*Por Gretchen Reynolds

A dieta cetogênica, de baixo consumo de carboidratos e rica em gorduras, pode afetar a saúde óssea dos atletas, de acordo com um novo e instigante estudo sobre corredores profissionais e seu esqueleto. O estudo, um dos primeiros a acompanhar atletas durante semanas de treinos intensos, revelou que os profissionais que mantêm uma dieta cetogênica apresentaram sinais indicativos de perda óssea.

Continua depois da publicidade

O estudo traz ainda mais evidências que mostram como nossa alimentação pode alterar a maneira como os exercícios nos afetam. Além disso, a pesquisa também gera preocupação em relação aos efeitos de longo prazo das dietas populares, incluindo a cetogênica, com alto consumo de gordura.

A esta altura do campeonato, qualquer pessoa que se interesse por saúde, bem-estar, perda de peso, exercícios físicos, alimentação ou listas de livros mais vendidos já ouviu falar das dietas cetogênicas, extremamente pobres em carboidratos e ricas em gorduras, que representam até 90 por cento das calorias diárias.

Quando seguidas à risca, as dietas cetogênicas alteram a maneira como nosso corpo obtém energia. Uma vez que os carboidratos são metabolizados rapidamente, nosso corpo geralmente recorre a eles primeiro para obter energia, seja dos carboidratos que consumimos ou dos que estão armazenados nos músculos e no fígado.

Continua depois da publicidade

Mas, quando as pessoas seguem dietas cetogênicas, elas queimam rapidamente os carboidratos armazenados no corpo e passam a obter a energia a partir da gordura. Entretanto, a gordura precisa ser quebrada antes de servir como fonte de energia e, como parte do processo, o fígado cria substâncias conhecidas como corpos cetônicos, que podem ser transformadas em energia.

Atualmente, as dietas cetogênicas são populares entre as pessoas que desejam perder peso, controlar a glicose ou regular a saúde. Alguns atletas também seguem a dieta, na expectativa de melhorar seu desempenho, já que, como fonte de energia, a gordura queima lentamente e dura mais.

Contudo, alguns estudos sugerem que dietas pobres em carboidratos e ricas em gorduras podem mudar o metabolismo dos ossos. Crianças que usam a dieta cetogênica para controlar a epilepsia costumam ter baixa densidade óssea, por exemplo. Além disso, quando os atletas ficam um ou dois dias sem consumir carboidratos, ocorrem alterações nos marcadores sanguíneos relacionados à saúde dos ossos.

Porém nenhum experimento havia acompanhado, durante longos períodos, o metabolismo ósseo em atletas de alto nível que fazem dietas cetogênicas. Portanto, para a realização do novo estudo, publicado em janeiro na revista científica "Frontiers in Endocrinology", pesquisadores australianos pediram a corredores de nível internacional que alterassem a dieta durante algumas semanas. Trinta atletas concordaram em participar durante o período em que realizaram treinos intensos, antes de campeonatos mundiais e outras competições. Eles se dividiram em dois grupos, os que queriam fazer a dieta e os que não queriam.

Continua depois da publicidade

Cerca de metade dos atletas aceitou o regime de baixo consumo de carboidratos e rico em gorduras. O restante continuou com dietas ricas em carboidratos. As refeições dos atletas tinham números de calorias equivalentes ao peso de cada um.

Mas, antes que as dietas começassem, os pesquisadores fizeram exames de sangue antes e depois de uma sessão de exercícios para determinar os níveis básicos de saúde óssea e outros marcadores de saúde e capacidade física.

O osso é um tecido ativo, que sofre pequenas rachaduras e se remodela de acordo com a forma como é usado. Sabendo disso, os pesquisadores conferiram no sangue dos atletas os níveis de determinadas substâncias associadas à quebra e à reconstrução dos ossos, assim como ao seu metabolismo.

Em seguida, os atletas embarcaram em um treinamento intenso durante três semanas e meia, enquanto comiam principalmente gorduras ou carboidratos. Depois disso, os pesquisadores fizeram novos exames de sangue e conferiram os marcadores de saúde dos ossos.

Continua depois da publicidade

Eles encontraram uma série de diferenças. Os marcadores de quebras nos ossos estavam mais elevados entre os atletas que foram submetidos à dieta cetogênica, em relação ao início do estudo, enquanto os marcadores de formação óssea e metabolismo estavam mais baixos. Os mesmos marcadores não haviam mudado nos atletas que fizeram dietas ricas em carboidratos. Em outras palavras, os atletas submetidos a dietas cetogênicas mostraram sinais de comprometimento da saúde óssea.

Ainda não se sabe ao certo como os ossos podem ser afetados pela dieta, afirmou Louise Burke, diretora de nutrição esportiva do Instituto Australiano do Esporte, em Camberra, e uma das principais autoras do novo estudo.

"Acreditamos que a dieta cetogênica pode afetar o metabolismo ósseo devido ao efeito dominó causado em determinados hormônios pela falta de carboidrato, juntamente com outros fatores", afirmou. Porém mais estudos ainda precisam ser realizados.

Os pesquisadores também não avaliaram se houve mudança na densidade óssea dos atletas, nem fizeram novas avaliações após o período de três semanas e meia. Não se sabe se os efeitos preocupantes permaneceriam, se tornariam mais intensos ou desapareceriam após um período mais longo de consumo intenso de gorduras. Da mesma maneira, ainda não se sabe se pessoas que não são atletas de alto nível seriam afetadas da mesma maneira se fizessem exercícios enquanto evitassem o consumo de carboidratos.

Continua depois da publicidade

Mas o novo estudo nos lembra de que a inter-relação entre nutrição e exercícios físicos é complexa e ainda não compreendemos plenamente como isso afeta nossa saúde. Por isso, Burke e seus colegas planejam voltar a estudar os efeitos de longo prazo das dietas cetogênicas e da prática esportiva.

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.