A constatação de que, mesmo inconformados com mazelas nacionais – como dificuldades econômicas, baixa qualidade dos serviços e corrupção -, os brasileiros mantêm majoritariamente a defesa das liberdades é um aspecto positivo e promissor para o país. Levantamento do Instituto Datafolha realizado neste mês de dezembro em 173 municípios mostra que aumentou, na comparação com os últimos anos, a confiança na democracia como melhor forma de governo. Ao mesmo tempo, diminuiu o número de pessoas que consideram a ditadura aceitável. No momento em que defensores da ditadura vêm sofrendo saudável restrição até mesmo nas manifestações antigoverno, que voltaram a se repetir no final de semana, o resultado da pesquisa deve ser saudado como demonstração de maturidade.

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A particularidade de 66% dos entrevistados expressarem a convicção de que democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo tem a ver com a maior participação dos cidadãos na defesa da melhoria de rumos no país. É o que se tem visto com maior intensidade desde junho do ano passado, com influência sobre o elevado grau de participação popular na mais recente campanha eleitoral. Ainda assim, os números não mascaram um visível desencanto com a democracia representativa, que convive com desvios episódicos de corrupção.

Meio século depois de o país ter rumado para uma longa intervenção militar – cujas feridas se mantêm ainda hoje, sem ter conseguido resolver problemas crônicos – e após quase três décadas de redemocratização, não pode haver espaço para a privação das liberdades. Neste cenário, cabe aos cidadãos exigirem seus direitos, além de cumprirem com suas obrigações. Isso significa reivindicar continuamente mais qualidade dos serviços de responsabilidade do poder público. No caso da educação, o resultado tende a contribuir com um antídoto para a tirania: como demonstra a mesma pesquisa Datafolha, a defesa da democracia é maior no caso de quem concluiu o curso superior.

Entre a liberdade e a tirania, o povo brasileiro optou inequivocamente pela primeira. Mas ainda precisa aperfeiçoar a sua democracia, fortalecendo as instituições e a precisão dos mecanismos de controle e de fiscalização, para que escândalos como o da Petrobras não desvirtuem a escolha da maioria.

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