Bruno Watté
Diretor de gestão e arte da UniSociesc
Em tempos de crise aguda, econômica e política, pode parecer fora de contexto trazer à pauta temas como investimento e desenvolvimento. Mas não há outro caminho para voltarmos a crescer de forma sustentável e duradoura.
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O último ciclo de crescimento brasileiro, especialmente entre 2004 e 2013, esteve fortemente amparado na ampliação da massa salarial e do consumo das famílias. Essa matriz, potencializada pelas medidas anticíclicas adotadas após a crise de 2008-09, até gerou resultados por algum tempo, mas está cada vez mais claro o caráter pouco sustentável de sua eficácia.
Sem uma elevação significativa e sustentada da produtividade de nossa economia, não conseguiremos manter o ritmo de crescimento.
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Artigo na Folha de S.Paulo, publicado no dia 31 de maio, mostra que a produtividade média do trabalhador brasileiro equivale a um quarto da do trabalhador americano, ou à metade da do trabalhador chileno. Esse é o tema central a ser enfrentando.
Três fatores principais explicam tamanha diferença de produtividade: 1) nível de investimentos em máquinas, equipamentos e infraestrutura; 2) patamar de qualificação e educação do trabalhador; 3) grau de eficiência da economia (burocracia dos processos, complexidade tributária, barreiras comerciais etc.).
A eles, ouso aqui acrescentar um quarto fator, que chamarei de “nível de cultura empreendedora”, e está relacionado à vontade, à determinação das pessoas em fazer melhor, em assumir responsabilidades, em inovar e fazer acontecer.
Ao analisarmos um pouco mais a fundo esses fatores, fica evidente a relevância do tema educação. O impacto parece óbvio no fator 2, uma vez que um trabalhador mais capacitado e educado é capaz de operar equipamentos e máquinas mais complexas.
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Mas o seu impacto vai além, pois é também um conjunto de pessoas mais instruídas e qualificadas que será capaz de revisitar a burocracia de nossos processos, questionar a complexidade de nossa estrutura tributária, propor inovações disruptivas ou tomar decisões acertadas de investimento.
Retomando a comparação com americanos e chilenos, fica evidente a correlação direta entre educação e produtividade: o brasileiro possui uma média de 7,4 anos de estudo formal; o chileno, 9,7 anos; e o americano, 13,3 anos.
Ampliar o tempo de permanência do brasileiro em sala de aula e elevar a qualidade da educação oferecida a ele é condição necessária, ainda que não suficiente, para alcançarmos um crescimento sustentado e compatível com as nossas necessidades.
Ainda que o Estado tenha um papel formal nesse processo, as empresas e as próprias pessoas precisam ter clareza de suas responsabilidades nesse tema, na condição de interessados diretos dos benefícios por ele gerados.
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