As unhas pintadas de esmalte roxo e o rosto cuidadosamente maquiado contrastam com a farda cinzenta e com a botina preta fechada. A aparência de Nara Rúbia de França Nicocelli, 52 anos, a distingue dos demais colegas de trabalho: os policiais militares e bombeiros responsáveis pelo atendimento de chamadas de emergência.
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Nara começou na corporação há nove anos, quando só os homens cumpriam o papel de registrar as ocorrências da cidade. Mas a experiência como telefonista é bem mais longa e ultrapassa três décadas.
Casada e mãe de um filho adolescente, a voz feminina do 193 é taxativa ao falar da responsabilidade que a função exige.
– São 500 mil joinvilenses nas nossas mãos, durante pelo menos seis horas por dia.
O começo, claro, foi bem complicado. O desafio de se tornar telefonista do 193 partiu de um vizinho que atuava na corporação. Mesmo estando empregada em uma empresa, ela decidiu arriscar.
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A partir daí, mergulhou numa nova rotina. Nara custou a se acostumar com os procedimentos dos bombeiros. Eram muitas exigências para uma única ocorrência: fazer a triagem, coletar as informações, encontrar o endereço e repassar detalhes precisos para a pessoa encarregada de mobilizar a viatura.
Isso sem contar na habilidade necessária para controlar o nervosismo de quem faz a ligação. Depois, o dia-a-dia da profissão acabou ensinando muito a Nara.
– Minha experiência antes de entrar para os bombeiros era de atender e transferir ligações. Tive de me adaptar muito rápido e isso foi bem difícil. O fundamental para essa rotina é manter sempre a concentração – diz.
Graças a essa concentração, Nara já salvou, via telefone, crianças de afogamento. Demonstrando muito “sangue-frio”, ela também ajudou a resolver uma série de casos que poderiam ter terminado de forma trágica.
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Apesar de não trabalhar do lado de fora, ela sabe que é responsável por salvar dezenas de pessoas por dia.
– Na época da enchente (de 2008), mesmo estando com a casa destelhada, cheia de água, tive de me manter concentrada para ajudar quem precisava. Para alguns, eu até comentava essa situação – relembra.
Com tantos anos de história para contar, Nara só não se orgulha dos trotes telefônicos que levou a sério. Mesmo com uma rigorosa triagem, ela já mandou viaturas e carros especiais para lugares em que não havia nenhum acidente.
– Quando isso acontece, é normal sentirmos um pouco de culpa – afirma.
Mesmo assim, o prazer da profissão é inegável.
– Cada um tem uma forma de ajudar. Eu sei que posso ajudar com o meu atendimento no 193, mesmo não saindo daqui do comando – finaliza.
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