Algumas das principais decisões relacionadas ao comércio exterior brasileiro nas últimas décadas tiveram a participação de Maria Teresa Bustamante, 63 anos. A economista que se aposentou em 2009 comandou, durante 36 anos, as negociações internacionais da Whirpool – que já foi Embraco e Brasmotor.

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Esta colombiana que mora no Brasil desde 1970 e passou a vida tratando com Organização Mundial de Comércio, Alca, Mercosul e governos de diversos países não consegue parar. Doutoranda em Administração, dá aulas na faculdade Sociesc, em Joinville, onde reside, atende os clientes da Wellcome – empresa de assessoria, consultoria e representação em comércio exterior que mantém há 32 anos com o marido -, preside a Câmara de Comércio Exterior da Fiesc, é consultora da Associação Comercial e Industrial de São Paulo e ainda encontra tempo para ministrar palestras pelo país todo.

O segredo está na negociação

Porém, no meio disso, Maitê, como é conhecida, não abre mão de passar um tempo em casa e do contato com os três filhos, que moram em Porto Alegre. As férias, para ela, são sagradas: todos os anos, 10 dias são reservados para uma viagem com o marido e outro período é destinado para curtir em família, não importando onde e nem por quanto tempo, como gosta de frisar.

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O segredo para encontrar espaço para tudo, explica, está na negociação:

– Você precisa entrar em acordo consigo mesmo. Não é fácil, mas é possível administrar. O meu dia começa às 5h, para eu ter tempo de fazer pilates, estudar em Curitiba, tocar minha empresa e estabelecer uma agenda que privilegie minha saúde, meu esposo e meus filhos, me permitindo ter qualidade de vida.

Mestre em negociar, Maitê destaca a transparência como uma de suas características principais.

– Transparência é diferente de rigidez. Se a regra está colocada, deve ser cumprida. Fui negociadora a vida inteira, e o que ficou acordado precisa ser cumprido.

O que vale é o conhecimento

Foi a postura, classificada por ela mesma como dura, que ajudou Maria Teresa Bustamante a se estabelecer e ser respeitada num ambiente predominantemente masculino. Para ela, a questão de gênero no contexto corporativo é secundária.

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– Eu defendo a bandeira do conhecimento. Você tem de ser o melhor naquilo que faz. Você não pode se dar o direito de ser meia-boca. Não pode saber pela metade. Uma mulher que não sabe o que está falando tem o mesmo valor de um homem que não sabe o que está falando. Por isso, procuro sempre aprender cada vez mais, estudar, participar de cursos.

Apesar de relativizar o fator gênero, Maitê conta que suas equipes sempre foram predominantemente femininas:

– Gosto de trabalhar com mulheres, porque temos o diferencial da sensibilidade e da intuição e, além disso, somos multidisciplinares.

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Apesar do foco no trabalho, a executiva sempre deixou o lado família falar mais alto. Ao longo dos anos, recebeu várias propostas para trabalhar no exterior, mas recusou todas em nome do marido e dos filhos. Os convites a deixaram lisonjeada, mas a maioria não chegou nem mesmo a ser colocada em discussão em casa.

– Seria positivo para mim em termos profissionais, educacionais e culturais, porém, muito egoísta da minha parte. Então, abri mão dessas oportunidades, mas de maneira racional. Sabia que isso poderia me custar o emprego, mas sempre tive noção de que se tratava de uma relação contratual: o direito que tinham de me demitir era o mesmo que eu tinha de pedir demissão.

Além da parceria com a empresa, Maitê credita ao esposo grande parte de seu sucesso profissional.

– Ele é uma peça essencial. Teve participação de 50% em todas as minhas decisões. Ele sempre me deu muito apoio, é um estusiasta de tudo que eu faço. Estamos sempre juntos, dividindo tarefas, cedendo, renunciando e construindo o relacionamento todos os dias.

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