Frente às três mortes ocorridas no acidente do último dia 15 de janeiro – incluindo a perda do atacante Claudio Milar maior ídolo dos quase 98 anos de história do clube – o rebaixamento do Grêmio Esportivo Brasil para a Segundona Gaúcha definitivamente não é a pior notícia.

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Há exatos 236 dias, desde a consagração na Série C do Brasileirão no ano passado, os Xavantes são surpreendidos por péssimas notícias em sequência. O rebaixamento no Gauchão é o knockdown provocado por uma série de fatos que parecem testar diariamente a máxima com a qual a torcida do Brasil de Pelotas se define: a maior e mais fiel.

A cronologia dos 236 dias de sofrimento

31 de julho de 2008: Brasil vence o Toledo, no Paraná, e garante presença na Série C 2009. A notícia é comemorada por diretoria e torcedores. É a conquista do tão sonhado “calendário cheio”. A CBF promete para a Série C 2009 um campeonato com dois grupos de 10 times, com jogos de ida e volta, o que indica futebol o ano inteiro, prenunciando rendas, patrocínios e verbas de televisionamento. Chegar à Série C 2009 faz parte do projeto de recolocação do clube no cenário nacional.

24 de agosto: Brasil empata em 1 a 1 com o Marcílio Dias e garante vaga na fase final da Série C de 2008. Apesar de estar na Terceirona do próximo ano, clube ainda sonha mais, e tenta chegar à Série B do Brasileirão.

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30 de outubro: com a má fase no octogonal da Série C, Beto Almeida é contratado para substituir Itamar Schulle.

23 de novembro: na última rodada da Série C, Brasil é goleado pelo Rio Branco no Acre, por 4 a 1, e dá adeus ao sonho de chegar à Série B. Ainda assim, comemora a permanência na Série C renovada de 2009.

08 de dezembro: o presidente Helder Lopes é aclamado para o terceiro mandato consecutivo no cargo, 15 dias após o final da temporada. Em comparação com os adversários do Interior, Brasil começa com muito atraso a preparação para o Gauchão 2009, e de novo praticamente sem patrocínios.

11 de dezembro: Brasil contrata o técnico Flávio Campos. Com ele, é acertada a chegada do preparador de goleiros Giovani Guimarães.

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12 de dezembro: são poucos os remanescentes da Série C no grupo. Os primeiros a renovar contrato são os zagueiros Régis e Alex Martins, dupla de amigos identificada com o clube. O atacante Claudio Milar e o volante Cléber Gaúcho, completando o quarteto de ídolos, recebem férias mais longas, mas também encaminham acerto.

14 de dezembro: para surpresa geral, Flávio Campos desfaz o acerto com o Brasil, alegando melhor proposta do Remo-PA, e nem se apresenta no Bento Freitas.

15 de dezembro: a diretoria age rápido, e contrata o técnico Armando Desessards, sonho antigo dos xavantes, que deixa a Ulbra para substituir Flávio Campos.

26 de dezembro: com 14 jogadores no elenco, Brasil se reapresenta e inicia preparação para o Gauchão, a menos de um mês da estreia, prevista para 22 de janeiro.

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29 de dezembro: Claudio Milar e Cléber Gaúcho renovam contrato.

05 de janeiro de 2009: Danrlei se apresenta ao Brasil e para o Centro de Pelotas, arrastando uma multidão de torcedores.

11 de janeiro: Brasil realiza um sonho de Claudio Milar. No primeiro amistoso de 2009, equipe vence a Seleção do Chuy por 2 a 0. Pela primeira vez, o veterano atacante enfrenta o time onde surgiu para o futebol no Uruguai.

15 de janeiro: após vencer o Santa Cruz em amistoso no município de Vale do Sol, por 2 a 1 – com um gol de Claudio Milar – o ônibus da delegação Xavante despenca em um barranco na ligação entre as rodovias RST-471 e BR-392, em Canguçu.

16 de janeiro: no início da madrugada, confirmam-se as mortes do atacante Claudio Milar, do zagueiro Régis e do preparador de goleiros Giovani Guimarães. Régis e Giovani são sepultados no final da tarde, em Pelotas. As perdas arrasam com milhares de xavantes que, atônitos, velam seus ídolos em total estado de choque.

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17 de janeiro: Claudio Milar é sepultado no Chuy.

17 de janeiro: além das três mortes, o grupo do Brasil de Pelotas perde por tempo indeterminado cinco jogadores (Edu, Xuxa, Uendel, Alemão e Rafael Gaúcho), o técnico Armando Desessards, o auxiliar Paulo Roberto e o preparador Fábio Caponi, todos feridos no acidente.

19 de janeiro: em reunião na FGF, com promessas de ajuda de clubes (Grêmio e Inter, principalmente) e empresários, e acordo para iniciar a competição a partir da 5ª rodada, o Brasil define que vai jogar o Gauchão 2009, apesar da tragédia. A diretoria alega que se licenciar do campeonato não livraria o clube de pagar salários, e o impediria de recuperar com bilheterias e patrocínios os prejuízos provocados pela parada.

19 de janeiro: no mesmo dia, Claudio Duarte se oferece para treinar gratuitamente o Brasil, e é confirmado no cargo em substituição a Armando Desessards, ferido no acidente.

20 de janeiro: FGF divulga tabela do Brasil de Pelotas, com oito jogos em 16 dias.

21 de janeiro: iniciam os treinamentos no Brasil. Alguns jogadores que estiveram no acidente deixam o trabalho sentindo dores, e outros nem conseguem participar.

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26 de janeiro: chegam os primeiros seis reforços do Brasil, que remonta o grupo às pressas, a uma semana da estreia no Gauchão.

03 de fevereiro: Brasil estreia no Gauchão 2009 com empate em 3 a 3 com o Santa Cruz, no Estádio Bento Freitas absolutamente lotado. Ao final do jogo, exaustos, jogadores se atiram ao gramado. Até o técnico Dunga, da Seleção Brasileira, acompanha a partida.

18 de fevereiro: sem conseguir vencer, Claudio Duarte deixa o Brasil-Pe, alegando que a equipe precisa de outro discurso no vestiário. A diretoria contrata para o cargo o técnico Abel Ribeiro.

19 de fevereiro: Brasil encerra maratona de oito jogos em 16 dias sendo goleado em casa pela Ulbra por 5 a 2, no jogo da despedida de Claudio Duarte. A partida termina em pancadaria depois que o atacante Rogério Pereira, da Ulbra, comemora um gol de maneira acintosa em frente à torcida xavante. Alegando que o jogador teria imitado a flechada com a qual Claudio Milar celebrava seus gols, jogadores do Brasil partiram para a briga.

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06 de março: Brasil dispensa seis jogadores.

09 de março: TJD suspende três jogadores do Brasil envolvidos na briga com a Ulbra – os goleiros Danrlei e Luciano, e o zagueiro Alex Martins. Um dia depois o clube consegue efeito suspensivo. Danrlei, lesionado, preferiu não recorrer para se recuperar.

10 de março: Brasil leva goleada de 7 a 0 do Inter, em casa.

17 de março: CBF altera projeto original da Série C do Brasileirão. Para conter gastos, e ainda sem patrocínios, campeonato será de tiro curto, prejudicando o planejamento do Brasil, que havia firmado contratos longos com jogadores e patrocinadores pensando na competição nacional. Se for eliminado na 1ª fase, Brasil jogará apenas oito partidas pela Série C. Mais um duro golpe no planejamento do clube.

24 de março: faltando três rodadas para o encerramento da fase classificatória do 2º turno, o Brasil perde de virada para o Veranópolis, fora de casa, por 3 a 1. O resultado rebaixa a equipe antecipadamente.