Até bem pouco tempo, Jaraguá do Sul era vista e citada com louvor como exemplo de sucesso nos negócios, de empreendedores exitosos, de um manancial de riquezas e de ensinamentos para grande parte de Santa Catarina e até do Brasil. Quase que uma das não muitas ilhas de excelência e prosperidade, de qualidade diferenciada de vida e de competitividade para padrões mundiais.

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Até recentemente, morar em Jaraguá e ser conhecido como funcionário de uma de suas maiores empresas era motivo de orgulho. Ainda é assim. Não que tudo isso tenha desaparecido. Claro que não. A construção de identidades e de prestígio demora anos e anos e não morre de uma hora para outra.

O que acontece, então, que suas lideranças políticas e empresariais – e boa parcela da população – andam com o olhar baixo, a testa franzida, o passo mais lento, o coração palpitando e com as mãos no bolso? Acontece lá o que também acontece em muitas cidades de perfil econômico centrado na indústria: a forte retração dos negócios, que, com os seus efeitos, começa a abalar convicções velhas e a remover certezas anteriormente inabaláveis.

Sim, o ambiente econômico ruim tira o sono. Tanto de empresários quanto de seus trabalhadores. E das famílias! Todas elas. Os primeiros porque têm de agir para evitar um dano irreparável aos empreendimentos. Os outros porque, fragilizados diante do imponderável, contêm sonhos para não viverem pesadelos. Há quem enxergue nas palavras um tom exagerado.

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Alguns dirão que o texto expressa mau humor. Outros vão notar um quê de pessimismo. Outro grupo de leitores compreenderá: a reflexão é apenas baseada em situações do cotidiano empresarial e de vivências de seus personagens. Afinal, tanto discurso sem nenhum embasamento? Calma! Vamos aos fatos. Alguns deles são simplesmente basilares, a explicar os parágrafos acima.

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Recolho subsídios junto ao vice-presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Célio Bayer. Eis o que conta o líder empresarial do Vale do Itapocu:

– A Malwee demitiu 250 trabalhadores nesta semana. A mesma Malwee fechou duas fábricas nos últimos quatro meses: uma no Vale do Itajaí e outra, a unidade LMG, que era conhecida como Carinhoso, que funcionava às margens da BR-280. Agora, além das dispensas realizadas nestes últimos dias, algo perto de 10% do total de seus trabalhadores, a empresa assina um acordo com o sindicato laboral para redução de jornada e de salários. Justamente para tentar evitar mais demissões.

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A poderosa WEG adotou a mesma estratégia, de redução de salários e de jornada para tentar minimizar os estragos da crise. E a tradicional Metalúrgica Menegotti pediu recuperação judicial. Bayer explica a situação e revela a gravidade:

– A economia de Jaraguá do Sul está estagnada, ou melhor, em baixa. Praticamente todas as grandes companhias negociam e/ou estão no modelo de jornada e salários menores. A indústria sofre muito. Aquelas que trabalham junto aos setores automotivo, de construção civil e de energia são atingidas porque, na ponta de lá, a inadimplência das empresas é significativa. No caso do ramo da energia, os clientes adiam investimentos e postergam assinatura de contratos. Isso tem consequências no aumento dos estoques e na diminuição de capital de giro das companhias jaraguaenses e da região. Natural, então, que os fabricantes de bens de capital reduzam seus investimentos.

Há variadas causas para esse quadro ruim. Uma delas, cantada em verso e prosa há mais de 18 meses, é a descrença nos governantes. A retomada na confiança é pressuposto básico para o bom humor, a volta dos investimentos, dos empregos, do padrão de renda e do nível de compras. Enquanto os escândalos políticos envolvendo corrupção dos grandes e poderosos, em Brasília e em outras cidades, tomam conta dos noticiários, e das mentes das pessoas, a apreensão empresarial, aqui na planície, continua grande. E crescente.

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O cenário interno preocupa muito. Não é por acaso que empresas de Jaraguá – e não só de Jaraguá – fazem, ou pensam em fazer, novos investimentos fora do Brasil.

– O Paraguai é um destino novo para a expansão das atividades das nossas empresas. Principalmente as têxteis, mas igualmente as metalmecânicas observam as vantagens concedidas pelo governo do país vizinho e se instalam por lá – diz.

Outro efeito óbvio dessa realidade surge na diminuição das vendas no comércio local. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Jaraguá do Sul, Marcelo Nasato, confirma:

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– O comércio vem se arrastando. Levantamento feito mostra que pelo menos 60% dos associados venderam, nos cinco primeiros meses deste ano, menos do que no ano passado. Só em junho, a entidade perdeu 20 filiados. O número não é enorme, pois a CDL tem 1.400 associados. Mas dos 20 que saíram, oito simplesmente fecharam as portas.

O empobrecimento já é um dado visível. Claro, não só Jaraguá embarca neste cano; é algo mais profundo e generalizado. A ponto de o comércio local fazer campanha para chamar a população para realizarem compras localmente. Comprar, sim, mas com responsabilidade. O contraponto a este esforço da CDL vem das indústrias.

Sabedoras dos problemas em curso, e de posse de dados e informações estratégicas, pedem para os seus trabalhadores evitarem gastar mais do que o indispensável. Prudência necessária. Pois é. O freio de mão foi puxado. Ainda há um bom caminho a ser percorrido para sair do ponto morto, ligar o motor e acelerar. Que não demore!

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