisas iguais. É igualdade de oportunidades. O filho de uma dona de casa, de um trabalhador da fábrica, da construção civil ter os mesmos direitos e oportunidades de quem é filho de alguém que mora numa cobertura na Alameda e ganha R$ 50 mil por mês.
O Estado precisa dar condições para que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades. Isso é o que mais me aproximo, sem dúvida. E como você faz isso, como gestor, líder do Estado? Você faz isso através de vaga em creche. Lutando para que tenha médico para atender no posto de saúde e no ambulatório. Para que essa educação dê oportunidades dessa criança criar conexões e mapas mentais que ela se liberte de amarras que o próprio sistema acaba criando.
Fernanda Nasser – Falando de ensino fundamental, o que você pretende fazer pra melhorar a qualidade dele?
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Arnaldo – Quero criar nas escolas o ambiente de integração. Nós que somos jornalistas falamos muito no conceito de hipermídia e usei essa referência da relação de rede. O mundo antes seguia uma forma linear no século 20, agora ele faz múltiplas conexões.
Quero criar essas múltiplas conexões na escola. Esse é um avanço de qualidade. Pode ser a biblioteca. É um ambiente de integração com consulta a acervo digital, online, offline, onde ele possa ter conteúdo interdisciplinar, ter um avanço ao contrário do que alguns pensam inclusive nessa diretriz nacional que está surgindo agora.
Clóvis Reis – Pois é, qual a sua opinião sobre essa proposta de reforma?
Arnaldo – Não consegui ler a tempo, só estou vendo os tópicos e ouvindo no rádio, mas justamente achando que é um grande atraso você abrir mão da filosofia, sociologia e das artes. É justamente a segunda questão que eu ia falar da educação. Queremos criar no período escolar um incentivo ao esporte e à arte. Nossa proposta é a arte sem fronteiras, para levar para a escola e os bairros. Criança, adolescente e idoso, incentivar a arte. Falei por muitos anos que educação liberta. Faz alguns anos que eu acrescento: a educação e a cultura libertam. Porque os maiores absurdos que a gente ouve muitas vezes é de quem tem ensino superior. Só ter educação institucionalmente não resolve.
Então tirar a arte, diminuir conceitos de sociologia e filosofia, você está limitando o cidadão ao método de produção. A gente tem que libertar as pessoas. É justamente no que a gente quer investir, arte nos bairros, arte sem fronteiras. Não a arte só de investir no artista. Isso também. Mas quero que aquele livro que a criança vai estudar na sala de aula possa ajudar a interpretar uma peça no contraturno, isso vai ampliar os horizontes dele. Queremos abrir a qualidade do ensino. E o período integral é aquilo que todo mundo conhece, esporte, cultura e tecnologia. A garotada hoje toda acompanha os youtubers, trazer esse formato que eles já estão acostumados para esse ambiente escolar. Não o conteúdo, mas o formato.
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Pancho: Educação requer também investimento nos professores. Qual sua linha de pensamento em relação ao magistério?
Clóvis: Em um contexto, pela proposta que a gente está vendo, que será de congelamento de orçamento.
Pedro: Em um cenário que será também de perspectiva de queda de arrecadação até o final do ano e perspectiva de melhora só a partir de 2018.
Arnaldo – Gostei da sequência porque vai dar para responder exatamente o que tenho feito na campanha. Estou convivendo tanto com meus concorrentes que não tenho mais paciência pra ouvi-los. No começo eu estava gostando da campanha, mas agora não tenho mais paciência porque estou ouvindo sempre as mesmas coisas. Todo mundo está percebendo, embora eu só tenha 35 segundos na TV, que eu vou lá, aponto erros, faço a proposta e digo como fazer. Falei para os servidores: até meu filho de 13 anos consegue fazer proposta, a questão é como que você vai implantar diante das dificuldades.
A primeira coisa do professor é que Blumenau poderia estar muito mais avançada. Blumenau no último Ideb não está nem mais nos 10 municípios principais do Estado. Mas Blumenau só não está pior no ensino por causa do professor. Conversava com o pessoal das outras coligações. É interessante que muda prefeito e tem uma linha meio perene da qualidade de ensino. Muda o método, já teve Escola Sem Fronteira, já teve outros cortes na educação, mas a capacidade do professor, ele mesmo se autocapacitar é o que acaba resolvendo. Capacitação, valorização é fundamental. Eu como professor valorizo muito isso.
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Agora, a questão econômico-financeira. A gente está acostumado. Quando assumi a secretaria de Estado, orçamento é fácil de conhecer. A questão é ver o fluxo da execução financeira. A gente trabalha geralmente com gráfico e vai acompanhando as linhas. A execução financeira e orçamentária, às vezes, passam em linhas diferentes. Às vezes você tem que fazer suplementações e mudanças porque novos desafios ocorrem durante o ano, queda na arrecadação por exemplo. E onde que você faz mudanças? A minha experiência e a do Estado dizem que as atividades-meio são muito inchadas. Tem uma boa margem para investir nas atividades finalísticas. Já tenho falado que concurso público, a prioridade em momento de retração econômica, é educação e saúde.
Falando isso às vezes parece que nem é algo de alguém do campo de esquerda, progressista, porque todos falam que educação e saúde são prioridades. Mas há uma lógica. No momento que a coisa está difícil, tem que ter médico para salvar a vida das pessoas e buscar a cura e garantir a creche, a educação. O resto você vai enxugando. Se tiver que diminuir ou não aumentar a quantidade de pessoas na Secretaria de Administração, Planejamento, no gabinete do prefeito, você espera. Não que não seja importante, mas você espera.
Quero falar também de onde a gente vai fazer uma economia de mais de R$ 2 milhões por mês na folha. Oitenta por cento dos cargos de confiança ou vão para servidor de carreira ou não vão ser ocupados. Eu só não consigo dizer quais não vão ser ocupados porque é preciso estar lá dentro para saber. Isso já aconteceu antes. De fora você acha que aquela gerência não é importante, lá você vê que é importante. De duas gerências em um setor, de repente, pode ser ocupada uma. Mas vai ser no máximo 20% de comissionados de fora. Pode até ser menos.
No cálculo, só para ter uma ideia: 10 CEIs, com uma média de 250 alunos. O grande problema não é construir CEI. O governo do Estado tem dinheiro, o federal tem dinheiro. O problema é a folha. Dez CEIs com encargos custam R$ 1,5 milhão na folha. (Com essa economia) ainda sobra para atender aquela demanda de médicos. Isso não dá 3% da folha. O custeio de 2005 a 2015 aumentou 30% mais que a folha. Então tem algum problema ali. Porque lá no Estado a gente diminuía o custeio para poder garantir a folha. Aqui na prefeitura nos últimos 10 anos é o contrário, o custeio aumentou muito. Por que aumentou? Onde é que estão as gorduras, que você pode reduzir para fazer esse equilíbrio e ficar no limite prudencial?
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Clóvis – Você já tem alguma secretaria mapeada que vá deixar de existir?
Arnaldo – A de Serviços Urbanos, que vai juntar com a Secretaria de Obras. Imagine que na época que fui secretário municipal de Comunicação e depois Turismo e vereador, já era junto e tinha muito mais obra do que hoje. De um lado fica o Cras, do Estado, do outro lado o prédio do Minha Casa, Minha Vida. Fui lá semana passada, está lá ainda, não está pronto. Quando fui para o Estado já estava cobrando essa rua, porque tem um equipamento estadual e outro federal e a gente precisa da rua. Se não consegue fazer uma obra pequena dessa, então junta com a Obras. No tempo que era uma só se faziam obras gigantescas na cidade e dava conta. Esse é um exemplo de desperdício.
Mas existe uma ilusão quanto à diminuição de secretarias. A questão de diminuir de comissionados não é ilusão. Por que eu não fiz essa proposta lá no início, naquele debate da Acib? Eu não tinha isso ainda porque eu não tinha o cálculo. A gente precisou da campanha para fazer esse cálculo e saber que dá para cortar 80%. Agora, diminuir secretaria eu não tenho ainda claro que isso vai reduzir despesa, a não ser o salário do secretário.
Fernanda – Falando ainda da questão social, qual você acha que é a função da primeira-dama?
Arnaldo – Acho que a função da primeira-dama é apoiar o marido prefeito. Não vejo que ela tenha que ter uma função pública, como já teve inclusive. Agora, ela como cidadã, companheira do prefeito, aliada, alguém que está no dia a dia, convive dentro de casa, acaba ou tolerando ou acompanhando a agenda, que é complicada. Naquilo que ela pode ajudar a coordenar ações como voluntária, fazer esse trabalho junto a entidades ou outras frentes, como cidadã, acho louvável. A gente não teve essa conversa em casa ainda.
Clóvis – Ela vai saber pelo jornal (risos).
Arnaldo – É interessante, que a gente tem família. Tenho um filho de 13 anos e outro de 2. Aí, falo tanto que tenho duas crianças, outro dia o mais velho disse: “pai, não diz mais que tens duas crianças, sou pré-adolescente”. Eu disse, “tá bom, vou fazer uma reunião em casa para resolver”. A gente não fez até porque minha esposa é mais reservada. Não é ativista, nada. Também não é o modelo recatada e do lar. Acho que bela e recatada sim, mas do lar não, ela é profissional na área financeira.
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Pancho – Você é ativista?
Arnaldo – O que é o ativista? Sempre fui muito voluntário. Comecei na vida pública 20 anos atrás. Não tenho 20 anos de vida pública, comecei 20 anos atrás e tem uma grande interrupção. Fui oito anos vereador e secretário municipal e um ano e meio secretário-adjunto de Estado. O resto sempre como era antes: voluntário em causas. Talvez seja por isso que nesses 20 anos moro na minha mesma casinha de 90 metros quadrados, sempre ando com carro 1.0 porque isso é minha vida comum. Não mudou nada porque política não é carreira.
O ativista é um cara voluntário que o pessoal da rádio comunitária pede para ajudar e vou sem custo nenhum. Pessoal da associação de moradores pede para me engajar e vou. Não sei chamar se isso é ativismo ou não. Sempre fui um voluntário de causas, isso que me formou. Acho que tinha mais perfil de ativista lá no movimento estudantil, quando fui presidente do centro acadêmico. Lá a causa eram as mensalidades, essas coisas. Acho que você tem que ter uma causa. Como a gente acaba participando de tantas causas, não sei se exatamente um ativista, mas um voluntário de causas sociais.
Pancho – A gente está passando por um processo no transporte público. Você conhece essa proposta, acha que ela é adequada, existem meios de mudar caso o senhor assuma a prefeitura, há algo com o que você não concorde?
Pedro – Se você puder explicar também a questão do bilhete único, qual a matemática que vai garantir que essa opção exista. Se você já teve acesso à planilha de custo do transporte coletivo e de onde sai o dinheiro para pagar esse bilhete único?
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Arnaldo – Ótimo, até porque já vi que tem candidato fazendo distorção e chamando de outra coisa. Acho que ele não entendeu e está dizendo que é ônibus grátis, eu vi no “Face”. Até para gente explicar. Depende de quando o edital realmente vai ser lançado para ver se há tempo. Na transição você tem que chamar o prefeito atual e fazer os ajustes em acordo durante a transição para não ter que esperar o dia 1º de janeiro, então eu acredito que dê para fazer isso.
Sai o vencedor, que acredito que seja no segundo turno, dá tempo da primeira coisa, chamar o prefeito atual e dizer “não saiu o edital ainda”, vamos pegar e nem que a gente perca mais 30 dias, vamos juntar algumas equipes, os técnicos e ver os ajustes que dá para fazer.
Pancho – Que ajustes?
Arnaldo – Não tive acesso a tudo ainda, só às recomendações do Tribunal de Contas. Primeiro é eliminar qualquer possibilidade que indique favorecimento. Se há ou não há, não vou entrar nesse mérito. Mas evitar qualquer questão de favorecimento. Primeira coisa que essa dívida de R$ 3 milhões e pouco (valor referente aos créditos do cartão Siga na mudança da concessionária e assumido e cobrado do Município pela Piracicabana) já não quero reconhecer. A não ser que haja todo o comprovante de que isso foi explicitado publicamente. O que fiquei sabendo pela imprensa é que naquela fase de ajustes a catraca era livre e era uma questão da própria empresa de oferecer isso para a população. A gente não vai aceitar a população e o usuário ser onerado quanto a isso.
A questão do ar-condicionado, por exemplo. Talvez não sei se precisa ter ar-condicionado em todos, mas você tem linhas. Ver quais são as linhas. Se é no troncal que é mais necessário, se é no alimentador, interbairros. Quais são as regiões? Quais são os carros que pegam os horários de maior movimento e superlotação? Essa questão da pessoa com deficiência talvez seja um pouco mais complicado porque tomaria mais tempo, mas pode ficar em aberto para que carros futuros em reposição já possam ter um estudo para que seja o piso rebaixado. Naquela época em que a Piracicabana entrou estava coincidentemente em outro país e andava muito de ônibus, trem e metrô.
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Quando saiu ficava acompanhando pela imprensa e observava os pisos, aqueles certinhos, que você entra no meio-fio direto (faz sinal de linha reta com as mãos). Mas tudo bem, então tem que ver a topografia da cidade. Mas será que o troncal não podia ser? O troncal não vai lá em cima, no Zendron. Ele pega só avenida, corredor. Só que isso demanda tempo, a equipe não fez. Não vou querer travar e parar tudo para analisar, se não vai levar quatro, seis meses. Tem alguns ajustes que você pode levar adiante como está, mas deixar margem no edital e no contrato para que você possa fazer as adaptações.
Tem uma série de questões pontuais, agora outra: o contrato. Posso mexer no contrato depois de contratado, não posso é mexer no equilíbrio econômico-financeiro da empresa, porque aí é um direito adquirido dela. Não só da empresa contratada, mas de quem participou do certame. Posso fazer aditivos e apostilamentos depois. Até porque ninguém contrata uma empresa para 20 anos numa cidade como Blumenau e vai manter as mesmas linhas, os mesmos horários, a mesma bilhetagem. Daqui a três anos tem que fazer ajustes conforme o crescimento e a demanda.
Pedro – E o bilhete único?
Arnaldo – O bilhete único é para implantação inicial em uma linha central, parecido com aquele vermelhinho, Para Todos, verdinho. Um ônibus pequeno que pode ser colocado nesse edital ou pode ser contratado fora do sistema, desde que o edital tenha margem para isso. Ele rodaria na região central, não exatamente de terminal a terminal. É a região da Vila Nova, Itoupava Seca, perto da Furb, início do Garcia, início da Velha, Ponta Aguda. Mas muitos. E ao contrário do antigo, Para Todos, ser mais barato, porque rodará bastante.
Criar espaços de estacionamento e incentivo para quem tem o cartão circular pagar menos em estacionamento. Essa linha é para quem anda de carro. Ele sai da Itoupava Central, vai de carro até a região da Furb, do Terminal da Proeb, deixa o carro lá e circula. Mas isso é um processo. Um processo para que daqui a 20 anos a gente tenha parecido com o que é Londres, Munique e com o que algumas cidades do Brasil estão tentando fazer, que é diminuir os carros no Centro. Não é proibir. Mas você não vai conseguir implantar tudo de imediato. Você inicia o processo e essa linha central já é o início do processo. A contabilidade, a planilha de custos, é separada. O bilhete único poderia ser pago por dia ou por mês.
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Qualquer empresário ia gostar de ter uma empresa onde recebe mensalidades, já tem previsão de quanto vai receber. Fazendo esse estudo de impacto na planilha de custo a gente consegue evoluir e ver onde a gente avança para todo o sistema. Aí o bilhete único pode ter variações, cores diferentes para linhas e horários diferentes. Você desafoga também os terminais, salta onde quer e pega onde você quer. Começa a criar conexões diferentes para baratear o sistema. Embora eu não tenha formação nessa área, eu sou muito técnico nisso. Empresas que eu tive já eram baseadas nisso, na otimização. Eu fazia isso quando era gerente de rádio, diretor: fazia esses cálculos de otimização, rodízios. É a compactação. Compactação é diferente de centralização. Se você compacta, consegue eliminar todas as gorduras que tem para otimizar.
O bilhete único vai ajudar a compactar e baratear o sistema. Vai poder daqui a pouco vender mais barato, porque você pode usar à vontade o sistema. Daqui a pouco a gente vai ver que é mais barato, para quem usa e para o sistema.
Pancho – Qual é a sua opinião sobre a integração do transporte público na chamada região metropolitana de Blumenau?
Arnaldo – Uma pena que propus isso 20 anos atrás e falei que em 20 anos nós iríamos ter problemas, e aconteceu. Era vereador e a primeira coisa que trabalhei já antes de tomar posse: região metropolitana. Liderei a comissão na Câmara de Vereadores e criamos a região metropolitana. Foi criada no governo Paulo Afonso, o governo Amin montou a intendência, mas nunca funcionou direito, o governo Luiz Henrique extinguiu por causa das SDRs. Ali a gente falava. Tínhamos que ter sistema de transporte com terminais intermunicipais, por exemplo, um na divisa com Indaial. Talvez hoje tenha que rever como seria. E fazer expressinhos, de terminal a terminal, de Indaial para Blumenau e Gaspar sem parada. Vem direto. Como sistema de trem em outros locais, que tem pouca parada, ou ônibus intermunicipais.
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A gente não fez agora um plano atualizado da integração. Estudei muito isso 20 anos atrás que já era possível para não correr esse risco agora. Mas é chamar os municípios, criar a região metropolitana, abraçar essa bandeira, de novo. Ver com essas concessionárias onde você pode ter terminais e fazer a ligação. Porque não pode vir até o limite de Indaial e ali pegar outro carro. Claro que vai dar muito cálculo porque são concessionárias diferentes, é bem complexo, mas sou a favor de estudar e avançar isso.
Jean Laurindo – O seu plano de governo tem uma proposta de criação de bicicletários e pontos de locação de bicicletas nos terminais. Blumenau já teve uma experiência de aluguel de bicicletas que não deu certo. O que você pretende fazer de diferente para que dê certo agora?
Arnaldo – Às vezes os homens e as mulheres estão muito antes do seu tempo. Ouvi uma frase de um empresário que inaugurou empresa semana passada e ele disse: tentaram lançar o Festival da Cerveja em 2005 e estava virando um fracasso. Cinco anos depois, foi um sucesso. Às vezes você lançar uma coisa bacana antes do seu tempo… Já fui concorrente da Netflix, com uma empresa minha, mas estava antes do meu tempo. Você tem que esperar, tem que ter capital para investir. As bicicletas chegaram antes do seu tempo. Já estava incentivando, mas a questão é resistir e continuar. Isso faz o quê, cinco, sete anos? Tem uma questão de onda. Naquela época não tinha mais nem bicicleta. Faz uns quatro anos que voltei a ter. E moro em um morro muito alto. Descobri que posso sair na Escola Agrícola, onde moro, para ir até a Rua dos Caçadores de bicicleta. Vi que dá para ir. Não imaginava isso cinco anos atrás, achava impossível, que um caminhão me atropelaria. Ainda tem esse risco.
Há um clima na cidade, os coletivos, há uma geração nova que vem com uma outra mentalidade, então cinco, 10 anos fazem muita diferença. Bicicletário no terminal ajuda a integrar. Nos ônibus é mais complicado, mas ter alguns carros e algumas linhas que possibilitem isso é um avanço. Mas é uma coisa que a gente sabe que tem que ser gradual porque você vai chegar antes do seu tempo.
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Nos terminais, humanizar o terminal. Um exemplo é o Aterro, tem um monte de ocorrência de violência lá porque é um lugar que dá uma sensação de abandono. Criar as praças no entorno onde der. Quando foi criado aquele parte do Angeloni, depois o pessoal disse: mas é lugar para levar consumidor de droga e tudo mais e acabou, porque era antes do seu tempo. Investir em praças como essa agora talvez seja um outro tempo. Agora estamos em uma era de revitalização dos centros no mundo todo. Essas praças ao redor do terminal vão ajudar a comunidade do bairro a incentivar, fazer até uma horta comunitária ali perto.
Às vezes parece utopia, porque o pessoal não cuida, mas estamos entrando em uma era que as pessoas estão tendo mais preocupação com isso. E dentro do terminal, serviço. Como galeria de serviço em shopping, supermercado, ter espaços, quiosques para dar encaminhamento a questões de IPTU, serviços mais simples para não precisar se deslocar à prefeitura.
Pancho – A frota da cidade aumenta cada vez mais e o número de usuários do transporte coletivo diminui. É possível inverter isso?
Arnaldo – Acredito em três tempos: os quatro anos de governo, 2030 e daqui a 20 anos. Não dá para a gente hoje se limitar a só plantar uma semente. Você tem que plantar, adubar, regar, ver a planta começar a crescer e no processo de crescimento não dá mais tempo, você sai e o outro vem. Muita gente diz que plantou a semente mas morreu ali, não chegou nem a germinar. O que a gente tem que fazer em quatro anos é investir no transporte coletivo, torná-lo atrativo.
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Eu me comprometi, inclusive com a ABC Ciclovias, não vou conseguir fazer isso todos os dias, mas periodicamente vou pôr na agenda para ir trabalhar de ônibus, de bicicleta e às vezes até a pé, embora seja mais difícil porque são seis quilômetros. Acho que o rico nunca vai andar de ônibus, não tenho essa ambição. Mas se a classe média andar de ônibus, pelo menos começar com essa linha central, ter outros hábitos… Aliás, nos anos 1980, quando cheguei aqui, muita gente da classe média andava de ônibus.
Pegava porque precisava mesmo, mas o pessoal que tinha carro deixava em casa e ia de ônibus. No cálculo era mais barato. Hoje não, hoje é mais barato ir de carro. Tem que inverter essa ordem. Tem que ser atrativo, ter um preço justo, por isso essa evolução do bilhete único. Precisa investir na mobilidade. Outro dia alguém me perguntou: você vai parar o que está sendo feito? Não vou parar nada, tudo que está sendo feito vou continuar. Mas tem a demanda reprimida e a demanda atual. Demanda reprimida é com pesquisa. Porque você não sabe quem está usando.
O sujeito não está usando determinado modal e tem que ir lá entrevistar para saber o que ele pensa. A demanda atual tem que ter ou sensor eletrônico ou fiscal para contar quantos carros passam. A gente vai criar redes estruturais através do Plano de Mobilidade. Rede estrutural define rede que passa a Martin Luther para a Heinrich Hosang, que sai para o bairro da Velha e Vila Nova. Fazer aquela compactação do transporte coletivo e também dos carros. Aí você define como muda as ruas.
Atualmente só põe cavalete e cone sem saber para onde vai. Aí você calcula a densidade crítica de cada rua. Você prevê que com a evolução de tantos carros, em cinco anos vai estrangular determinada rua. Aí você coloca semáforo inteligente, que custa mais ou menos o dobro do semáforo normal. Integrando com o Centro de Operações, melhor ainda, ele dá um ganho porque como ele libera onde tem 20 carros e segura onde tem cinco, ele faz esse cálculo sozinho ou através de controlador, dá um ganho de 15% a 20%. E aí você ainda pode investir nuns alertas eletrônicos para fazer com que a velocidade seja mais constante. Com isso você já diminui. Se mesmo que tenha margem de erro grande e diminua só 10%, tem o transporte escolar gratuito, que não está no sistema.
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A estimativa é chegar a 16 mil crianças das 30 mil da rede porque tem criança que mora em frente à escola. Não conheço a gratuidade total hoje, mas ela não chega a 3 mil crianças. O serviço não busca na porta de casa, é como nas outras cidades que tem linha própria, um motorista que cuida. Você tira carros da rua. Então você tem duas verbas aí, Fundo Nacional de Educação e do próprio sistema, do Seterb, uma parte do sistema de trânsito você pode investir no transporte escolar. Podemos mudar essa ideia na execução? Podemos, porque quero fazer o planejamento participativo, quero ouvir técnicos e a população. Se a população decidir, de forma organizada, sistemática, lógico, não no assembleísmo e nem na caixinha de sugestão como alguns fazem, que é mais importante abrir uma nova rua, tudo bem. Mas estou partindo, sou candidato.
Não posso dizer que vou debater, debater interminavelmente com a sociedade e não ter proposta nenhuma como alguns candidatos fazem. Toda resposta é que vai debater, vai debater. Tenho a proposta na minha ótica de hoje, porque tenho convicções, mas mudo minhas convicções se técnicos apresentarem projetos e estudos diferentes e se a população tiver uma compreensão diferente. Mas tenho que partir de uma convicção.
Jean – Como você pretende acelerar a fila por consultas e exames sem prejudicar quem já está com pedidos represados e como pretende garantir médicos nas policlínicas de bairro que você promete implantar?
Arnaldo – Temos sete ambulatórios gerais então são sete regiões do próprio orçamento. A gente quer fazer esse mapeamento para ver quais são as demandas diferentes. Na prática eu sei, mas isso precisa de estudo para definir onde vamos evoluir ambulatório para policlínica. A policlínica de bairro é um avanço porque começa a dar mais preferência. O ESF é para atenção básica e lá tem que ter clínico-geral.
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A policlínica vai trabalhar as referencialidades. Com a proposta que a gente tem, que são as quatro principais, pode ter mais, é justamente os públicos mais vulneráveis. Pediatra para criança, ginecologista para mulher, geriatra para idoso e cardiologista para doenças do coração. Nossos profissionais de saúde iniciaram esse debate que a gente expandiu para outros que não são do partido. Eles discutiram e para mim essa questão da policlínica é algo que eles discutem isso nas conferências estaduais, nacionais. É uma tendência, outro modelo. Por que priorizar as especialidades? Porque aí você consegue diminuir a fila na policlínica da Itoupava Norte, porque o fluxo vai para essa policlínica de bairro.
Jean – Mas se os municípios em geral já têm dificuldade para atrair e reter médicos em todos os postos e ambulatórios, como garantir profissionais para mais esse espaço com especialidades?
Arnaldo – É uma boa pergunta, mas a gente não pode sucatear esse sistema, só pegar o médico que tem e colocar. Tem uma medida emergencial, que repito, não é a principal do governo, mas é a primeira a fazer, que é garantir médico nos postos de saúde. Fui no ambulatório da Itoupava Central quatro da tarde e não tinha mais médico, nem enfermeiro. No da Fortaleza também. Ambulatório, não é o postinho. E aí não adianta dizer que fica aberto até a meia-noite se não tem médico. Tem que ser atrativo. Talvez de novo tenha que ver a questão do plano de cargos e salários, tudo isso, mas já vai ser a médio prazo. Talvez semelhante ao que foi feito no governo federal do Mais Médicos. Queremos os médicos daqui. Não tem? Busca de fora. Blumenau está credenciada para 17 médicos do Mais Médicos. A gente pode ampliar isso.
Conversei com médicos de outros países na minha andança pelo Estado como secretário, eles e a comunidade muitos satisfeitos. Quero médico daqui. Não tem? Vamos indo, vamos ver as universidades de outros estados. Vamos atrair, criar condições. Se não é o salário, que seja a primeira moradia deles, alguma coisa. Essa proposta não está finalizada, mas de início você pode pensar: como ele vem? Tem como garantir moradia para os primeiros seis meses, um ano? Vamos pensar em soluções. Mas não é esse o plano principal. É você ter um processo de contratação e de concurso público para garantir esses médicos.
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Já o Sisreg (sistema de marcação de consultas), primeiro você tem que fazer uma grande força-tarefa para fazer andar. E aí começar a diminuir os intervalos, com a compactação. Não creio que a centralização do orçamento é o melhor. Se pegar as equipes médicas e trabalhar com coordenação nas sete regiões e analisar a compactação, mas com descentralização, dá para ver onde você consegue agilizar e ampliar o número de laboratórios que atendem, que hoje é quatro. Em 2012, queria chegar à meta de fazer o exame no dia, mas você consegue ter uma escala evolutiva que consiga daqui a pouco fazer o raio-x na mesma semana.
Pancho – Como o Município pode ajudar a amenizar o problema da segurança pública?
Fernanda – Na mesma linha, existe algum projeto para apoio às vítimas de violência contra a mulher? E a Guarda Municipal pode ajudar?
Arnaldo – Quero a Guarda Municipal desarmada, na minha ótica de hoje também. Se lá na frente vir que não é a solução, tudo bem, aí sim é discutir com a sociedade mesmo que é a vítima.
Pancho – Qual seria a função da Guarda Municipal?
Arnaldo – É ocupar o lugar que a PM ocupa nessas áreas de baixa vulnerabilidade, mas que são importantes para mediar conflitos. Essas áreas que a gente quer criar de mais convivência nos bairros, botar mais quadras, espaço para esporte nos bairros e tudo, a guarda não é patrimonial, é cuidar desses conflitos. Acho que aquele conflito que deu lá na Rua Botuverá, eu estive lá no sábado, fazendo visita. Povo pacífico. Vi gente consumindo droga lá, mas era pacífico.
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Lá foi por causa de perturbação do sossego. Ter que dar tiro, imagina uma guarda armada que saia para dar tiro nas pessoas. Não é isso. Ela vai mediar o conflito. E como faz a guarda de trânsito: deu problema maior, chama a PM. Guarda desarmada para mediar conflitos e libera a PM para perseguir o assaltante que vai de moto apontar uma arma para o caixa da padaria.
A guarda pode ajudar nesses espaços públicos porque a mulher é mais agredida nesses espaços, até no ônibus. Permitir que depois das 20h a mulher possa desembarcar fora do ponto. Fazer esse mapeamento de áreas de maior incidência, melhorar iluminação pública. Criar uma Delegacia da Mulher é responsabilidade do Estado, mas eu posso como prefeito ser parceiro, oferecer o terreno e o projeto arquitetônico. O projeto não é pouca coisa, é humanizar o espaço. Como fizemos com o Cras no Estado. Espaço humanizado de uma delegacia que não pareça um presídio.
Pedro – Qual a sua política de geração de emprego em Blumenau?
Arnaldo – Diversificar. Se olhar no Caged os números, dá para ver que os municípios que tiveram menos impacto são os que diversificaram a economia. Esses números que nós usamos às vezes são meio fantasiosos: “Blumenau é a primeira”. Claro, vai ser uma das primeiras porque é uma das maiores. A questão é quanto impacta dentro do próprio município. A distribuição de renda também gera consumo maior no município.
O que a gente precisa é investir na inovação. Porque aí você investe na qualificação do emprego, com isso há uma renda maior e você gera uma economia criativa, foge só dessa cadeia produtiva. Embora os cinco setores do Pedem (Plano de Desenvolvimento Econômico do Município) sejam importantíssimos, diversificar mais é importante porque com isso você terá uma distribuição maior, em setores diferentes.
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Blumenau tem o IPTU mais alto das 32 cidades mais desenvolvidas do Brasil. Isso é ruim para uma pequena ou média empresa, porque o IPTU para alguém que vem montar uma empresa de TI, por exemplo, tem o aluguel, que aqui é caro, e o IPTU. Isso impacta muito na escolha que ela vai fazer. Por que o IPTU é caro? E essa demora (para abrir) uma empresa? É preciso ver esses carimbos, agilizar e dar condições para empresas menores também.
Pancho – Questões pontuais e respostas rápidas para finalizar: Aeroporto Quero-Quero.
Arnaldo – O aeroporto tem que ser mais regional. Utilizar o de Navegantes, esperando o término da duplicação da BR-470, como internacional, para grandes voos, de longa distância, e o Quero-Quero ter função mais regional, voltar a ser preparado para ter voos pequenos. Facilitar quem vai daqui a Chapecó, a poucas distâncias, mas saber que nosso grande deslocamento para voos nacionais é Navegantes.
Pancho – A prefeitura tem que investir em futebol profissional?
Arnaldo – A prefeitura tem que ajudar na captação para um estádio. Não para clube, prefeitura não tem que ter nada com clube. Agora, ela pode ter um patrocínio, esse da Oktoberfest é tranquilo porque é uma questão de mercado. Mas ela tem que ser a grande liderança para puxar a cidade como Chapecó fez. Chapecó fez essa parte de ser a liderança para que a cidade respire futebol.
Blumenau não está respirando futebol profissional ainda na totalidade. Então tem que tomar essa liderança. Agora no estádio não. Pode ter ali formação de categorias de base, treinamento de crianças e adolescentes, utilizar o estádio para outras funcionalidades.
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Pancho – Turismo e Oktoberfest.
Arnaldo – No turismo a gente tem que criar eventos. O que a gente fez na época? Criação e captação de eventos. Ligar, é a falha no plano de turismo. Não há muita conexão com turismo de lazer, turismo ambiental e cultural com turismo de negócios. Aproximar mais o turismo de negócios com o de turismo e lazer. Ninguém quer fazer um evento numa cidade que não seja propícia ao lazer.
Pancho – Oktoberfest: você tem alguma mudança em vista, acha que está consolidada?
Arnaldo – Tem uma coisa que eu quero fazer, que fiz em 1999 e só existiu naquele ano. O ingresso mais barato para o blumenauense. O passaporte do blumenauense era mais barato. Bilhetagem eletrônica, foi o único ano que tivemos, até hoje é no papel. Está muito caro para o blumenauense. Quero que as famílias blumenauenses possam ir mais à festa. Que seja lucrativa, mas que não seja algo tão comercial assim.