*Por Matt Apuzzo e Monika Pronczuk
Em um apartamento no Queens, em Nova York, um garçom demitido não sabe se conseguirá pagar o aluguel do mês que vem ou alimentar sua família. Uma garçonete desempregada em Amsterdã, no entanto, pode contar com o governo para cobrir 90 por cento de seu salário. Enquanto uma florista malaia gasta ansiosamente suas economias, os donos de café em Bruxelas recebem cerca de US$ 4.300 para compensar a perda de receita.
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Semanas de demissões e quarentenas deixaram claro que pessoas pobres e da classe trabalhadora suportarão uma parcela desproporcional da dor da pandemia de coronavírus. Em cidades ao redor do mundo, o trabalho parou. As contas, não. E não há um fim à vista. Mas a primeira onda de pacotes de resgate do governo expôs outra realidade: a dor basicamente vai depender de onde as pessoas vivem.
A disparidade reflete não apenas as diferentes redes de segurança do mundo, mas também as visões contrastantes do papel do governo em uma crise. Deveria injetar dinheiro na economia? Salvar empresas? Cobrir a renda perdida dos trabalhadores? Essas perguntas estavam no centro de um prolongado debate sobre o pacote de resgate de quase US$ 2 trilhões que está sendo negociado em Washington.
"Não sei o que vou fazer. Meu Deus", disse José Luis Candia, de 34 anos, que perdeu seus dois empregos em restaurantes de Manhattan. Sua esposa deu à luz sua terceira filha há um mês. Amigos doaram dinheiro para mantimentos. Ele não sabe como vai pagar o aluguel ou o que vai acontecer se não conseguir.
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A meio mundo de distância, em Copenhague, os trabalhadores na situação de Candia enfrentam uma realidade diferente. O governo dinamarquês prometeu cobrir de 75 por cento a 90 por cento dos salários se as empresas não demitirem seus funcionários. Melhor pagar para manter as pessoas empregadas do que pagar pela interrupção causada por demissões em massa e desemprego, declarou o governo.
"Vivo de salário em salário", afirmou Sebastian Lassen, de 25 anos, gerente de uma cafeteria em Copenhague. Ele temia a incerteza, acrescentou, mas nunca considerou que o governo permitiria que tantos trabalhadores caíssem na pobreza. "Não chegamos a pensar que 'o.k., talvez estejamos na rua'", contou ele.
Os Países Baixos pagarão até 90 por cento dos salários para as empresas atingidas pela pandemia, com provisões extras sendo desenvolvidas para restaurantes. "Todos aqui acreditam que o governo assumirá a responsabilidade pela situação, e acredito nisso também", disse Athina Ainali, garçonete de 25 anos de um dos muitos restaurantes fechados de Amsterdã.

"O que distingue os Estados Unidos de outros países não é a natureza dos resgates. É a estrutura subjacente. As pessoas são mais vulneráveis, mesmo em tempos normais. Você joga um choque como esse no sistema? Não poderia ficar pior", disse Carol Graham, bolsista sênior da Brookings Institution, que estuda redes de segurança.
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Os trabalhadores americanos enfrentam ansiedade extra em relação aos custos médicos. Os Estados Unidos, ao contrário da maioria do mundo desenvolvido, não garantem cuidados de saúde.
Embora países como a Dinamarca tenham redes de segurança famosamente robustas, até mesmo o governo conservador britânico adotou, após anos de austeridade, uma abordagem semelhante. "Pela primeira vez em nossa história, o governo vai intervir e pagar os salários das pessoas", afirmou recentemente o chanceler britânico do Tesouro, Rishi Sunak. O plano, que ainda está sendo desenvolvido, pagará até cerca de US$ 2.900 por mês aos trabalhadores que perderam horas de trabalho, mas que não foram demitidos.
O governo de centro-direita na Alemanha gastará mais de US$ 40 bilhões para ajudar as pequenas empresas a cobrir as necessidades básicas para se manterem à tona durante a crise. Isso se soma a um programa voltado para empresas maiores, chamado "kurzarbeit", ou "trabalho de curto prazo", que cobre salários perdidos dos funcionários que foram enviados para casa, para evitar despedi-los. Os economistas esperam que cerca de dois milhões de trabalhadores recebam ajuda no âmbito do programa, mais do que durante a crise financeira de uma década atrás.

Mesmo com a pressa de salvar empregos, a incerteza permanece. O plano britânico pode vir tarde demais para os trabalhadores que já foram demitidos. Se não conseguirem encontrar empregos em breve, provavelmente cairão no sistema de seguridade do país, que pode pagar apenas US$ 300 por mês. "Não sei o que fazer", disse Delphine Thomas, de 20 anos, que foi demitida de um cinema em Liverpool.
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O programa de retenção de funcionários da Coreia do Sul cobre 70 por cento dos salários ou mais, e o governo recentemente afrouxou as regras para tornar mais empresas elegíveis. Mas trabalhadores de meio período, terceirizados e autônomos recebem menos proteções. Alguns podem ser elegíveis a pagamentos únicos em dinheiro. Os defensores do trabalho querem que esses trabalhadores tenham os mesmos benefícios que os empregados em tempo integral.
Os empresários também enfrentam apoio desigual, dependendo do país. Elias Calcoen e seu parceiro abriram um café em Bruxelas há oito meses. Ele está fechado há mais de uma semana, mas o governo da cidade está oferecendo às pequenas empresas pagamentos imediatos de US$ 4.300, mais US$ 1.300 por mês em ajuda federal para trabalhadores autônomos parados.

"Não temos filhos, estamos em boa saúde, e o governo belga não nos deixou sozinhos. Há muitas pessoas que estão em uma posição muito pior", ponderou Calcoen.
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