Os sintomas de prostração vêm latejando dentro do tecido nacional. Houve um lampejo em 1992, com a presença dos caras pintadas no Fora Collor, um alento que se alastrou e retirou do limbo a natureza apática de cidadania política do brasileiro. Logo, a partir dali e nesse meio, predominou a retórica da imagem popularesca e o povo navegou diante das benesses concedidas pelos governos do PT de um lado e os ganhos indevidos desse partido e seus aliados do outro: a corrupção institucionalizada sem precedentes na história da humanidade.
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A corrupção é efeito dessa condição da doença. Aproveita-se dela. Avança, pois não tem resistência. Não há anticorpos visíveis que deveriam estar nos Legislativos, a quem caberia o controle dos Executivos. A depressão cívica é um organismo amorfo e uma qualidade intrínseca do brasileiro em geral, definido assim: tem aversão à politica, não gosta de ser liderado, paga para não ser incomodado, se puder resolver com o jeitinho, melhor. Essa qualidade se identifica com uma ausência total de brasilidade, garra e crença nativa.
As cores da bandeira ficam bem em dias de jogos da Seleção, no cabelo, no vestuário, na face pintada. Mas, dentro, no âmago, onde residem os ideais, elas continuam vibrantes?
Recentemente, a retórica transvestida em mentiras levou ao mais recente lampejo cívico, com o Fora Dilma. A grandeza do episódio retirou a doença da gaveta da história e consumou o segundo impeachment. Mas os episódios de corrupção que continuaram a se espalhar conduziram novamente o brasileiro ao porão absoluto da quietude política. O ânimo foi abatido, os sinais vitais, que pareciam ter renascido, decaíram à estaca zero. As forças faltaram no Fora Temer e os sinais da depressão estão reinando na alma nacional.
Ouço agora ministros do TSE falarem sobre baixa estima do povo. Não. Não é baixa estima. É a expressão visível da depressão cívica, o reconhecimento da nossa incapacidade de produzir ações de grandeza, de tropeçar em nossas pernas cambaleantes e sem rumo, da ausência de líderes verdadeiros que nos representem. Aceitamos a realidade e não somos capazes de levantar a voz.
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Nesse campo fértil da depressão é que se instituiu na última década a mais formidável estrutura cor-rupta que se viu no mundo. Continuaremos assim, no leito frio à espera da medicação que está dentro de nós mesmos, anestesiada!
*Silvio Luzardo é professor e mora em Florianópolis
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