À frente da Orth Produções há mais de três décadas, Eveline Orth é responsável por alguns dos shows e eventos mais marcantes que já passaram por Santa Catarina. Em seu currículo estão eventos como o show da turnê Portas, de Marisa Monte, em Florianópolis, o espetáculo de Toquinho junto à Camerata, no Natal de 2015, e a produção artística de Beyoncé no show em Canasvieiras, em 2010.

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Recentemente, Eveline foi foi reconhecida com a Medalha Cruz e Souza, entregue pelo governo estadual a personalidades de destaque do setor cultural. Em entrevista ao NSC Total, a carioca fala sobre sua perspectiva sobre a cultura na Capital.

A vida e carreira de Eveline Orth, uma das maiores produtoras culturais de SC: “Gosto do que faço”

Como era o público de teatro em Florianópolis no início da sua carreira?

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Florianópolis tinha um público muito bom para teatro. Depois, isso já não funcionou tanto, e passamos por um período difícil, principalmente antes da pandemia, quando o teatro estava com dificuldade de atrair público, porque a gente tinha tido quatro anos em que estourou o stand-up, que tirou muito público do teatro. Só que aí veio a pandemia e, no retorno, o teatro voltou com uma força gigante. Temos tido resultados muito bons atualmente. 

Mas quando falamos dos anos 1990, 1995, temos que ressaltar que tínhamos a Mostra de Dança de Florianópolis e o Festival Isnard Azevedo. A mostra, nessa época, era uma das mais importantes do Brasil, organizada pela Fundação Franklin Cascaes, que tinha muita força na época. E o Festival de Teatro era também uma grande potência, trazia Grupo Galpão e grandes companhias. Isso se chama formação de público, porque os festivais e as mostras formam a plateia. 

Também tinha um movimento na cidade de grandes grupos de dança contemporânea nesse período, que também formava público. No momento em que você vai perdendo isso, você vai perdendo o público.

Quando surgiram artistas como Zeca Baleiro, Lenine, Chico César e Paulinho Moska, Florianópolis era a cidade do Sul em que eles tinham mais sucesso, porque as rádios daqui tocavam bastante MPB e rock brasileiro. Os anos 1990 foram muito ricos culturalmente e eu acho que a gente começou a viver um limbo de público. Teve uma mudança na produção musical, que passou a ter mais mega shows, você passou a ter outros ritmos musicais, a ter uma influência da música baiana, do Movimento Funk. [Até que] Floripa, num determinado momento, começa a ter algumas coisas internacionais, no final dos anos 2000.

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Veja fotos de Eveline Orth

E hoje, como você vê o mercado de eventos em Florianópolis?

Hoje, você tem uma programação intensa. Você tem festivais na cidade, eventos importantes, que têm uma qualidade. Você tem casas de shows com programações. E obviamente há um aumento da população, que vem de grandes centros urbanos, que tem qualificação e que consome (arte). Eu acho que a cidade está muito mais rica do que ela já foi.

Mas eu acho que atualmente a gente precisa de um teatro maior. Por conta do ticket médio, que às vezes inviabiliza (o evento). Porque você vai, por exemplo, em um Teatro do Sesi, em Porto Alegre, e são 1.800 lugares. Você vai para o Teatro Guaíra, em Curitiba, e são 2.100 lugares. Você vai no CIC, e são 900. E aí a conta não fecha.

Hoje, a cidade precisa de um teatro. Não uma casa de show, de um teatro mesmo. Teatro para receber espetáculos que têm cenário, como balés e óperas. Para isso, você precisa de caixa acústica e caixa cênica. O CIC é um teatro maravilhoso, está entre os melhores teatros do Brasil em termos de acústica e estrutura, mas a gente precisa de um espaço maior. E vai ter público para consumir isso. Eu aposto muito.

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Na sua opinião, há espaço para Florianópolis viabilizar grandes shows internacionais, como recentemente ocorreu com Paul McCartney?

Vou fazer um comparativo entre Beyoncé, em 2010, e o último show de Paul McCartney. O da Beyoncé foi um show no verão, em 2010, para 23 mil pessoas. Nessa época, 28% do público que comprou ingresso era de Florianópolis. O restante foi São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e interior de Santa Catarina. Então você tinha o verão, e aí você ia para um lugar turístico também. Era um pacote. 

O Paul McCartney quando veio, agora em outubro, não fez show em Porto Alegre, não fez show em Curitiba. Florianópolis virou uma atração também. Porque Florianópolis é uma atração.

Obviamente que a gente precisa melhorar. Precisa ter a viabilidade de trânsito. A gente sabe como é complicado e continua sendo o maior problema. 

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E quais as perspectivas para o futuro, tendo em vista que o mercado ainda se recupera da pandemia?

A pandemia, que eu brinco chamando de pandemônio, foi muito difícil. Em 2022, voltou a coisa represada, todo mundo querendo consumir tudo. E aí, óbvio, que neste ano a gente ia ter um ajuste. 2024 foi um ano que equilibrou. 

Eu vejo 2025 com boas perspectivas, porque a gente tem alguns dados positivos. Apesar da gente ter inflação, a economia cresceu e aumentou o número de pessoas empregadas nesse país, etc. A gente não pode desconsiderar nada disso.

Eu particularmente estou muito animada com a demanda que está vindo e que a gente já está agendando. Já temos muitos eventos programados. Vamos fazer uma turnê com Antônio Fagundes e Christiane Torloni em maio, que passará por todo o Sul, e também teremos o Ney Matogrosso na Arena Opus em 26 de abril do ano que vem.

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